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Opinião|A Apple perdeu o monopólio dos consertos

O cliente que tiver um iPhone 12 ou 13, em caso de quebra ou defeito, poderá comprar a câmera, a tela ou a bateria e consertar em casa

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Novo iPhone 13 começou a ser vendido no Brasilem outubro Foto: Carlos Garcia Rawlins/Reuters

A Green Century Capital Management dobrou a Apple. Na quarta, a empresa fundada por Steve Jobs anunciou que iniciará a venda de peças avulsas dos aparelhos que fabrica. Começará de forma modesta, só nos EUA e só para iPhones 12 e 13. Mas o cliente que tiver um destes celulares, em caso de quebra ou defeito, poderá comprar a câmera, a tela ou a bateria e consertar em casa. Os inseguros podem levar à lojinha da esquina para alguém fazer o serviço.

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Oficialmente, a Apple sempre argumentou que não poderia deixar usuários mexerem nos aparelhos pelo risco de os danificarem. Também sempre foi muito rigorosa na distribuição da licenças para quem poderia fazer os concertos. A empresa explicava que era muito delicado permitir que técnicos tivessem acesso aos dados pessoais de cada usuário.

O resultado prático da postura seguia dois caminhos. O primeiro é que consertos não autorizados no mínimo violavam a garantia, em alguns casos chegavam a travar por completo as máquinas. Uma bateria trocada poderia tornar o celular inútil. Daí o segundo: oficinas especializadas sempre foram caríssimas. Consertar equipamento da Apple custava uma fortuna e meia.

Este tipo de política rígida é bastante comum no mundo da tecnologia. Mas é também uma política cínica. Ao encarecer o conserto, obriga usuários a pensar duas vezes se vale a pena. Se não sai mais em conta, no médio prazo, trocar logo por um modelo novo. A margem de lucro para consertar, era alta. O incentivo para descartar o antigo é dado.

O fundo Green Capital garante a quem lhe cede dinheiro para gerenciar que todos seus investimentos levam em conta o combate às mudanças climáticas. Após comprar ações da Apple, fez um requerimento à SEC, o regulador nos EUA dos mercados de capitais, para que a empresa explicasse o impacto econômico de permitir aos clientes fazerem pequenos consertos por conta própria.

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No início deste mês, a SEC anunciou uma mudança interna ao afirmar que passaria a levar mais em consideração questões de grande impacto social em suas decisões. Os executivos da Apple, informa o site The Verge, sentiram ali o cheiro de derrota. Preferiram assumir o controle da mudança em vez de receber uma ordem do regulador que tivesse impacto em sua imagem.

O Poder Legislativo em vários estados americanos está avaliando leis locais que garantam o direito de fazer reparos caseiros nos aparelhos comprados. O presidente Joe Biden encomendou internamente um estudo sobre isso. O monopólio do conserto está com os dias contados.

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