A guerra dos sistemas operacionais

Evento em Barcelona acirra briga entre Apple, Google e Microsoft

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Por Rafael Cabral
Atualização:

O presidente-executivo da Microsoft, Steve Ballmer, definiu o atual momento da industria de mobilidade ao dizer, em sua palestra no Mobile World Congress – evento em Barcelona, entre os dias 14 e 17 – que “a batalha dos smartphones virou a guerra dos sistemas operacionais”.

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Enquanto a disputa pelos usuários móveis se resumia a lançamentos de cópias do iPhone, a Apple garantia nocaute atrás de nocaute. Os concorrentes pareciam não entender que o design do aparelho lançado em 2007, mesmo que tivesse a sua parte no sucesso, era só a moldura para a verdadeira revolução: a plataforma que vinha escondida ali dentro. Com um ecossistema de aplicativos de todo tipo, foi ela que transformou o celular, antes mera máquina de fazer ligações com despertador, em dispositivo múltiplo e inteligente.

Só dois anos depois a briga começaria a ficar um pouco mais difícil para a Apple, quando o Google repensou a ideia original e apresentou o Android, inovador à sua maneira. Podendo ser livremente alterada, a plataforma ganhou espaço em smartphones – e agora tablets – de muitas marcas boas de hardware que ficavam devendo no software.

Crescimento fulminante que pôde ser comprovado no próprio Mobile World Congress, onde o Android era o único a merecer o seu próprio pavilhão, que, mesmo sendo o maior, ficou espremido com o tanto de companhias que usa o produto do Google nos seus próprios – Samsung, LG, Motorola, Qualcomm, Sony Ericsson, Acer, ZTE, Huawei, Fujitsu, Intel, ARM, só para ficar nas mais notáveis. Eric Schmidt, ainda CEO do Google, fez questão de dar o número exato: são 107 aparelhos rodando Android.

E eles não param de se replicar. A HTC, co-autora do fracasso Nexus One, com o Google, anunciou cinco celulares e um tablet, Androids todos eles. A Samsung, que vendeu 10 milhões de unidade do smartphone Galaxy S, lançou com estardalhaço a sua nova geração, o Galaxy 2, com a atualização Gingerbread do Android, além de mostrar o Galaxy Tab 2, que rodará a versão Honeycomb do sistema do Google, criada para melhorar a interface e o uso de tablets.

O evento também viu nascer a primeira geração de Androids para atividades específicas, caso do Sony Ericsson Xperia Play (ou ‘PSP Phone’), cruzamento de celular e videogame portátil, e do LG Optimus 3D, smartphone que veicula conteúdo 3D sem necessidade de óculos especiais.

Por outro lado, a App Store, da Apple, é maior e mais rentável que o Android Market. Ainda há muito mais aplicativos gratuitos do que pagos no Android, mas as opções cobradas crescem rapidamente, o que é crucial para atrair desenvolvedores, antes contrariados com o pacote de programação do Google, que faria os apps rodaram em certos aparelhos e em outros não.

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“Ficamos impressionados em ver como a Apple monetizou os aplicativos e criamos um sistema semelhante”, admitiu Schmidt, que, com falsa modéstia de executivo muito bem treinado, adicionou um “se eu estiver enganado, me corrijam, por favor” antes de dizer que o Android era a tendência móvel que cresce mais rapidamente. O número de apps no Android Market aumentou 127% desde agosto de 2010 e, se seguir nesse ritmo, ultrapassa o iOS em 2012, segundo relatório divulgado na última quinta.

Retardatário. Ainda inexpressivo mas potencialmente enorme, o Windows Phone, anunciado em 2010, quer desafiar o dualismo. E pode conseguir espaço devido à parceria com a Nokia. Ex-líder que agoniza no mundo dos smartphones, a companhia finlandesa abandonou o seu próprio sistema (Symbian), fingiu que esqueceu que estava desenvolvendo outro com a Intel (MeeGo), rejeitou as investidas do Google e equipará toda a sua linha com o Windows Phone a partir de 2012. A dúvida é se há espaço para uma terceira via.

A Apple, que nem foi a Barcelona, deu seu jeito de se fazer lembrada, seja pelos rumores de um iPad 2 e de um iPhone mais acessível, seja pela notícia de que virou a maior fabricante de computadores pessoais do mundo graças a seu tablet, que acaba de completar um ano e, mais uma vez, ajudou a redefinir um nicho do mercado. Como no caso do iPhone, a empresa do agora licenciado Steve Jobs ainda pode desfrutar de seu pioneirismo e ver de longe como os rivais variam em cima do tema que criou.

* Com Videogame O Xperia Play, ou PSP Phone, é mesmo diferentão. Frente a frente, é estranho um celular que, em vez de teclado, tem um controle de videogame. Ele vai ameaçar outros portáteis que não fazem ligações, como o Nintendo 3DS. A dúvida é se a bateria vai aguentar.

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* Com Facebook Zuckerberg sempre negou que lançaria um celular Facebook, mas HTC e IQN não quiseram nem saber e lançaram aparelhos baseados na rede social. Nos modelos da HTC, a rede está tanto na interface quanto no hardware, na forma de um botão.

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* Com 3D A LG lançou o smartphone Optimus Play, com tela 3D que dispensa o uso de óculos especiais. Mas o processador dual-core de 1GHZ, engasgou várias vezes. E isso seguia acontecendo com outros modelos. A tecnologia é fantástica, mas talvez não esteja pronta.

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O repórter viajou à convite da Samsung.

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—- Leia mais:Link no Papel – 21/02/2011

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