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Jornalista, escritor e palestrante. Escreve às quintas

Opinião|A Apple planeja seu futuro

O fato de que é a Apple é uma das maiores companhias do mundo é fruto do iPhone. Mas há um problema: no futuro próximo, a importância dos celulares vai diminuir muito

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Tim Cook, no palco do evento da Apple: revelação não de produtos, mas de um ecossistema Foto: Josh Edelson/AFP

Há pistas, nos anúncios de produtos feitos na terça-feira pela Apple, a respeito do que a companhia pensa para seu futuro. Este é um momento de planejamento chave para a empresa fundada por Steve Jobs. O motivo é simples: o iPhone, lançado em 2007, mexeu de tal forma com o mercado de consumo de tecnologia que criou um novo estilo de vida. Seja da Apple ou não, todos somos hoje dependentes de aparelhos baseados naquele original. E o iPhone jamais perdeu sua mística. O fato de que a Apple é, hoje, uma das cinco maiores companhias em valor de mercado — por vezes ocupando o alto do pódio — é fruto do iPhone. O aparelho é sua galinha dos ovos de ouro. Mas há um problema: no futuro próximo, a importância destes nossos queridos celulares vai diminuir muito. Daí a necessidade de a Apple planejar o futuro.

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Estamos à beira de uma revolução que ocorrerá, nos próximos anos, a partir do encontro entre duas tecnologias. Internet das coisas e 5G.

Redes 5G trazem três diferenças básicas em relação as 4G. A primeira é que a velocidade é estupidamente maior. Dá para ver filme 4K fácil enquanto se baixa arquivos. A segunda é a instantaneidade ou, tecnicamente, baixa latência. A informação que sai de um aparelho chega ao outro sem delay. Por fim, é possível ligar um número muito maior de máquinas à rede.

O resultado é que as redes 5G se tornam úteis para muito mais do que telefones. É onde entra a internet das coisas. Com um chip de celular, o carro da frente pode avisar ao de trás que está freando. A informação chega a tempo de o outro também brecar. Um médico pode orientar outro, numa sala de cirurgia longínqua, e guiar uma cirurgia usando realidade aumentada.

E nós vamos nos cobrir de aparelhos. Os óculos, a roupa, os relógios, os sapatos, as bolsas, os fones. Nada precisará do aparelho celular para se conectar à internet. As interfaces também vão existir de todo tipo. Aparelhos que comandamos por voz, ou por toque, ou que reagem ao ambiente ou a ações. Com o passar do tempo, assim como muitos passaram a não ter mais computadores em casa, vai começar a ter gente escolhendo não ter celular. Dá para conversar direto pelo fone, navegar por uma tela dobrável no bolso, sabe-se lá.

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O que a Apple apresentou, terça-feira, não foi mais um evento com iPhones e umas coisas mais. Ela apresentou ao público um ecossistema. Um serviço de streaming que estreia em novembro com nove series originais e custará, no Brasil, R$ 9,90. Nasce oferecendo muito menos do que a concorrência — Netflix, GloboPlay, Amazon Prime. Mas nasce. Lançou também um serviço de jogos por assinatura, Apple Arcade, pelo mesmo valor. Já tinha o Apple Music, concorrente do Spotify.

Não importa o aparelho Apple que a pessoa tenha, os serviços estão lá. Cada vez com mais frequência, a Apple reforçará esta estratégia: a de anunciar hardware e serviços simultaneamente, para criar laços com clientes de forma a mantê-los por muito tempo. Mesmo quando chegar aquele momento, daqui a uns cinco anos, em que o iPhone 16 ou 17 não seja mais a peça principal de sustento da companhia.

Será interessante de assistir. Se o Partido Democrata pinçar Elizabeth Warren como sua candidata e ela derrotar Donald Trump — é isso que as pesquisas vêm sugerindo —, um dos principais focos da Casa Branca será combater os monopólios no Vale do Silício. Pelo um caso de antitruste virá.

Essas épocas de viradas tecnológicas, como a marcada pelo surgimento do iPhone, muda a ordem das empresas vencedoras e perdedoras do mundo digital. Um caso antitruste aumentará a confusão. A Apple não é a única percebendo a tempestade por vir.

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