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Super Mario Odyssey é uma carta de amor à história dos videogames

Cheio de mecânicas inovadoras, fases maravilhosas e visual incrível, novo game do encanador bigodudo faz jus ao nome “odisseia” e pode criar nova geração de jogadores

Por Bruno Capelas
Atualização:
Novo game do encanador Mario saiu no dia 27 de outubro e é um dos indicados ao Game Awards. Foto: Nintendo

Odisseia, substantivo feminino: “viagem cheia de aventuras e peripécias”. Na história da arte, poucas são as obras que se arriscam a emprestar o termo, que dá nome à obra do grego Homero, e saem impunes disso – é fácil pensar no Ulysses de James Joyce, no disco Odessey and Oracle, dos The Zombies, e no filme 2001, Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick. Em 2017, a Nintendo se arriscou, como Ulisses frente ao Ciclope, ao escolher o nome de Super Mario Odyssey para a nova aventura do encanador bigodudo, um personagem dos games que é conhecido até por quem nunca soube o que raios era um Goomba (resposta: é o primeiro adversário que Mario mata na primeira fase de Super Mario Bros, de 1985). Felizmente para os fãs de games, o risco compensou – e o jogo, lançado no final de outubro, faz jus não só à história do personagem, mas também a dos games como um todo.

A história de Super Mario Odyssey, como quase sempre acontece nos jogos de Mario, é bastante simples: o vilão Bowser raptou a princesa Peach e cabe ao encanador resgatá-la. A diferença é que, desta vez, o vilão planeja se casar com a garota e empreende uma grande viagem por mundos maravilhosos para ter a festa mais luxuosa de casamento – com direito a bolo, buquê de flores, anéis e até mesmo um portentoso chapéu.

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Cada item que Bowser procura é a desculpa para que Mario, em busca do vilão, viaje por ambientes incríveis – seja uma cidade do Velho Oeste, uma recriação de Nova York, um reino submarino ou uma floresta perdida. Ao contrário do que acontece em jogos anteriores, cada mapa é um mundo aberto, convidando o jogador a explorá-lo por bastante tempo em busca de recompensas.

Pé na estrada. A aventura começa justamente no Cap Kingdom (reino da boina, em uma tradução literal), onde, após enfrentar Mario, Bowser rouba uma garota-chapéu para transformá-la em tiara, que será oferecida à futura noiva. Desacordado, Mario é reanimado por Cappy, um simpático chapéu-coco que vem a ser irmão do acessório sequestrado. Juntos, Cappy e Mario vão correr atrás de Bowser pelo jogo todo, cada um tentando salvar seu ente querido, através dos diversos mundos maravilhosos exibidos pelo game.

Para ir de mundo em mundo, os dois usam um velho veículo, cujo design mistura a ideia de máquina voadora concebida por Leonardo da Vinci com os barcos – alô, Homero – da Antiguidade. Para funcionar, o veículo tem como combustível as Power Moons, que devem ser coletadas por Mario e Cappy nas inúmeras fases. Ao todo, são mais de 800, que podem ser capturadas das mais inusitadas formas.

Jogadores novatos ou que só querem saber o fim da história poderão achá-las cumprindo os desafios do jogo, derrotando chefões e tendo alguma sorte encontrando-as pelo cenário. Mas há bem mais que isso: ser desafiado em uma corrida de autorama? Resolver quebra-cabeças escondidos pelo cenário? E que tal jogar uma fase “à moda antiga” de Mario, em duas dimensões, no meio de uma montanha em um cenário 3D, em uma grande declaração de respeito à história do personagem?

Tirando o chapéu. Cappy, é preciso dizer, é o principal segredo por trás de Super Mario Odyssey: de início, ele se transforma na característica boina vermelha do encanador. Com seus poderes mágicos, porém, ele se torna capaz de “capturar” diversos tipos de objetos, de sapos e centopeias a táxis e bueiros, fazendo com que Mario se movimente como eles.

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O que pode parecer apenas um pequeno truque barato, no entanto, é o que faz com que Odyssey seja um game quase inigualável em termos de mecânicas (isto é, na forma de movimentar o personagem). Além dos pulos, saltos e “bundadas” característicos de Mario pelas mais de três décadas que o personagem existe, há um universo de coisas que são possíveis de ser feitas.

Saltar por dez metros? Se esticar como uma centopeia para alcançar uma plataforma distante? Ser um foguete, uma corrente ou uma tampa de bueiro? Tudo faz sentido. O melhor é que, apesar da variedade de movimentos, eles podem ser aprendidos de forma rápida por qualquer um. Com um design de fases inspirado, a Nintendo consegue fazer com que o jogador navegue pelas inúmeras possibilidades do game com facilidade, instigando-o a explorar por horas e horas.

Essa tarefa de explorar novas mecânicas é algo que fica ainda mais divertido com os versáteis controles do Nintendo Switch, que podem ser tanto utilizados como joysticks convencionais, tanto como bastões (sendo agitados frente à tela do videogame). Outro destaque é o sensor de vibração do console, que pode ajudar o jogador a encontrar luas perdidas pelo cenário.

Que tal jogar uma fase “à moda antiga” de Mario, em duas dimensões, no meio de uma montanha em um cenário 3D, em uma grande declaração de respeito à história do personagem? Foto: Nintendo

Aprendizado. Outro fator que ajuda Super Mario Odyssey a ser um jogo acessível – no sentido de facilidade – é uma mudança significativa. Em jogos anteriores do encanador, havia uma quantidade limitada de vidas, que só poderiam ser conquistadas de novo caso Mario coletasse 100 moedas pelo cenário. Agora, as vidas são ilimitadas, e cada erro fatal custa ao jogador apenas dez moedas, retiradas do “cofrinho”.

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Ao cobrar um preço muito menor por cada falha, a Nintendo assume que “errar faz parte” e que isso é parte do processo de se jogar um videogame. O mesmo acontece em The Legend of Zelda: Breath of the Wild, o outro grande jogo da empresa neste ano, mas de forma diferente: se em Zelda, o aprendizado acontece por meio de “tentativa e erro”, de forma dura, aqui a sensação é de um “tapinha nas costas”, como o do pai que tenta ensinar o filho a andar de bicicleta sem rodinhas.

Acessível, fácil e feliz, Super Mario Odyssey é mais do que apenas um grande jogo. É uma das melhores versões do encanador bigodudo desde sua primeira aparição nos videogames, em 1981, quando ainda se chamava Jumpman. É um jogo que pode mostrar para as atuais gerações porque Mario é de fato o maior ícone dos videogames – e como fazer para que ele continue sendo atual. Com visual lindo, grande trilha sonora (preste atenção na cena-clipe de “Jump in the Air”, apresentada na icônica New Donk City) e jogabilidade invejável, Super Mario Odyssey é facilmente um dos melhores jogos dos últimos anos. É o jogo 3D do encanador bigodudo que os fãs esperavam desde Super Mario 64, lançado em 1996 – e, puxa, como isso é bom.

Vale a pena? SIM. Super Mario Odyssey é uma carta de amor aos videogames. Ao respeitar a história de Mario, mas incorporando novos elementos, como o simpaticíssimo Cappy, a Nintendo comete uma obra que pode criar uma nova geração de jogadores. É um game que entende muito bem as premissas básicas de qualquer jogo: exploração, desafios, missões, aprendizados e recompensas. Tudo está lá e funciona de forma fluida e graciosa.

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A experiência do Switch ajuda muito: poder jogar este game na telona da TV, ou em qualquer lugar com a telinha do console, é ainda mais recompensador, bem como a chance de dividir a experiência com um amigo – um jogando como Mario, o outro como Cappy. Depois do fracasso de vendas do Wii U, que naufragou graças a falta de jogos que interessassem o grande público, a Nintendo pegou pesado e transformou 2017 em um de seus melhores anos. Sem dúvida, este Super Mario Odyssey é uma das principais razões para isso. Vá correndo jogar.

Super Mario OdysseyPublisher: NintendoPreço: US$ 60Plataforma: Nintendo Switch Disponível apenas pela internet (Nintendo eShop)

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