Um novo videogame Atari, mas com os velhos jogos de sempre

Vendido a US$ 40 nos EUA, e pouco mais de R$ 500 no Brasil, console retrô mantém viva a memória da empresa que começou a história dos videogames

PUBLICIDADE

Por Danny Hakim
Atualização:
Nova versão do Atari é relançada pela Tectoy por R$ 500 Foto: TecToy

Comprei há dias um videogame Atari retrô. Custou US$ 39,99 numa loja Bed Bath & Beyond de Nova Jersey. Encontrei-o entre panelas, caçarolas e luvas de cozinha. Só isso já dá uma ideia do público visado. “Não acredito que ainda vendam essas coisas”, disse a caixa Vanessa.

PUBLICIDADE

De um jeito ou de outro, o Atari nunca morre. O console, conhecido como Flashback, foi dos campeões de venda em novembro na Dollar General, uma das maiores redes de lojas de departamentos do país. Considerando-se que a Atari está reduzida a meros 18 funcionários, talvez nenhuma outra empresa tenha explorado tanto a nostalgia de um antigo produto nesta temporada de compras. A Atari já chegou a empregar Steve Jobs como técnico e se tornou um ícone da era da computação doméstica, mas sofreu uma sucessão de más experiências que quase a liquidaram.

Iniciada em 1972, a Atari foi assim batizada por um de seus fundadores, Nolan Bushnell, a partir de uma jogada do antigo jogo asiático Go. “Atari era o que se dizia quanto um jogador ameaçava as pedras do outro, algo como pôr o adversário em xeque no xadrez”, explicou Bushnell numa entrevista. “Achei que era um bom nome.”

Bushnell vendeu sua parte na empresa para a Warner em 1976 – com os fundos, a empresa pode custear a fabricação do Atari 2600, seu primeiro videogame. Quando a indústria de videogame entrou numa guerra de preços em meados dos anos 1980, a Warner vendeu a Atari. A empresa foi novamente vendida em meados dos anos 1990 e mais uma vez, em 1998, à Hasbro Interactive, por apenas US$ 5 milhões. 

Daria para prolongar a história, mas basta dizer que nos anos 2000 uma obscura empresa francesa assumiu a Atari, um fundo hedge se envolveu no negócio e, em 2013, um pedido de falência foi protocolado nos Estados Unidos. Hoje, a empresa está registrada na França e reduzida a um número mínimo de funcionários, a maioria em Nova York. Sua operação foi quase totalmente terceirizada para companhias como a AtGames, de Los Angeles, que produz os consoles Atari Flashback numa indústria da China – no Brasil, o produto é licenciado para a Tectoy. 

Através de todos esses problemas, os fãs ajudaram a manter vivo o conceito Atari.

“Tornei-me engenheiro de computação porque me apaixonei portecnologia por meio do Atari”, disse Curt Vendel, entusiasta da marca. Encontrei Vendel pela primeira vez em 1999, quando ele morava em Staten Island. Dirigia então uma entidade chamada Sociedade Histórica Atari, um arquivo virtual criado a partir da grande coleção pessoal de Vendel, que reúne desde canecas de café com a marca Atari a desajeitados robôs Androbots, produzidos por uma outra empresaHistória Atarifinanciada por Bushnell.

Publicidade

Vendel recolhia projetos de engenharia e diagramas de chips jogados no lixo da antiga sede da Atari na Califórnia. Poucos anos depois daquele nosso encontro ele iniciou conversações com a Hasbro Interactive sobre um console Atari retrô. A Hasbro encarregou-o de desenvolver um. 

 “A Atari tornou a tecnologia mais acessível ”, disse Vendel, “e deu sentido a minha vida.”

A empresa que produz atualmente o Atari Flashback fala pouco sobre vendas e clientela, revelando apenas que vendeu mais de 300 mil unidades no ano passado. Frédéric Chesnais, principal executivo, resume o sucesso do console: “Ele é simples, viciante e em poucos minuos leva você a divertida experiência”. 

Games. Para deixar claro, minha posição oficial sobre videogames em minha casa é de hostilidade e pode envolver gritaria. Uma vez arranquei o console Nintendo Wii da televisão e fugi com ele da sala ­- com um de meus filhos, furioso, agarrado a minha perna como um molusco. 

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Um relatório divulgado no ano passado pelo National Bureau of Economic Resarch citou os videogames como uma das razões pelas quais os jovens estão trabalhando menos horas. Mas exames mais abrangentes avaliam os jogos não só negativamente, mas também de forma positiva, dependendo do que se joga.Um estudo descobriu que Call of Duty encolhe a área do hipocampo do cérebro, enquanto Super Mario faz com que ela se expanda.

Eu simplesmente acho que são perda de tempo e nunca mais joguei. Bem, ouve uma rápida e absorvente recaída com Wii tennis. E não estou contando Words With Friends. Ou o aplicativo Boggle do meu celular, pois uso exclusivamente para expandir meu hipocampo. 

Dito isto, abro a caixa do Atari e de cara me atrapalho com as instruções. Dou uma olhada nos mais de cem jogos. No Asteroids, escondo-me atrás de uma rocha gigante para fugir de uma nave inimiga. Foi um começo fraco. O Centipede rapidamente foge de meu controle. Mas as coisas melhoram um pouco com o Missile Comand, e saio-me bem maratona de Space Invaders. 

Publicidade

“Os games, embora graficamente toscos, tinham de ser muito bem desenhados porque não se podia confiar no som e nos gráficos”, disse Bushnell. “Tínhamos que fazê-los realmente divertidos.” Talvez o Atari nunca morra. Bem, pode ser que morra quando a Geração X morrer. Mas ainda tempos algum tempo pela frente. 

Vou para o Pitfall. Procuro uma corda, mas mergulho no poço escuro. Quando consigo agarrar a corda, não sei como sair. É humilhante.

Mas tudo bem. Tenho grandes planos para o Frogger. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.