Google Stadia: serviço de streaming de games pode revolucionar mercado

Ainda sem data para chegar ao Brasil, plataforma permite que jogador utilize qualquer tela e controle para desfrutar games de alto desempenho; sistema ainda não tem modelo de negócios definido

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Por Bruno Capelas
Atualização:
Phil Harrison, vice-presidente de games do Google, apresenta o Stadia: jogatina em múltiplas telas Foto: Reuters

“O futuro dos games não está mais numa caixa, mas sim num lugar”: foi assim que o Google apresentou ao mundo nesta terça-feira, 19, o Stadia, seu novo serviço de games. Com ajuda de sua infraestrutura de processamento na nuvem, a gigante americana vai permitir, até o fim deste ano, que os jogadores desfrutem de inúmeros games em qualquer tela, do celular à TV, passando pelo PC, e com qualquer controle, desde que estejam conectados à internet.

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Se funcionar, a ideia pode acabar com um dos mercados mais tradicionais do mundo do entretenimento: a venda de consoles e jogos em formato físico, desbancando marcas tradicionais como Sony, Nintendo e Microsoft. “A tecnologia tem de se adaptar às pessoas, não o contrário”, pontuou Sundar Pichai, presidente executivo do Google, ao apresentar a tecnologia durante a Game Developers Conference, evento voltado a criadores de jogos realizado nesta semana em São Francisco, na Califórnia. 

O Stadia (estádios, em latim) deve chegar ao mercado até o final do ano nos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e na Europa. Ainda não está claro, porém, como os jogadores pagarão para ter acesso ao sistema – rumores apontam que uma assinatura, tal como Netflix ou Spotify fazem para vídeos e músicas, será o modelo mais provável. O Google prometeu revelar mais detalhes sobre o serviço no terceiro trimestre deste ano, incluindo uma lista de jogos. Durante o evento em São Francisco, porém, trouxe ao palco empresas como Ubisoft e iD Software, responsáveis por jogos como Assassin’s Creed e Doom, respectivamente. 

Funcionalidades. O último game da série Assassin’s Creed, Odyssey, inclusive, foi parte de um teste prévio realizado pelo Google no ano passado, que deu origem ao Stadia. Chamada de Project Stream, a iniciativa permitiu que usuários do Google Chrome testassem o jogo pelo navegador Google Chrome, sem precisar baixá-lo para seus dispositivos. Para o jogo rodar com altíssima definição (1080p), porém, era preciso uma conexão veloz, na casa de 15 megabits por segundo (Mpbs). 

Além de permitir partidas pela internet, com poder de processamento realizado em seus próprios servidores, o Google quer trazer novas funcionalidades aos videogames. Algumas delas estão diretamente ligadas ao YouTube, site de vídeos da empresa no qual hoje, diariamente, 200 milhões de pessoas assistem conteúdo relacionado a jogos eletrônicos.

Por meio do Stadia, criadores de conteúdo poderão jogar partidas ao vivo junto com seus espectadores, em uma função chamada Crowd Play. Outra ferramenta, chamada State Share, permitirá que um jogador entre em um game, em menos de dez segundos, no mesmo trecho exato de um vídeo que está assistindo. 

Stadia Controller terá botões especiais com assistente de voz e captura de imagens direto para o YouTube Foto: Justin Sullivan/AFP

A empresa também revelou que está criando um estúdio próprio de desenvolvimento de jogos para o Stadia – a divisão será comandada por Jade Raymond, executiva canadense que comandou a produção de jogos como Assassin’s Creed II e Watch Dogs, da Ubisoft. Outra novidade foi um controle próprio, chamado de Stadia Controller, ainda sem preço ou data de lançamento definidos. À primeira vista, ele se parece bastante semelhante com os controles de Xbox One e PlayStation 4. 

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No entanto, o Stadia Controller traz dois botões curiosos: um deles é o de captura, que permitirá ao jogador gravar e transmitir imagens de sua partida pelo YouTube. Outro, com o símbolo do assistente de voz Google Assistant, habilitará um microfone para que o jogador, por exemplo, possa pedir ajuda à inteligência artificial da gigante de buscas para superar uma fase específica ou aprender um novo comando dentro dos games. Quando isso acontecer, o assistente vai procurar um vídeo específico no YouTube, com o trecho exato da partida que o jogador estiver, para sanar suas dúvidas. 

Competição. Fazer streaming de games inteiros é um sonho antigo da indústria de jogos eletrônicos, mas sempre esbarrou em dificuldades técnicas – especialmente no que diz respeito às velocidades de conexão e de processamento. Se assistir a um vídeo na Netflix é um desafio para certas conexões de internet no Brasil, um jogo é ainda mais complexo, porque demanda interação constante entre jogador e plataforma. Se houver uma falha na conexão durante um jogo de luta, por exemplo, um dos lutadores pode não ser capaz de se proteger de um golpe, por exemplo. 

Outras empresas de games também já têm iniciativas no ramo: a Sony tem há anos o Playstation Vue, com alcance limitado. Já a Microsoft prometeu lançar este ano o Project xCloud, um serviço semelhante ao do Google, mas ainda com poucos detalhes revelados. Para analistas, é um mercado cheio de potencial, mas ainda com questões a serem provadas. “É uma ótima prova de conceito, mas o que determinará o sucesso do Stadia é a adoção dos consumidores e o conteúdo que estiver disponível”, disse Daniel Ahmad, analista da consultoria Niko Partners, em sua conta no Twitter.

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Já André Pase, professor da PUC-RS, aponta que redes podem ser entrave. “Não basta uma conexão boa, é preciso que ela seja boa o suficiente para permitir ao jogador ter tempo de reação dentro dos games.”

Para o pesquisador, a gigante americana também precisará se destacar no conteúdo – hoje, boa parte do trunfo nas mãos de Microsoft e Sony são jogos exclusivos para seus videogames. ". A facilidade de entrada do Google através da abrangência da Internet é decisiva, mas é preciso ter conteúdo que traga público e retenha atenção", diz. "Mais do que propor o serviço, o Google precisa estar disposto a manter a aposta num prazo maior se for necessário."

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