Evento busca aumentar a presença feminina na indústria brasileira de games

A Women Game Jam Brazil é uma oportunidade para desenvolvedoras se juntarem e criarem uma comunidade; hoje, elas são maioria entre os jogadores, mas minoria na força de trabalho

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Por Felipe Laurence
Atualização:
Gabrielle Saunitti acredita que há formas de superar o machismo no mundo dos games Foto: Leo Martins/Estadão

Se há algum tempo atrás, videogame era considerado (de forma errada) “coisa de homem”, hoje já não é bem assim: as mulheres são maioria entre os jogadores do País – segundo a Pesquisa Game Brasil, divulgada em maio, elas já são 58,9% dos fãs de games da população, um número que cresce ano a ano. Agora, porém, elas também querem ser reconhecidas na indústria brasileira de games. Nesta semana, entre os dias 2 e 4 de novembro, acontece em nove cidades brasileiras a segunda edição do Women Game Jam Brazil (WGJB).

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No evento, mulheres vão se reunir para criarem jogos em 48 horas, em forma de maratona. “Nós queremos trazer visibilidade para as mulheres, sabemos que tem muita mulher que trabalha com jogo, mas elas não se conhecem, não conversam entre si, não existe uma comunidade tão grande”, explica Nayara Brito, uma das organizadoras do WGJB. “A ideia do evento é fortalecer essa comunidade pra ela crescer cada vez mais.”

Segundo o 2º Censo da Indústria Brasileira de Jogos Digitais, realizado pelo Ministério da Cultura em 2018, hoje as desenvolvedoras são apenas 20,7% da força de trabalho da indústria brasileira de games. É um número três vezes maior na comparação com a primeira edição do censo, realizada em 2014, mas ainda bem abaixo de outras carreiras na tecnologia.

Uma game jam – ou maratona de desenvolvimento de jogos, em um termo mais… formal – normalmente tem a duração de 48 horas. Os participantes costumam se dividem em grupos para a elaboração de jogos do zero, a partir de um tema revelado no início do evento. A maioria das jams são mistas – o que, para Nayara, pode gerar um ambiente hostil para meninas que nunca participaram de um evento do tipo. “Ficar em um ambiente com pessoas que você não conhece por 48 horas é é um pouco intimidador para a maioria das mulheres”, lamenta. “Há muitas que preferem não participar por medo do que pode acontecer.”

A designer Gabrielle Saunitti, que participou da primeira edição da WGJB, já se sentiu desconfortável em uma jam mista quando foi perseguida por outro desenvolvedor. “Foi muito desconfortável para mim e para as outras meninas que também sofreram com isso”, conta. Para ela, uma jam só para mulheres é uma experiência boa para a comunidade.

Preconceito. As desenvolvedoras entrevistadas pelo Estado relatam que não existem casos de assédio graves na indústria brasileira – ao menos, não como os que ocorreram na empresa norte-americana Riot Games, desenvolvedora do popular League of Legends, no início deste ano. No entanto, são vários os casos de atitudes por parte de homens que causam desconforto em mulheres no ambiente de trabalho.

“A maior parte dos caras gosta de pensar que é tranquilo, mas há muita condescêndencia. No fundo a maior parte do machismo está em pequenas atitudes, mas ainda assim a ideia é nos colocar em nosso lugar”, lamenta a desenvolvedora Thais Weiller, da Joymasher – produtora conhecida por jogos como Blazing Chrome e Oniken. “Vejo que muitas meninas não conseguem nem ingressar no mercado de trabalho porque, querendo ou não, é um mercado bastante preconceituoso”, fala Gabrielle.

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Para Thais, espaços como a WGJB são portas importantes para o mercado de trabalho. “Quanto mais espaços seguros tivermos para afirmar nossa existência, melhor”, afirma. “É uma mensagem especialmente importante para as meninas mais novas.”

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