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A luta de um pai contra o vício do filho no iPad

Acho que meu filho de seis anos está viciado no iPad

Por Redação Link
Atualização:

Acho que meu filho de seis anos está viciado no iPad.

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Ele quer usar o aparelho constantemente. No carro. E a todo momento em casa. Ele chega a levar o aparelho para a mesa na hora do jantar.

Quando eu lhe digo que é hora de desligar e ir para a cama, ou colocar os sapatos, ou então de pegar o ônibus da escola, ele não me ouve nas três primeiras vezes que eu falo. Às vezes, ele se mostra curiosamente irritado quando digo que vou ter que tirar o aparelho dele — uma irritação que não é habitual do seu temperamento. É isso que me faz pensar que ele está viciado.

E acredite — tendo lido a série do New York Times sobre os efeitos psicológicos dos aparelhos eletrônicos sobre as mentes infantis, estou muito preocupado.

Agora, antes de começarem a me enviar uma saraivada de e-mails sobre o “pai malvado”, quero lhes dizer que eu descrevi o que o meu filho quer, não o que ele consegue. Nós temos regras. E uma regra que estabeleci para meus três filhos é: nada de aparelhos eletrônicos nos dias de aula, exceto quando for realmente necessário para um trabalho de escola. Nada de aparelhinhos na hora das refeições ou de dormir. Essas engenhocas eletrônicas são boas quando você está em casa, doente, ou num carro durante uma viagem longa.

Meus dois filhos mais velhos respeitam essas regras (na maior parte das vezes). Mas o mais novo insiste continuamente nesse maldito iPad.

E vou ser franco com vocês: no geral faço valer as regras, mas às vezes fica difícil. Porque, veja bem: quando ele está com o seu iPad, está feliz. Calmo. Envolvido. E nesta família, meus dois garotos mais velhos formam um bloco adolescente (eles estão com 13 e 12 anos), portanto existe uma grande diferença de idade em relação ao mais novo. Por isso é difícil encontrar atividades, jogos ou conversas que envolvam os três ao mesmo tempo.

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O iPad é uma babá eletrônica mágica que gera uma paz instantânea na casa. Se me disserem que nunca, mesmo ocasionalmente, foram tentados a deixar o aparelho na mão do seu filho, duvido.

O que complica ainda mais meus sentimentos é que, no geral, meu garoto de seis anos não está jogando videogames bobos. Ele não tem autorização para jogar jogos violentos ou que o jogador fica atirando para todo o lado. Ao contrário, eu o estimulo a jogar aplicativos criativos, e é o que ele faz na maior parte das vezes.

Ele passa horas, por exemplo, jogando o Puppet Pals, um aplicativo grátis que permite criar desenhos animados. Você escolhe um cenário, digamos, o faroeste, ou um navio pirata. Depois arrasta os personagens para o cenário com os dedos; pode movê-los para a esquerda, para a direita, para cima ou para baixo, para a frente ou para trás (eles ficam menores que você os afasta para mais longe). Você é que se encarrega do diálogo. O aplicativo grava tudo o que é feito, tanto o áudio como os movimentos do personagem. E mais tarde o desenho feito pode ser exibido para o pai orgulhoso. Sim, meu filho de seis anos está criando seus próprios curtas animados.

Ele adora também o EasyBeats, um aplicativo de música em que você determina que a trilha de um instrumento seja tocada uma de cada vez, enquanto o compasso de quatro tempos toca repetidamente. Ele cria assim ritmos complexos, com um instrumento de cada vez.

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Vamos lá, como aplicativos como esses podem ser ruins para uma criança? É realmente muito diferente de brincar com recortes de papel? Ou blocos? Ou uma bateria de brinquedo?

Quando ele brinca com seus joguinhos, prefere aqueles que exigem reflexão como o Cut the Rope (um jogo de quebra-cabeças baseado em física, muito inteligente), ou o Rush Hour (são quebra-cabeças de estratégia). Droga, e mesmo o Angry Birds também exigem alguma reflexão. Você tem de planejar e calcular antecipadamente e usar os recursos com inteligência.

Nos velhos tempos, costumávamos criticar tudo o que as crianças viam na TV — mas no geral os pais faziam uma exceção para programas educacionais, como Sesame Street (Vila Sésamo) e Between the Lions. Como neste caso agora é diferente? Não devemos também fazer exceções para aplicativos criativos e de resolução de problemas?

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Em outras palavras, tenho pensado muito ultimamente. Um aparelho é automaticamente nocivo para nossos filhos só porque é eletrônico? E se ele estimular o amor pela música, uma afinidade pelo cinema e lhe der experiência em termos de estratégia e resolução de problemas? É nocivo uma criança ficar tão apaixonada por exercícios mentais? Estou realmente sendo um bom pai tirando ISSO dele?

No momento, estou tentando seguir o mantra “moderação em tudo”. Enquanto o uso do iPad fizer parte de uma dieta equilibrada de brincadeiras mais físicas e atividades não eletrônicas, acho que meu garoto provavelmente ficará bem.

Mas adoraria ouvir as ideias dos leitores (sem julgamentos de ordem moral) nos comentários.

* Texto originalmente publicado em 24/02/2011.

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