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Link Lab: Por trás do hit Pokémon Go, há um jogo com potencial, mas cheio de buracos

A fabricante do Pokémon Go diz que já trabalha em atualizações para o jogo

Por Bruno Capelas
Atualização:
Game pode afastar fãs casuais Foto: JASON HENRY | NYT

À primeira vista, é difícil criticar Pokémon Go. Concebido por três anos pela Niantic e pela Pokémon Company, o game tem uma receita quase perfeita: o uso de uma tecnologia inovadora como a realidade aumentada, apoiada em um dispositivo que quase todo mundo tem no bolso – um smartphone – e na nostalgia da série Pokémon, criada em 1996 pela Nintendo.

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Mais do que um simples game, Pokémon foi uma das primeiras franquias a se tornar um fenômeno transmidiático, saindo do Game Boy para a TV, o cinema e inúmeros produtos licenciados. Em 2015, ao ser anunciado, Pokémon Go recebeu pouca atenção, mas no seu lançamento – em 6 de julho, na Austrália e na Nova Zelândia, e em 3 de agosto, no Brasil – o game já era um sucesso.

Antes dos números, dos incidentes bizarros que têm povoado o noticiário e das multidões saindo por parques caçando os simpáticos monstrinhos, é preciso lembrar que Pokémon Go é um jogo. E, como jogo, ele tem uma meta simples: dar a seu público a experiência de ser um treinador de pokémons no mundo real, tal como acontecia com Ash Ketchum – o protagonista dos desenhos animados exibidos, aqui no Brasil, pela TV Record e pelo Cartoon Network.

Na TV ou nos videogames, Pokémon tem uma narrativa definida: o protagonista que deixa sua casa para se tornar um mestre pokémon, capturando criaturas e derrotando outros treinadores pelo mundo, no melhor espírito da Jornada do Herói. Já Pokémon Go – assim como Minecraft, outro hit do momento – não tem trajetória nem objetivo muito bem definidos.

Hoje, Pokémon Go oferece a seus usuários duas tarefas: caçar pokémons e batalhar em ginásios. A primeira é simples: basta começar a jogar e andar por aí para encontrar diferentes criaturas, seguindo o lema da série – “Gotta catch’em all” (“Temos de pegar”, em português). A experiência é divertida – especialmente com o uso da realidade aumentada – que faz o pokémon aparecer na tela do celular – e perfeita para cair no gosto dos fãs de jogos casuais.

Porém, ao utilizar a geolocalização e um algoritmo específico para distribuir os pokémons pelo mundo, o jogo pede muito engajamento ao usuário: é preciso que ele saia de casa (ou de sua rota cotidiana) caso queira encontrar algo além da infestação de Zubats (um morcego chato), Pidgeys (pássaro) ou Rattatas (rato). É uma das contradições do game: por ser gratuito e faturar apenas com a venda de itens (como pokébolas e poções) dentro do aplicativo, Pokémon Go precisa de uma larga base de fãs assíduos. Ao exigir mais dedicação, o game se afasta do jogador casual – fã de títulos simples como Candy Crush e Angry Birds.

Já a parte de batalhar em ginásios envolve outro problema: cada pokémon tem um grau de poder (CP ou combat power, em inglês). Depois de alguns dias da estreia do jogo, a maior parte dos ginásios foi dominada por criaturas com mais de 1000 CP. Para referência, boa parte dos pokémons que podem ser capturados por aí não passam dos 200 CP. Para chegar a um nível de excelência, é preciso evoluir as criaturas com ajuda de “doces” (cada família de pokémons tem o seu). O único jeito para ganhar os itens é capturar mais criaturas da mesma espécie.

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A intenção é boa, mas torna o jogo em uma experiência muito repetitiva. Isso transforma o que deveria ser uma aventura lúdica com o celular na mão em uma atividade entediante. Pior: por conta da grande base de jogadores e da alta competitividade, é muito difícil permanecer como o líder de um ginásio por mais de um ou dois dias – diminuindo o sabor de vitória após um grande período de esforço. E, ao pedir dedicação demais e entregar recompensa de menos, Pokémon Go perde (muitos) pontos.

Há muito para progredir: ao pedir que os jogadores se desloquem para certos pontos, ele acaba criando reuniões sociais, embora não tenha nenhum recurso que permita que as pessoas interajam entre si. Aproveitar o lado social é uma boa aposta: se os jogadores puderem trocar pokémons, o jogo pode remover o efeito repetitivo da caça – ou torná-la um pouco mais fácil. Deixar que amigos batalhem entre si, por sua vez, pode remover a disparidade entre jogadores casuais e fãs dedicados.

Questionada por mudanças pelos fãs, a Niantic já respondeu que trabalha em atualizações. O problema é quando elas chegarão ao jogo – e se ele continuará sendo um sucesso. Até lá, talvez seja o caso de seguir caçando Zubats até cansar.

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