Solitário, silencioso e desafiador: conheça 'The Witness'

Desenvolvido ao longo de sete anos por Jonathan Blow (criador do cultuado 'Braid'), jogo tem puzzles enigmáticos em ilha misteriosa

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Por Redação Link
Atualização:
 

Luiz Fernando Toledo

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The Witness é mais uma daquelas provas esporádicas de que um belo e desafiante game não precisa de um enredo complexo ou aspirações megalomaníacas para se manter em pé. O puzzle, uma espécie de enigma, criado por Jonathan Blow (o mesmo cérebro por trás do conhecido game independente Braid, de 2009), demorou nada menos que sete anos para ser produzido, mas finalmente está disponível para PS4 e PC.

Mesmo antes de ser lançado, The Witness chamou atenção por seus trailers com cenários coloridos e bem detalhados de uma ilha vazia, sem animais. O jogo atiçou a curiosidade dos espectadores, que provavelmente esperaram algo além de muitas árvores bonitas e labirintos abstratos para atrair a atenção e garantir a jogabilidade. Estavam todos enganados: o jogo é exatamente sobre esses labirintos.

Há pouco a se explorar. Embora o game seja em primeira pessoa, praticamente não há ações do personagem. Não se sabe exatamente quem é você e onde você está. Os caminhos a serem trilhados dependem exclusivamente de como o jogador resolverá os quebra-cabeças que surgirem. Aliás, até mesmo a descrição física do protagonista tem como única pista sua sombra, que pode ser vista em determinados ângulos do vasto cenário.

Também não há história ou mesmo alguma lógica previsível dentro da ilha. Não existem animais, pessoas, robôs, extraterrestres, nada. Em alguns locais é possível identificar estátuas de seres humanos, algo que não é explicado ao longo da trama.

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Outra frustração – ao menos no início –é a impossibilidade de identificar o momento em que a história se passa, já que há diversos artefatos tecnológicos em meio a um ambiente natural, painéis aleatórios e uma porção de fios que se ligam aos portões, além de laboratórios. No futuro, talvez – mas quando?

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O ambiente do jogo se parece mais com um pesadelo esquisito em uma ilha paradisíaca do que com qualquer realidade. Soma-se a esta ideia o fato de que o jogo lança no espectador uma série de áudios com citações filosóficas sem aparente sentido à primeira vista.

Puzzles. O foco de The Witness está em resolver pequenos painéis no estilo “ligue os pontos” que ficam cada vez mais complicados e exigem grande concentração em tudo, principalmente no cenário além destes painéis. Não há tutoriais nem algum tipo de ajuda explícita, embora a lógica para resolver cada um dos cerca de 700 enigmas siga uma certa ordem. A curva de aprendizado do game é das melhores: mesmo sem o bê-a-bá que virou clichê nas últimas gerações, ninguém ficará perdido.

Para abrir portas, mexer em elevadores ou interagir com os objetos, é preciso desenhar linhas nestes espaços esquematizados sem riscar duas vezes o mesmo lugar. Logo na primeira cena, em um corredor escuro, tal lógica se apresenta da maneira mais simples possível. Assim:

Vê a linha com uma bolinha na ponta? É só arrastar o cursor de um lado ao outro

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Resolvê-los é quase como fazer ciência: observa-se o objeto estudado (o painel), o meio em que ele está (o cenário), o objetivo de resolver o tal puzzle (para onde eu quero ir?) e, só assim, começa-se a testar hipóteses para abrir o próximo desafio (os possíveis traçados). É aí que entra toda a natureza ao redor: até a silhueta de uma árvore pode se transformar na resolução de um problema.

Ao passo que se abrem novos caminhos na ilha, a dificuldade se torna extrema, mas não a ponto de fazer o jogador desistir. Uma das vantagens é a possibilidade de partir para os puzzles seguintes ou até mesmo para outra parte da ilha se não conseguir resolver um dos quebra-cabeças. Dessa forma, o jogo não “empaca” e dá estímulo ao progresso.

E é nessa evolução que um grande mistério avança: cada “fase” superada lança um raio de luz sobre uma montanha próxima à ilha, o ponto mais alto de todo o cenário. Pode-se dizer que a falta de história é superada por esse estranho efeito, que muito lembra os desfechos indecifráveis da série de TV Lost, do diretor J. J. Abrams.

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Vale a pena? The Witness não causa a sensação de assistir a uma explosão de um prédio ou presenciar um tiroteio em uma cidade grande. Mas é feliz por trazer a quem o joga a satisfação de ter superado as barreiras que apresenta. Mais ou menos aquilo que todos sentimos com Tetris e outros games do gênero. Mas, desta vez, com todo um mistério ao redor. De qualquer forma, não custa avisar: o jogo requer muita imaginação e não dá nada de mão beijada. Não há legendas, conversas, tutoriais ou algo do tipo. É para se sentir abandonado mesmo. Se este é seu tipo de game, vá em frente.

Bônus: um speedrun (nome dado a desafios em que o jogador tenta encerrar o jogo no menor tempo possível) de The Witness já está na internet com um recorde absurdo: o jogador conseguiu finalizar todos os desafios em apenas 26 minutos. Vale assistir ao vídeo para conhecer o game e se espantar – mas cuidado com os spoilers.

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