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Mercado brasileiro de games tem queda de 17,7% em 2015

Crise, dólar alto e transição de gerações fazem setor ter sua primeira retração desde 2011; faturamento com consoles e jogos foi de R$ 2,2 bilhões

Por Bruno Capelas
Atualização:

Sérgio Castro/Estadão

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Os fãs de videogames não podem ter reclamado de 2015 – um ano que teve lançamentos como The Witcher 3: Wild Hunt, Metal Gear Solid V: The Phantom Pain, FIFA 16 e Call of Duty: Black Ops III. No entanto, o cenário para a indústria é bem diferente: pela primeira vez desde 2011, o mercado brasileiro de videogames teve 17,7% de queda nas vendas de consoles e jogos ao longo de 2015, segundo dados da consultoria GfK.

Em levantamento lançado nesta quinta-feira, 25, a consultoria aponta que o mercado brasileiro faturou R$ 2,2 bilhões em 2015 – cerca de 7% da menos que em 2014, quando as receitas atingiram a casa de R$ 2,35 bilhões. Desde 2011, a GfK monitora as vendas em lojas de varejo físicas e online, o que representa a maior parte do mercado brasileiro de games. Contudo, a empresa não mede as vendas de games para PC, jogos para dispositivos móveis e jogos disponíveis na loja virtual dos consoles, como a Xbox Live e a PS Store.

Leia também:No melhor cenário, mercado de games brasileiro vai empatar com 2014Jogos brasileiros chegam aos consoles

Transição. Para Oliver Roemerscheidt, diretor de tecnologia da GfK, três fatores explicam o cenário ruim: crise econômica, aumento do dólar e a transição entre gerações de consoles. Lançados no final de 2013, PlayStation 4 e Xbox One ainda não tomaram a dianteira do mercado nacional contra seus antecessores (PS3 e Xbox 360, respectivamente), mesmo com a fabricação nacional dos dois consoles. O Xbox, da Microsoft, é montado em Manaus desde 2013 e custa R$ 2,5 mil, mas o PlayStation 4, da Sony, só ganhou “coração verde-amarelo” em outubro, quando começou a ser vendido por R$ 2,6 mil (contra os R$ 4 mil da versão “importada”).

“A nova geração de consoles teve um crescimento de 106% nas vendas de aparelhos e 129% nas vendas de jogos. São valores acentuados, mas que não conseguiram compensar a queda na geração anterior”, diz Roemerscheidt. “As camadas da sociedade que não sofrem com a crise comprara a nova geração, enquanto quem está com o bolso mais curto não comprou nada da geração anterior”, explica o analista, que diz que o início da fabricação nacional do PlayStation 4 ajudou a nova geração a se impor no País. “Ninguém comprava PS4 a R$ 4 mil – quem tinha o console no Brasil trazia de fora ou adquiria pelo mercado cinza”.

Outro fator que freia o consumo de consoles e jogos da geração anterior é a falta de novos lançamentos para PlayStation 3 e Xbox 360 – boa parte dos games que chegaram ao mercado nos últimos meses têm apenas versões para PS4, Xbox One e PC. “Isso faz com que a nova geração já tenha um peso importante: na Black Friday, 60% dos consoles vendidos foram da geração atual”, comenta o diretor da GfK.

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Ao longo de 2015, os consoles de nova geração respondeu por 47% das unidades vendidas no País – segundo a consultoria, cerca de 950 mil videogames foram comercializados no território nacional no ano passado, com faturamento total de R$ 1,2 bilhão. Para o analista, a saída da Nintendo, que deixou de operar no Brasil em janeiro de 2015, não foi responsável pela queda nas vendas. “O Wii e o Wii U já tinham participação pouco expressiva em 2014, ficando à margem do mercado.”

Caixinhas. O setor de jogos para consoles teve R$ 1 bilhão em vendas, com aproximadamente 10 milhões de unidades comercializadas. “Normalmente, o software fatura mais que o hardware, mas 2015 foi um ano de transição de gerações – quem comprou um novo console não teve muito dinheiro para adquirir jogos”.

Outro fator que impactou a venda de títulos ao longo do ano foi a alta do dólar, que levou algumas empresas a subirem os preços de seus lançamentos da tradicional faixa de R$ 200 para perto dos R$ 250 – caso de FIFA 16, da EA, e de Mortal Kombat X, da Warner. A tendência continua no País: Street Fighter V, da Capcom, chegou ao mercado na última semana por R$ 280 (versão de PS4), enquanto Far Cry Primal, da Ubisoft, saiu nas lojas por R$ 230.

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Além de divulgar dados sobre as vendas, a GfK também divulgou a lista dos jogos mais vendidos do ano no País: Minecraft liderou na preferência dos brasileiros, seguido de perto pelos jogos de futebol – tanto FIFA, da EA (com FIFA 15 e FIFA 16) como Pro Evolution Soccer, da Konami (com PES 2015 e PES 2016) estão no top 10 do ano. Os jogos de esporte são a segunda categoria favorita do brasileiro, com 18% das vendas, ficando atrás apenas dos jogos de ação e aventura, com 44% do mercado.

“Muitos jogos da lista de mais vendidos aparecem nela porque têm preços muito baixos”, diz Roemerscheidt – é o caso de Metal Gear Rising: Revengeance, que saiu em 2013 e podia ser encontrado por cerca de R$ 10 no varejo, ou mesmo de Minecraft, que é vendido por volta de R$ 60.

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Apesar desse cenário, um jogo se destaca: The Witcher 3: Wild Hunt, eleito jogo do ano no Game Awards, foi lançado a R$ 230 em maio do ano passado e aparece em 9º lugar na lista de mais vendidos de 2015, mesmo sendo de um gênero menos popular, o de RPG (role playing game). “É um game que se manteve pela qualidade, e é um caso a ser estudado”, aponta o analista da GfK.

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