O jogo de Donkey Kong, lançado originalmente em 1981, foi o primeiro em que o encanador Mario apareceu
A disputa sobre quem foi o primeiro jogador a fazer um milhão de pontos no clássico jogo de fliperamas Donkey Kong, lançado pela Nintendo nos anos 1980, tem fascinado os jogadores por mais de uma década, desde o lançamento do premiado documentário The King of Kong: A Fistful of Quarters, em 2007. Neste mês, a disputa ganhou uma virada de mesa: depois de uma extensa análise forense, a consultoria Twin Galaxies entregou o título – ou, pelo menos, os direitos presumidos – para Steve Wiebe, o professor de matemática conhecido dos fãs do filme. “Foi uma doce vitória ter isto finalmente reconhecido”, disse Wiebe, 49 anos.
Seu rival no filme, Billy Mitchell, de 52 anos, era o antigo campeão. Mitchell, conhecido por suas poses com polegar para cima e seus vínculos patrióticos, foi retirado dos registros de recordes de jogos pela Twin Galaxies, organização que notifica e reconhece os recordes de jogos em todo o mundo. A organização considerou que Mitchell fraudou sua partida para conseguir resultados maiores.
Na semana passada, ele quebrou o silêncio, chamando a decisão de “estúpida”. O empresário prometeu revidar – claramente, ele vive em um undo em que a frase “é apenas um jogo” não se aplica.
Havia dúvidas a respeito do recorde de Mitchell desde antes do documentário. Mas a investigação para verificar se houve fraudes na peripécia de Mitchell teve início somente no ano passado quando um membro da direção da Twin Galaxies, Jeremy Young, entrou com uma ação afirmando que alguns pontos obtidos por Mitchell foram gerados com o uso de peças modificadas na máquina de Donkey Kong.
Além disso, as gravações dos jogos de Mitchell despertaram preocupações – alguns deles foram reproduzidos por um emulador, e não por uma máquina oficial de fliperama, o que é proibido. Em um emulador – dispositivo ou programa que simula uma máquina de fliperama de verdade –, é possível alterar configurações para melhorar o desempenho do jogador dentro do game.
O jogo em si, lançado em 1981, é uma plataforma em que Mario, hoje personagem principal da Nintendo, tem de saltar por plataformas e escapar de barris que descem por rampas para derrotar Kong, o macaco malvado que sequestrou sua então namorada, Pauline – muito antes da Princesa Peach aparecer. Por conta dos mais de trinta anos que nos separam das máquinas originais, não é algo inusitado que competidores sérios, hoje em dia, tenham máquinas usadas ou reequipadas.
A investigação concluiu que dois dos seus placares considerados recorde, de 2005 e 2007, não foram produzidos com o equipamento original de Donkey Kong. O que significa que Mitchell não é mais reconhecido oficialmente como o primeiro jogador a alcançar um milhão de pontos. A láurea deve ficar com Wiebe, por uma partida que ele disputou em 2006.
“Todos os três placares de Billy Mitchell no jogo Donkey Kong, de mais de um milhão de pontos, vinham sendo questionados por muitas pessoas da comunidade há aproximadamente uma década”, disse o dr. Hank Chien, cirurgião plástico de Nova York que também bateu recorde de pontos no jogo Donkey Kong. “Embora a acusação direta seja de que Billy não jogou num hardware original, a acusação de fato é que os jogos são inteiramente fabricados”.
A Twin Galaxies recrutou pelo menos duas auditorias independentes – uma escolhida por Billy Mitchell – para examinar os jogos utilizando o hardware original. Ninguém conseguiu recriar a renderização dos jogos gravados. Mitchell insiste que sempre cumpriu as regras. “Esta história é muito mais complicada do que você imagina. Eles não entrevistaram nenhuma testemunha. Nenhuma”, afirmou. E também divulgou um vídeo em que prometeu mais provas, observando que a Twin Galaxies não tem os vídeos dos jogos originais.
Ele afirmou que pretende enterrar o caso e voltar a jogar e refazer sua partida. Mas isto provavelmente não importa para o Guinness, que confia nos registros da Twin Galaxies.
O documentário King of Kong retratava Mitchell como um vilão. Para a investigação, a Twin Galaxies fez uma referência cruzada do seu vídeo com o filme do jogo e extras de DVD tirados da gravação. Mitchell disse que os realizadores do filme estavam tentando criar drama. “É um filme. Eu posso mostrar a você dezenas de coisas no filme que são resultado da criatividade de Hollywood”.
Ed Cunningham, um dos produtores do documentário, disse ao The New York Times que “não alteramos o filme e defendemos a precisão e a imparcialidade dele”.
Veja a evolução do Super Mario em mais de três décadas de games
Mais icônico personagem dos games, o encanador bigodudo Mario parece não sentir o peso de seus 36 anos: em 2017, ele está de volta com um de seus melhores jogos desde sempre, Super Mario Odyssey, recém-lançado para o Nintendo Switch. Nele, Mario tem de, mais uma vez, salvar a princesa Peach – mas ela está longe de ser a primeira a ser salva por Mario. Antes mesmo de ter um nome, 36 anos atrás, o ainda anônimo Jumpman resgatou não apenas sua namorada Pauline como também toda a indústria de games. Na época, o mercado norte-americano de jogos eletrônicos havia entrado em crise após sucessivos fiascos da Atari, então maior empresa do ramo no Ocidente, culminando no lançamento de E.T. The Extra-Terrestrial (1982), inspirado no filme de Steven Spielberg, que encalhou nas prateleiras e se tornou uma lenda urbana ao ter milhares de cópias enterradas em um deserto do Novo México. Nesse contexto, o jovem designer Shigeru Miyamoto apostou todas as fichas em uma ideia que mudaria para sempre a história dos games.
A estrela de Donkey Kong (1981) era um gorila enorme que sequestrou uma dama indefesa e com “Kong” em seu nome. A semelhança com o enredo de King Kong chegou a gerar um processo da Universal Studios contra a Nintendo, mas a empresa japonesa venceu a disputa nos tribunais. A mecânica era simples, mas o game se tornou um sucesso imprimindo um estilo de plataforma viciante, em que o bigodudo tinha de saltar barris atirados pelo vilão para alcançar Pauline e prosseguir para a fase seguinte. Esse foi o pontapé inicial para um personagem que começou sem nome e tornou-se praticamente sinônimo de videogame.
Mario ganhou um nome, um irmão e uma profissão apenas dois anos depois debutar como coadjuvante. Em Mario Bros. (1983), os irmãos encanadores Luigi e Mario são encarregados de exterminar os monstros da tubulação do esgoto de Nova York. No mesmo ano, o console Famicom era lançado no Japão, mas levaria dois anos para cruzar o atlântico. Com o nome de Nintendo Entertainment System (NES), revigorou os videogames caseiros, então em vias de entrar em extinção após a crise da Atari. Reanimando a combalida indústria de games, o aparelho teve como carro-chefe no ano de seu lançamento ocidental Super Mario Bros., um clássico instantâneo. O platformer consiste em uma aventura pelo reino dos cogumelos para resgatar a Princesa Peach, sequestrada pelo maligno Bowser.
Após duas sequências no NES, das quais uma só foi lançada no Japão e levou cinco anos para chegar ao ocidente como The Lost Levels, Mario entrou na geração seguinte com Super Mario World (1990), que introduziu inovações como a possibilidade de navegar por um mapa das fases, novas habilidades e a companhia de Yoshi, o dinossauro escudeiro do encanador. Paralelamente aos jogos para Super Nintendo, o encanador estrelou a série Land no Game Boy, chegando aos portáteis pela primeira vez desde a adaptação de Donkey Kong para o obscuro Game & Watch, em 1982. Lançados entre 1989 e 1994, os três jogos dessa série apresentaram um sistema de fases menos linear e o vilão Wario, o primo malvado de Mario.
Com o lançamento do Nintendo 64 em 1996, a Big N mergulhou de cabeça nos gráficos tridimensionais e apresentou ao mundo Super Mario 64, que se aproveita dos polígonos do console para criar um jeito completamente novo de se jogar títulos de plataforma. Além de revolucionar o gênero, o jogo potencializou o que já vinha sendo experimentado no Super Nintendo e fez um mapa totalmente não linear, semeando tendências que seriam levadas a cabo por diversos outros gêneros.
Em um intervalo de uma década, entre Super Mario 64 (1996) e New Super Mario Bros. (2006), apenas um título da série principal do mascote da Nintendo foi lançado. Após o cancelamento de alguns projetos e muitos anos de desenvolvimento, o então conhecido como Super Mario 128 alimentava altas expectativas. Super Mario Sunshine chegou às prateleiras em 2002 para Game Cube e foi um sucesso comercial e de crítica, apesar de se distanciar do antecessor. O jogo tinha vários recursos novos, como um jetpack aquático e novos itens, além de se passar em um cenário mais tropical, a Ilha Delfino.
O Wii trouxe uma boa dose de inovação para a indústria de games e o título do bigodudo para o console fez bonito nesse quesito. Super Mario Galaxy (2007) apresenta todo um universo a ser explorados, com planetas inteiros repletos de puzzles e obstáculos, além de novas mecânicas que envolvem buracos negros, gravidade e o espaço. No ano anterior, New Super Mario Bros. encerrou um longo inverno do personagem nos portáteis e reinventou a vertente 2D da série com gráficos mais modernos. Lançado para o DS em 2006, o game inovou ao trazer habilidades como o Mario gigante e apostou no espírito nostálgico dos platformers bidimensionais, que já haviam praticamente caído em desuso.
Quase duas décadas após o último jogo da série Land, Wario Land (1994), o título retornou no 3DS como o primeiro a oferecer como diferencial os gráficos tridimensionais estereoscópicos do portátil. A série tradicionalmente tinha jogabilidade 2D, mas ganhou uma mudança no gameplay e passou a ser majoritariamente 3D em Super Mario 3D Land (2011). Seguindo a tendência de resgatar séries dos anos 90, a Nintendo lançou em 2013 Super Mario 3D World para o Wii U, investindo na releitura da série World, mas trazendo a jogabilidade e os gráficos para os tempos atuais.
Após tantos anos jogando games do Mario, os fãs já haviam se tornado tão especialistas quanto a própria Nintendo. Seguindo essa premissa, Super Mario Maker (2015), de Wii U, permitiu que qualquer jogador criasse e editasse fases customizadas com ferramentas de desenvolvimento fornecidas pelo jogo e disponibilizasse na nuvem para que outras pessoas experimentassem. É claro que essa liberdade criativa tornou-se fonte de inesgotáveis fases, tornando o fator replay do jogo potencialmente infinito.
Não é de hoje que os celulares se tornaram a principal plataforma móvel de games, mas a consagração de Android e iOS veio com o anúncio de Super Mario Run, que será lançado em dezembro de 2016 para o sistema operacional da Apple e em 2017 para os smartphones Android. O título é o primeiro com progressão lateral desde New Super Mario Bros. U (2012), do Wii U, e se utiliza da jogabilidade dos infinite runners, subgênero de plataforma que já faz sucesso nos celulares em que o jogador controla um protagonista que se move automaticamente e deve desviar de obstáculos.
Cheia de bom-humor, a nova aventura do encanador Mario é o grande jogo que os fãs esperavam desde Super Mario 64, lançado em 1996. Com mundos diferentes entre si (e muito divertidos), quebra-cabeças intuitivos, jogabilidade cheia de mecânicas diferentes e o carisma do encanador bigodudo, é um game para ter em qualquer coleção.
Ambas as vertentes 2D e 3D da série principal de Mario contam com mais de 20 games, mas o ícone dos videogames já apareceu em mais de 200 títulos da Nintendo e de outras empresas e mais de uma centena de jogos levam seu nome. O spin off mais famoso do encanador é Mario Kart, que já conta com oito games desde Super Mario Kart (1992), para Super Nintendo.
Criação da mente insana de Masahiro Sakurai, Super Smash Bros. surgiu em 1999 no Nintendo 64 como um jogo de luta que é um grande crossover entre diversas franquias da Nintendo, e se tornou um verdadeiro tributo aos videogames, repleto de referências e easter eggs para apaixonados por jogos. Uma das características mais emblemáticas da série é o sistema de energia, em que a cada golpe desferido os personagens atingidos aumentam sua porcentagem de dano. Quanto maior esse número, mais longe eles voam ao ser acertados pelos adversários, e só morrem se forem arremessados para fora da tela. As sequências foram Super Smash Bros. Melee, lançado em 2001 para Game Cube; o aguardadíssimo Super Smash Bros. Brawl (2008), para Wii; e, em 2014, Super Smash Bros. para Nintendo 3DS e Wii U.
Embora não seja a aventura mais famosa do encanador, Dr. Mario é o spin off mais antigo da franquia, lançado em 1990 para NES como um jogo de puzzle nos moldes do russo Tetris, em que o personagem encarna um médico que deve erradicar diversos vírus.
A incursão de Mario nos RPGs teve início em 1996 com Super Mario RPG, lançado para Super Nintendo. Em 2000 foi a vez de Paper Mario, jogo de Nintendo 64 que lançou as bases para uma nova série do bigodudo que mescla elementos de plataforma ao gênero novo e brinca com a jogabilidade 2D e 3D. Em 2003, o Game Boy Advance foi palco de Mario & Luigi: Superstar Saga, outro RPG com combate por turnos que une os irmãos encanadores em uma nova aventura. As duas séries derivadas de Super Mario RPG mantiveram distância até 2015, com o lançamento do crossover Mario & Luigi: Paper Jam, para 3DS.
Lançado originalmente para Nintendo 64 em 1999, Mario Party não é o primeiro jogo do Mario a ser desenvolvido por um estúdio não ligado à Nintendo. Alguns games educacionais ou versões obscuras para outras plataformas já haviam sido feitas por outras empresas, além dos famigerados jogos de CD-i, da Philips. No entanto, o título de tabuleiro virtual foi o primeiro jogo de peso a não ser criado em casa, tendo seu desenvolvimento delegado à Hudson Soft. Desde 2012, os últimos quatro lançamentos foram feitos pelas mãos da Nd Cube, subsidiária da Nintendo.
A rivalidade entre Jumpman e Donkey Kong foi reacendida com essa série que combina elementos de plataforma e puzzle e se iniciou em 2004, no Game Boy Advance. O spin off traz de volta Pauline, personagem que passou anos no limbo e conta com outros seis games, sendo o último Mini Mario & Friends: Amiibo Challenge, lançado em 2016 para Wii U e 3DS.
O primeiro spin off esportivo da franquia foi Mario’s Tennis, lançado em 1995 para o controverso portátil Virtual Boy. O personagem já havia aparecido em Tennis, lançado em 1984 para o Nintendinho. A mais antiga e prolífica série esportiva do Mario foi reanimada em 2000, para Nintendo 64 e Game Boy Color, e Mario retornou às quadras em 2004 no Game Cube, 2005 no Game Boy Advance, 2009 no Wii, 2012 no 3DS e 2015 no Wii U.
Mario já havia figurado em outros jogos de golf da Nintendo como Golf (1984) e NES Open Tournament Golf (1987), ambos do NES. No entanto, ganhou uma série para si apenas em 1999, com Mario Golf, para Nintendo 64 e Game Boy Color. Esse esporte voltou a ser praticado pelo encanador em 2003 no Game Cube, 2004 no Game Boy Advance e 2014 no 3DS.
A vida de atleta de Mario e sua turma se provou especialmente ativa após o lançamento dos jogos de esportes com os personagens da série, e o futebol não é exceção. Mario, Luigi, Peach, Bowser e companhia já jogaram o esporte bretão em Super Mario Strikers (2005), para Game Cube, e Mario Strikers Charged (2007), para Wii.
O primeiro game de beisebol do encanador mais famoso do mundo foi Mario Superstar Baseball, lançado em 2005 para Game Cube. A série teve apenas uma sequência três anos depois, para o Wii: Mario Super Sluggers (2008).
Lançada em junho de 2017, a parceria da Nintendo com a Ubisoft parecia improvável, mas deu certo: Mario + Rabbids é um jogo de estratégia com combates em turnos, cheio de bom humor e acessível para novatos – algo que poucos games do gênero conseguem.
Tênis, golf, futebol e beisebol não foram suficientes para Mario. O bigodudo também praticou dança em Dance Dance Revolution Mario Mix (2005), de Game Cube; basquete em Mario Hoops 3-on-3 (2006), no DS; e esportes variados em Mario Sports Mix (2011), para Wii. Mario Sports Superstars também está previsto para o início de 2017 no 3DS.
Livro dos recordes. Na sequência, o Guinness Book, por precaução, também retirou os recordes de Mitchell no Pac-Man, uma vez que ele está fora das listas de classificação da Twin Galaxies. Muitos jogadores acharam isto injusto, em parte porque seu recorde perfeito em Pac-Man foi alcançado num evento ao vivo.
Mitchell obteve o desempenho perfeito em 1999, no 20º aniversário do Pac-Man, celebrado durante a feira de games Tokyo Game Show. Na ocasião, ele foi declarado o Jogador de Video Game do Século. Uma década antes, ele já era conhecido como o melhor jogador de Donkey Kong do mundo. Adolescente, chegou a marcar 870.000 pontos em 1982, um ano depois do seu lançamento. Para Wiebe sua façanha foi “legendária”.
Mas tudo isso agora é uma nota de rodapé na história do Donkey Kong. O atual campeão do jogo é Robbie Lakeman, que alcançou 1.247.700 pontos em fevereiro. Mitchell disse não joga mais regularmente, preferindo promover jogos clássicos e se concentrar na manufatura e marketing da sua empresa, a Rickey’s World Famous Sauce. Wiebe também está afastado. Sua máquina de Donkey Kong está enterrada na garagem.
Os dois homens se viram no mais recente torneio Kong Off, há cerca de um mês, durante a investigação. Mitchell estava simpático com todo mundo, disse Wiebe. “Mas reinava uma tensão e uma sensação de mal-estar no ambiente”, afirmou. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO