3. O artista: Hartmut Esslinger
É uma casa igual a um computador Apple. Branca, espaçosa e aconchegante. O homem que nos conduz prepara uma salada Caprese e um espaguete al Pesto. “Primeiro comer, depois conversar.” Durante o café: “E agora? O que você quer saber?”
23/05/2010 | 15h56
Hartmut Esslinger mistura alemão e inglês. Ele é designer e, em 1969, fundou a Frog Design em uma garagem em Altensteig, na Floresta Negra (Alemanha).
“Design não é embalagem, é um jeito de pensar. O design pensa o produto como um todo”, disse Esslinger certa vez. “Design não é o visual e o sentido, é como algo funciona”, disse Jobs dias depois. “Às vezes ele ouve algo e repete como se fosse uma ideia sua”, diz Esslinger hoje, rindo.
Nos anos 70, Esslinger embalava as TVs da alemã Wega em espetaculares caixas de material sintético. Nos anos 80, criava aparelhos para a Sony. E sempre se perguntou por que computadores eram tão feios e pareciam inimigos e masculinos demais.
Jobs liga para Esslinger. Ele quer um designer de interface gráfica, mas Esslinger acredita que “às vezes as pessoas não sabem o que querem”. Ele também crê que o bom design equilibra provocação e familiaridade, o absurdo e o monótono. Por isso, sugeriu computadores brancos. “Branco Califórnia”, batiza. “A indústria de computadores nunca entendeu que as pessoas criam uma relação emocional com coisas”, diz. Obviamente Jobs repetiu a frase, dias depois, em uma conferência.
O pessoal da Frog constrói os protótipos. Jobs deixa que eles trabalhem. A Frog recebe US$ 200 mil por mês, muito dinheiro por algo que ninguém do Vale do Silício leva a sério.
Vinte e cinco anos mais tarde, nenhuma outra cooperação é tão admirada por designers e publicitários como aquela entre Esslinger e Jobs. Os aparelhos tinham aparência funcional e simples. “A arte sempre precisa ser desnecessária? Não pode ser arte e útil?”, pergunta Esslinger, que hoje é professor em Viena e escreve livros com frases como “Ver é crer e crer é ver”.
Esslinger coloca um Blackberry sobre a mesa e diz: “Todos esses botões sem harmonia. Aqui há uma curva e aqui uma reta, isso é desleixo”. Empurra o Blackberry e acaricia o iPhone em silêncio.
O primeiro computador desenvolvido por Esslinger, o Apple 2c, é apresentado a Jobs no seu escritório, na época em Cupertino.
São 25 modelos, todos brancos. Jobs não parece satisfeito. “Socorro, espero que isto funcione”, diz ele, “não estou convencido”. No dia seguinte a Apple vende 50 mil unidades, é 24 de abril de 1984. Hoje o Apple 2c está no acervo do Whitney Museum, em Nova York. /TRADUÇÃO DE HARALD WITTMAACK
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