Link Lab: 'Overwatch' eleva o padrão para games de tiro online

Visual colorido, variedade de personagens e estratégias de combate fazem do novo jogo da Blizzard um marco para batalhar na internet

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Por Bruno Capelas
Atualização:
A britânica Tracer é um dos personagens mais interessantes do novo jogo da Blizzard Foto: Divulgação|Blizzard

Os fãs mais apaixonados do gênero podem não concordar, mas há uma vertente bastante forte entre os gamers que diz que “jogo de tiro é tudo igual”. Dois times, um mapa cheio de variedades e um bocado de sangue para cada lado… certo? Não necessariamente. Desde o final de maio, os aficionados por batalhas online ganharam um novo argumento para desfazer esse mito. Trata-se de Overwatch, a primeira franquia original da Blizzard em nada menos que 18 anos. Situado em um mundo futurista bastante colorido, Overwatch tem o raro dom que poucos jogos têm: ao unir elementos já presentes em sucessos anteriores, mudar e elevar o padrão para todo um gênero. Isso se torna ainda mais especial quando se trata de um dos estilos mais populares das jogatinas pelo mundo: tiro em primeira pessoa (FPS, na sigla em inglês).

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Desenvolvido ao longo dos últimos três anos, Overwatch é, em essência, um jogo em que times de seis contra seis jogadores têm de batalhar por um objetivo em comum. Ao todo, são três modos de jogo diferentes: ataque e defesa de territórios (um time só ataca, o outro só defende); recompensa (no qual o time atacante deve levar um tesouro de um ponto A a um ponto B do mapa) e território comum (no qual os dois times devem batalhar pelo controle de um ponto específico do mapa e, após controlá-lo, manter a posse daquele espaço, em sistema de melhor de três partidas). Até aí, tudo muito parecido com os jogos de tiro habituais que fazem a cabeça de muita gente – como Call of Duty, Battlefield e Counter-Strike.

O cenário, no entanto, começa a mudar quando Overwatch apresenta seus personagens: ao todo, são 21 combatentes, todos membros de uma antiga força de defesa e pacificação das Nações Unidas, hoje desativada. O nome da força, claro, é Overwatch, e o mote do jogo consiste em que alguns membros da organização querem voltar aos campos de batalha, enquanto outros não. E é aí que reside uma das grandes forças do game da Blizzard: apesar de estarem agrupados em quatro grandes grupos (ataque, defesa, suporte e tanque), os lutadores não poderiam ser mais diferentes – uma característica emprestada de Team Fortress 2, da Valve, mas melhor explorada aqui. Confira um trailer do jogo abaixo:

É o que acontece, por exemplo, com Soldado: 76 e Reaper, dois lutadores de ataque: o primeiro é um atirador de elite, com pontaria de longa distância muito bem calibrada e capacidade para curar seus companheiros; já o segundo é praticamente imbatível no combate próximo. Outro bom exemplo: o macaco Winston é um tanque com ótimas habilidades de defesa; já a coreana D.Va, que também é um tanque, pode se tornar uma ótima peça de ataque em muitas estratégias. O mais legal de tudo? É possível trocar de herói no meio da partida, o que é um ótimo convite à experimentação, especialmente para quem não está acostumado a trocar tiros online.

Foi o meu caso: costumo passar longe das arenas virtuais de Call of Duty porque sempre que tento entrar numa delas, mais morro do que efetivamente consigo jogar – até pela alta competitividade presente nesses espaços. Em Overwatch, a variedade de personagens, estratégias e modos de jogo me fez sentir à vontade para testar novas possibilidades e encontrar lutadores com os quais me identifico. Mais do que isso: com seus diferentes mapas e um sistema de pontuação e experiência que premia não só quem mais mata, mas também “quem mais cura” e “quem mais contribui para os objetivos do jogo”, a Blizzard faz um ótimo aceno para mostrar que, às vezes, jogadores de defesa ou de suporte são tão importantes quanto um bom atirador para se chegar á vitória – especialmente quando há coesão estratégica dentro de um time. (Além disso, trata-se aqui de um ótimo aceno para o mundo competitivo de eSports, e, especialmente, aos dos MOBAs como League of Legends e Dota 2!)

Tratando-se de um game online, muitas vezes com times escolhidos espontaneamente e na hora, nem sempre é fácil estabelecer essa estratégia de grupo – por diversas vezes, meu time perdeu um mapa porque todos os jogadores cismaram de ser atacantes e não sobrou ninguém pra defender. É como se um time da pelada da várzea resolvesse ter quatro “camisas 10” e ninguém no gol. No entanto, até nisso o jogo da Blizzard funciona bem: depois de uma ou duas derrotas acachapantes, é fácil perceber como a maioria dos jogadores entende a “responsabilidade” de, de vez em quando, ser um zagueiro ou um meia de criação, atuando para que os outros jogadores possam brilhar. 

Apesar de ser um jogo de tiro, Overwatch tem pouco sangue e muito visual colorido Foto: Divulgação|Blizzard

É claro que ainda há problemas, no entanto, na execução de Overwatch: alguns personagens ainda têm habilidades muito desbalanceadas em relação a outros – a própria equipe do game já admitiu a vantagem, por exemplo, que o cowboy McCree tem em relação a outros lutadores – e, em alguns momentos, foi difícil encontrar parceiros para partidas (o teste do Link foi executado na versão de Xbox One do game). Apesar do tempo estimado para encontrar um time ser de cerca de um minuto na maioria das partidas, não foram poucas as vezes em que esperei quatro, cinco ou até seis minutos para poder trocar tiros. 

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No entanto, vale dizer: como um bom jogo online, é difícil pensar em Overwatch como um pacote fechado; talvez seria melhor descrevê-lo como um “software como serviço”, pegando emprestado um conceito do mundo corporativo. Seja no caso do equilíbrio, ou no caso do “matchmaking” (nome dado à função que encontra jogadores para uma partida), as evoluções já sinalizadas devem acontecer em breve, deixando de ser um grande problema. Outra questão interessante é ver como vai acontecer o modo competitivo, que promete ranquear os jogadores de Overwatch nas partidas jogadas a partir de julho.

Além disso, é de se destacar a graça da Blizzard em atender bem o público brasileiro: com servidores locais e uma dublagem divertidíssima (especialmente quando descamba para um ou outro palavrão hilário), Overwatch ganhou um sabor local que vai muito além do figurino verde-amarelo do brasileiro Lucio, um dos personagens mais instigantes (em jogabilidade) do game. Por falar em Lucio, a ambientação dos mapas e dos personagens “étnicos” do game também é um de seus trunfos, utilizando os estereótipos de maneira positiva – especialmente na questão de gênero, com personagens femininas que saem muito bem do padrão “corpo esculpido à perfeição para agradar o público masculino”. (Repare, por exemplo, em Zarya, ou na chinesa Mei). 

O DJ carioca Lucio é o representante brasileiro em Overwatch Foto: Divulgação|Blizzard

Vale a pena? Sim! Overwatch é, até aqui, um dos grandes games de 2016. Ao pegar um formato comercial e amplamente difundido – os jogos de tiro online – e ampliar sua profundidade com personagens variados e cheios de potencial estratégico, a Blizzard faz o que muitos tentam, mas poucos conseguem de fato: criar um game acessível para a massa, mas com complexidade o suficiente para entreter jogadores por muitas e muitas horas. Seja você um veterano do mundo online ou um atirador de primeira viagem, pode se preparar para se alistar nas forças de Overwatch

OverwatchDesenvolvedora: BlizzardPublisher: BlizzardPlataformas: PS4, Xbox One e PCPreço: R$ 160 (PC), R$ 250 (consoles)Já disponível no Brasil

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