A investida zumbi

Eles abandonaram o cinema cult e investiram as economias para tentar fazer sucesso com websérie

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Por Murilo Roncolato
Atualização:

SÃO PAULO – Um zumbi bate à porta de um apartamento em São Paulo. Sem desespero. Para os moradores Bocarelli e Kaiser, dois garotos entediados com a vida na metrópole, esse é o dia mais aguardado de suas vidas. É chegada a hora de colocar em prática tudo o que aprenderam assistindo na internet aos famosos vídeos de Serrote sobre como sobreviver a um ataque do gênero e arrebentar todos os zumbis que estiverem à solta – não porque eles devem fazer isso, mas apenas porque querem e não há ninguém vivo para impedi-los.

 

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É apostando em elementos típicos da cultura nerd que um grupo de recém-formados em Cinema pretende fazer sucesso.Destoando do que é costume entre seus colegas universitários, Rafael Baliú, de 24 anos, e Chris Tex, de 23, abandonaram os curtas-metragens, dispensaram o selo cult e optaram por não perder tempo esperando editais. Apostaram na websérie – seriados transmitidos somente pela internet – como gênero, zumbis como tema central do enredo, um roteiro divertido voltado para um público mais jovem e o crowdfunding como forma de arrecadar quase R$ 32 mil.

“O tempo de esperar um edital é o que a gente gasta para produzir um filme. Um vídeo na internet tem muito mais visibilidade que um curta premiado. E no fim, a gente tem uma veia mais comercial mesmo”, justifica Chris Tex, idealizador do projeto e diretor do Nerd of the Dead. Após concluir o roteiro com o amigo Rafael, os dois reuniram outros 18 amigos e conhecidos da faculdade para assumir os postos na fotografia, arte, som e atuação – há apenas um ator profissional no elenco.

A série conta com quatro episódios na primeira temporada,Três já estão gravados e custaram aos rapazes algo próximo a R$ 30 mil. Chris Tex conta que, após zerar suas economias guardadas de um ano de trabalho em uma produtora, terá de usar ainda a verba do seu seguro-desemprego para finalizar o terceiro episódio.

O “grand finale” da primeira temporada – ninguém sabe ainda se haverá uma segunda – deverá ser o mais caro e, por isso, a sua existência está condicionada ao sucesso da campanha de arrecadação no Catarse. Até agora foram captados só R$ 8,2 mil.

“Desde o início a ideia era usar financiamento colaborativo. Mas hoje sei que a arrecadação não vai me ressarcir, ainda mais porque temos as recompensas do Catarse para fazer. Vai dar prejuízo, ao menos a curto prazo”, diz Tex, que acredita que no Brasil ainda “não há o costume de doar para projetos assim”. Os garotos garantem que permanecerão com a produção toda na internet, ainda mais agora que fecharam parcerias importantes com empresas de web. Mas dão sinais de que podem repetir o mesmo caminho de outras produções originais da internet.

“Se uma grande marca bancar a produção para ela ficar ainda melhor, eu vou achar ótimo”, afirmou Tex, que não descarta a possibilidade de ir para a televisão, caso tenha chance.

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A ideia de levar nerds e zumbis para a telona em formato de longa-metragem até foi cogitada, mas logo descartada pois os diretores sabiam que dependeriam de muita gente para que isso pudesse acontecer. “A internet corta os meios de distribuição. Não precisamos de ninguém negociando sala de cinema. Se o ‘Nerd’ tivesse que depender disso, seria inviável”, opina Baliú.

Usar a internet como vitrine tem funcionado. Segundo Tex, a websérie – que ainda nem viu a luz do dia – já abriu portas para os recém-formados. “A internet tem de ser nossa aliada. Vamos usá-la para as pessoas verem nosso trabalho. Nesse mercado, é preciso ter nome e a gente está tentando fazer o nosso.”

“Vocês são nerds?” Os jovens roteiristas riram da pergunta. Rafael é dono de um estante cheia de “obras-primas” clássicas dos quadrinhos, como Sandman e Watchmen. Chris é mais ligado em mangás e videogames. “A gente completa o que falta de nerd no outro.”

Zumbis nunca fizeram parte do repertório dos dois, embora sempre aparecessem em discussões intermináveis de amigos. Hoje, são quase especialistas. Juntos, recomendam uma lista de filmes clássicos, de terror e deboche, à qual todo iniciante do universo morto-vivo deve estar em dia.

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Dia dos Mortos (Day of the Dead, 1985); A Volta dos Mortos Vivos (The Return of the Living Dead, 1985); Todo Mundo Quase Morto (Shaun of the Dead, 2004); Juan de los Muertos (Juan of the Dead, 2011) e Zumbilândia (Zombieland, 2009) – além da HQ de The Walking Dead que, segundo Baliú, “é muito melhor do que a série”.

Inspirados pelo diretor britânico Edgar Wright (Todo Mundo Quase Morto e Scott Pilgrim Contra o Mundo), os amigos decidiram falar de zumbis sem se ater a “detalhes”, como as razões da sua origem, ou vê-los como peça de uma trama de terror. “Pensamos no zumbi como um alívio, e não como algo assustador. Eles (os personagens Bocarelli e Kaiser) querem viver esse mundo de liberdade. Brincamos com isso: ‘como seria se acontecesse uma invasão zumbi?’”

O primeiro episódio deverá estrear gratuitamente em 20 dias. “A ideia é chamar mais atenção para a série antes que acabe o período de captação no Catarse. Vamos ver no que dá.”

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—-Leia mais:Link no papel – 1/4/2013

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