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'Fãs querem jogos maiores em realidade virtual', diz executivo do HTC Vive

Responsável por conteúdo do óculos de realidade virtual da fabricante taiwanesa, Joel Breton acredita que jogadores vão escolher entre ‘lanche ou refeição completa’. 

Por Bruno Capelas
Atualização:
 Foto: Reuters

Uma das principais tendências da tecnologia em 2016, a realidade virtual pode ser uma experiência de duração curta: não porque não tenha potencial, mas porque é difícil ficar com óculos de realidade virtual na cara por mais que meia hora sem começar a ficar tonto ou sentir o cérebro "fritar". Até agora, isso fez com que jogos mais simples, de partidas rápidas, fossem desenvolvidos para plataformas como Oculus Rift e HTC Vive. “No entanto, os fãs já mostraram para nós que eles querem jogos maiores em realidade virtual”, diz Joel Breton, vice-presidente global de conteúdo do HTC Vive. “Os jogadores vão poder escolher ter um lanche rápido ou uma refeição completa – e acredito que eles vão querer as duas coisas”. 

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A primeira aposta da HTC nesse sentido já foi dada no mês passado, quando a empresa anunciou durante a feira de games E3 que o game Fallout 4 terá uma versão exclusiva em realidade virtual para o HTC Vive em 2017. O único problema? É que toda a história de do jogo leva pelo menos cerca de 25 horas para ser terminada, fazendo muita gente se perguntar quantos meses alguém precisaria para encerrar a partida com os óculos de realidade virtual na cabeça. Para Breton, no entanto, isso não é um empecilho. “Uma das grandes vantagens de jogos maiores é que você pode salvar sua partida e continuar de onde parou”, brinca o executivo. 

Breton, responsável por captar novos jogos e experiências para o ecossistema de realidade virtual da taiwanesa HTC, veio a São Paulo na última semana para conhecer desenvolvedores brasileiros durante a quarta edição do BIG Festival, maior festival de games independentes da América Latina. 

 Foto: Divulgação

“Os jogos feitos no Brasil têm artes muito bonitas. Deve vir da cultura de vocês, dos grafites nas ruas e dos desenhos que vocês assistiam quando eram crianças. É um grande diferencial”, diz ele, sobre o potencial dos jogos brasileiros. Em entrevista ao Estado, Breton garantiu que a empresa está trabalhando para lançar o HTC Vive por aqui – o que também pode incentivar o desenvolvimento local de experiências em realidade virtual. 

Na entrevista a seguir, Breton fala mais sobre a importância de ter bons jogos e experiências em realidade virtual para fazer a tecnologia emplacar e discute a diferença entre jogos “pequenos” e “grandes” nos óculos. Além disso, ele comenta sobre seus principais competidores – Oculus Rift e PlayStation VR, que têm preços mais acessíveis que o HTC Vive, vendido nos Estados Unidos a US$ 799, contra US$ 599 e US$ 399 dos concorrentes, respectivamente. “A competição é ótima: é melhor do que ser uma empresa única tentando mostrar uma tecnologia sozinha”, avalia.

Na última E3, as fabricantes de realidade virtual se preocuparam mais com jogos do que com especificações técnicas. Por que o conteúdo é importante em VR? Joel Breton: Sem conteúdo, um óculos é só uma plataforma tecnológica com um visual bacana. Com o conteúdo, você pode fazer qualquer coisa: pode lutar na Revolução Americana, conhecer dinossauros ou conhecer o futuro. O poder está no seu cérebro. Não dá para acreditar na realidade virtual até utilizá-la – e é por isso que fazemos parcerias com lojas para criar estações de testes. 

O que os brasileiros podem trazer de diferente para realidade virtual?  Vi coisas bacanas aqui. Há um estúdio da Amazônia, o Black River Studios, que criou um jogo muito bacana sobre monstrinhos que você tem que fotografar. É um jogo com visual muito bonito e quero trazê-lo para o Vive. Os jogos feitos no Brasil têm artes muito bonitas. Deve vir da cultura de vocês, dos grafites nas ruas e dos desenhos que vocês assistiam quando eram crianças. É um grande diferencial.

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Você trabalhou como “olheiro” em outras empresas antes da HTC. Qual é a diferença entre escolher um jogo “para TV” e um jogo para realidade virtual?  A grande vantagem é que um jogo de realidade virtual pode se dar ao luxo de ser um pioneiro, sem se preocupar com a competição, como existe em jogos para celulares e PCs. Toda semana, milhares de jogos para celulares são lançados. Na realidade virtual, ainda há muito poucos, com liberdade para criar diferentes gêneros e estilos. O mercado móvel é um “oceano vermelho”, com todo mundo lutando e muito sangue. O mercado de realidade virtual é um oceano azul, calmo: você pode nadar sozinho e achar seu espaço. 

A Bethesda anunciou que Fallout 4 estará no HTC Vive ano que vem. Como vai ser isso? Como é dosar um jogo grande como Fallout 4 para um dispositivo que se pode usar por sessões de no máximo meia hora?  A coisa mais legal sobre Fallout 4 é que ele é um jogo que permite salvar. Dá para dividir em várias sessões. Pessoalmente, consigo jogar com os óculos por uma ou duas horas. Ainda assim, é menos tempo do que a maioria das pessoas costuma ficar em seus sofás jogando com um videogame “tradicional”. Sabemos que a maior parte do conteúdo de realidade virtual está dedicada a pequenas jornadas de jogo, mas os fãs já mostraram para nós que eles querem jogos maiores na realidade virtual. Você pode escolher ter um lanche rápido ou uma refeição completa – e e acredito que eles vão querer as duas coisas. Meu objetivo é dar a eles o poder de escolha se querem algo casual ou se preferem usar a imersão para coisas grandes. 

Todo gênero de games funciona bem com realidade virtual? Não. Nosso maior desafio hoje é com movimentos bruscos: se a câmera se mexe muito rápido, podemos causar enjoo nos jogadores. Jogos de corrida são bem problemáticos par anós nesse sentido – mas imagino que, superada a “primeira fase” da realidade virtual, vamos encontrar soluções para isso. 

Há muito ceticismo quanto ao mercado de realidade virtual. Muita gente diz que 2016 é o ano da realidade virtual, mas há quem duvide do potencial da tecnologia. Como você vai se sentir bem sucedido com seu trabalho em um ano ou dois?  Na HTC, olhamos para a realidade virtual como um mercado de um século. Nesse horizonte, considerando a realidade virtual como o próximo passo de plataformas computacionais e ficamos mais tranquilos com prazos curtos. Não temos a pressão de vender muito no primeiro ano e, caso não dê certo, achar que falhamos. Vamos continuar atualizando a plataforma. Enquanto isso, o mercado amadurece, o que vai tornar mais barato e mais fácil de fazer bons óculos de realidade virtual. O custo vai cair, e por outro lado, e as funcionalidades e a imersão vão só se intensificar. Com essa combinação, imaginamos que teremos algo mais acessível ao mercado nos próximos anos. 2016 e 2017 são anos para os nossos early adopters. Ainda estamos no começo de tudo. 

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Você considera PSVR e Oculus como rivais? Já testou seus dispositivos?  Já. A competição é ótima: é melhor do que ser uma empresa única no mercado. Esperamos que os nossos rivais tenham sucesso com seus negócios: assim seremos capazes de mostrar um ecossistema e depois lutar por espaço nele. Espero que o PlayStation VR consiga fazer um bom aparelho com as especificações inferiores que eles já divulgaram, porque a primeira experiência das pessoas com realidade virtual vai contar muito para o sucesso da plataforma. Precisamos convencer as pessoas que realidade virtual é bacana. 

O HTC Vive é hoje o mais caro dos três aparelhos “premium” já anunciados no mercado. Como vocês lidam com isso?  Sentimos que precisávamos ter mais imersão. Poderíamos ter lançado um kit mais simples, sem os controles de movimento e as câmeras que fazem a captação de gestos, mas precisávamos fazer as coisas direito. Queríamos entregar o pacote inteiro, de uma vez. Ele é mais caro, mas se você adicionar os controles para as outras plataformas, o preço vai se tornar parecido com o nosso. 

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