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Hue cria um mundo colorido e dá nova vida a games de plataforma

Grata surpresa, jogo tem proposta simples que acaba arejando um gênero comumente ignorado pelas grandes produtoras

Por André Cáceres
Atualização:
Com gráficos simples e jogo de cores, Hue aposta em quebras-cabeça para entreter o jogador 

A paleta de cores nunca foi um elemento tão importante para um game como em Hue. Desenvolvido pelo estúdio independente Fiddlesticks Games, o jogo disponível para PlayStation 4, Xbox One e PC é calcado em um conceito que é, ao mesmo tempo, ingênuo de tão simples e engenhosamente inovador. No jogo, o protagonista – também chamado de Hue – é um garoto em busca de sua mãe, e para encontrá-la terá de usar um anel mágico que permite o personagem alterar livremente a cor do plano de fundo da tela do cenário. Hue começa sem essa habilidade, e vai adquirindo novas cores enquanto progride. A premissa principal por trás de todos os desafios do jogo é que os objetos de determinada cor desaparecem quando essa coloração é a escolhida para o cenário. É possível, por exemplo, atravessar paredes vermelhas quando o fundo está vermelho. Os objetos não apenas somem, mas deixam de interagir com os outros, como se não existissem. Ou seja, uma caixa sobre um botão para de pressioná-lo, ou uma parede que esteja refletindo um laser passa a permitir a passagem. Isso abre espaço para a criatividade dos desenvolvedores bolar fases bastante engenhosas. Esse conceito é intuitivo, mas o jogo vai tornando as soluções mais complexas à medida que mais cores ficam disponíveis. Há oito pigmentos no total (os sete tons do arco-íris, mais o cor-de-rosa), e a parte final do game conta com quebra-cabeças que, embora não deixem o jogador matutando por horas a fio, divertem e esbanjam qualidade no design dos ambientes. Ao final de cada área, após resolver o puzzle proposto para avançar, o jogador ganha acesso a uma porta que o leva para outra fase.

Roda de cores que muda o cenário do jogo pode ser acessada com o botão analógico direcional direito (o R3, no PlayStation e no Xbox One) 

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Alguns desafios são menos ativos e requerem raciocínio lógico, enquanto outras situações demandam boas doses de agilidade para manipular as cores em meio a saltos por sobre precipícios e obstáculos como armadilhas. Somados à ideia principal do jogo, todos os elementos clássicos dos títulos de plataforma, como Super Mario, Sonic e Mega Man, marcam presença em Hue, pois a progressão do personagem é lateral e os gráficos são 2D. 

A arte do game lembra outro jogo independente do mesmo gênero, Limbo, no começo, pois os cenários são cinzentos antes de o jogador ser capaz de usar as cores a seu favor. (Vale até fazer a piada: Hue é o Limbo “colorido”). Por sua jogabilidade simples – que não necessita que o jogador domine um controle como um expert –, Hue também é uma ótima dica para novatos nos games. 

A história é revelada aos poucos por meio de cartas da mãe de Hue encontradas durante o percurso das fases, que são bem lineares e oferecem apenas um tímido espaço para a exploração e busca por itens colecionáveis. O que move o jogador para a fase seguinte são os quebra-cabeças cada vez mais intrincados, e não a trama emotiva e rasa que se delineia entre Hue, sua mãe (que desenvolveu o dispositivo usado pelo protagonista para manipular as cores) e o misterioso Dr. Grey, vilão que é mencionado nas correspondências e faz algumas aparições ao longo do jogo. Se Hue consegue divertir e se manter atraente durante um bom tempo, acaba pecando por deixar um gostinho de “quero mais”: o jogo tem cerca de cinco a seis horas de duração – e nada mais. No início da aventura, o garoto encontra alguns personagens com problemas e os ajuda enquanto avança, mas, embora tivessem potencial, as histórias dos coadjuvantes não são desenvolvidas mais profundamente.

História do jogo não é bem aproveitada pela jogabilidade 

O jogo tem um modo para daltônicos, que estampa símbolos diferentes para identificar cada cor. No entanto, o trunfo de Hue talvez seja também seu calcanhar de Aquiles: as cores. Manipuladas por meio de um círculo controlado pelo analógico direito, algumas cores como o laranja e o amarelo ou o roxo e o rosa se confundem em alguns quebra-cabeças, atrapalhando o jogador e causando alguns momentos frustrantes pelo caminho. Outra frustração é o nível de exigência de alguns puzzles – um passo em falso pode acabar com minutos e minutos de esforço. Nada que tire o brilho do game, no entanto – especialmente pelo tamanho do estúdio e pelo frescor de suas ideias. 

Vale a pena? Quem sente falta de jogos do gênero de plataforma vai encontrar em Hue um oásis de originalidade – e homenagem a clássicos jogos nos quais a Fiddlesticks Games se inspirou. Muito do potencial do game é desperdiçado por sua duração curta, mas isso não deve afastar os gamers ávidos por solucionar puzzles. Hue poderia trazer uma experiência mais duradoura, mas o pouco que oferece é saboroso o suficiente para deixá-lo no radar tanto dos jogadores mais experientes quanto dos casuais.

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