A incrível e infame história de John McAfee, dos antivírus à prisão na Espanha

Pioneiro do Vale do Silício, McAfee já foi acusado de matar vizinho no Caribe, se candidatou à presidência dos Estados Unidos e agora é acusado de sonegar impostos

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Por Mike Isaac
Atualização:
John McAfee foi acusado de assassinato e já foi candidato à presidência dos Estados Unidos Foto: Alexandre Meneghini/Reuters

Pioneiro dos softwares antivírus, John McAfee voltou às manchetes nesta semana por mais um escândalo: segundo informações do Departamento de Justiça dos EUA, ele foi preso na Espanha, acusado de evasão fiscal. É só mais um capítulo em uma série de aventuras de um dos personagens mais controversos da indústria de tecnologia. Aos 75 anos, McAfee é uma lenda no Vale do Silício e ganhou milhões com a empresa de cibersegurança que ainda leva seu sobrenome. Mas ele também já foi acusado de assassinato, candidato à presidência e se enfiou em uma série de episódios malucos. 

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Nascido na Grã Bretanha e criado no Estado americano da Virgínia, McAfee não tem mais nenhum envolvimento com sua empresa desde os anos 1990. Hoje, a empresa é comandada pela companhia de private equity TPG, depois de pertencer à Intel por quase uma década – a fabricante de chips havia pago US$ 7,7 bilhões pela companhia de cibersegurança em 2010. Depois de vender sua empresa, ele fez de tudo um pouco – e seu último truque foi usar sua influência para vender criptomoedas. 

Os promotores do Departamento de Justiça acusam McAfee de não apresentar declarações de imposto de renda de 2014 a 2018, mesmo tendo auferido milhões de dólares “promovendo criptomoedas, realizando trabalhos de consultoria, dando palestras e vendendo os direitos da história da sua vida para um documentário”, de acordo com os termos do indiciamento no Tribunal de Tennessee que o Departamento de Justiça apresentou. Segundo o órgão, McAfee deve ser extraditado da Espanha para os EUA, mas não há datas para quando isso pode ocorrer. 

De acordo com os autos, McAfee fugiu às suas obrigações fiscais aceitando pagamentos por meio de contas bancárias e contas em criptomoeda que foram abertas por outras pessoas. Além disso, ele também tentou se esquivar da Receita Federal americana realizando extensivamente negócios em criptomoeda e compra de ativos – incluindo propriedades e um iate – em nome de terceiros.

Cada uma das acusações de evasão fiscal implica uma pena de prisão máxima de cinco anos e, no tocante à apresentação de declarações, a pena resultante é de um ano de prisão no máximo. Uma ação separada impetrada na segunda-feira pela Securities and Exchange Comission (SEC, órgão americano de funcionamento similar à da brasileira CVM) contra o empresário e seu guarda-costas Jimmy Gale Watson, forneceu mais detalhes das alegações do governo.

A SEC alega que McAfee ganhou mais de US$ 23 milhões de 2017 a 2018 recomendando várias “ofertas iniciais de moeda” – uma espécie de crowdfunding (financiamento coletivo) com criptomoedas – para suas centenas de milhares de seguidores no Twitter, e oferecendo tais recomendações como sendo imparciais, mas sem revelar que estava sendo pago pelo trabalho.

Segundo a denúncia de 55 páginas, metade dos valores recebidos por ele foi em Bitcoins e metade em Ether, moeda virtual da rede Ethereum, parente da Bitcoin, e foram pagos pelas empresas que estavam vendendo as moedas.

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Depois da acusação de assassinato, McAfee pediu asilo para a Guatemala, mas foi extraditado pouco tempo depois do país Foto: Reuters

Fuga e delírio no Caribe

Antes de se envolver com as criptomoedas, McAfee teve uma década bastante animada. Em 2012, ele foi considerado desaparecido de sua casa em Belize. O motivo? A polícia local o procurava para ser interrogado sobre a morte do seu vizinho, Gregory Faull. 

Ele desapareceu depois de a polícia anunciar que era uma “pessoa de interesse” na investigação. Mas continuou com seus blogues e tuítes, tendo insultado a polícia e o governo de Belize e disse ter fugido dali temendo por sua vida. 

Algumas semanas depois, pediu asilo político na Guatemala. Seu advogado disse que ele vinha sendo perseguido porque se recusou a dar mais dinheiro às autoridades de Belize. O primeiro ministro de Belize, Dean Barrow, chamou McAfee de “louco”. O esconderijo de McAfee na Guatemala foi revelado inadvertidamente dias depois por um jornalista e fotógrafo que o entrevistou e ele foi preso neste país pelas autoridades de imigração.

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Ele desapareceu da vista pública durante anos, até que, em 2016, decidiu tentar a indicação como candidato Libertário à presidência dos Estados Unidos. O processo foi conturbado. Em um vídeo de campanha, ele disse “Um brinde aos loucos”, acrescentando que nem ele ou colegas candidatos Libertários tinham alguma chance de se tornar presidente – no fim das contas, ele perdeu a indicação do partido para Gary Johnson.

Em 2019, um tribunal da Flórida ordenou que ele pagasse US$ 25 milhões numa ação cuja sentença foi contrária a ele, movida pelo espólio de Faull. No Twitter, McAfee disse que não pagaria, alegando que o julgamento era parte de “uma extorsão legal direcionada contra a classe abastada dos EUA e que “jamais foi suspeito de assassinato pelas autoridades em Belize ou qualquer outro lugar.

Meses depois, a Reuters reportou que ele chegou à Grã-Bretanha depois de ser detido, com sua mulher, ao entrar na República Dominicana com armas de fogo em seu iate. Indagado pelo procurador geral do país caribenho para onde desejava ir, ele decidiu seguir para Londres”, disse Candido Simon, advogado que representou McAfee na República Dominicana, à agência de notícias. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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