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Investidora e presidente da G2 Capital, uma boutique de investimento em startups. Escreve mensalmente às terças

Opinião|A prova das startups

Empresários de startups já estão conscientes de que, por mais favoráveis que os ventos soprem, nunca estiveram tão pressionados a mostrarem o valor real de seus negócios

Atualização:

O ano de 2019 chegou repleto de notícias quentes para o cenário de inovação. Há vasto apetite entre os investidores, a lista de unicórnios só cresce e a expectativa em torno das aberturas de capital (IPO, na sigla em inglês) das gigantes de tecnologia é imensa. Mas engana-se quem pensa que essa conjunção de fatores acomoda o mercado. 

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Empresários de startups já estão conscientes de que, por mais favoráveis que os ventos soprem, nunca estiveram tão pressionados a mostrarem o valor real de seus negócios para conseguir investimento, seja nas primeiras rodadas ou em novos aportes. 

Essas doses moderadas de otimismo têm explicação. A era do dinheiro farto calcada em valuations (avaliações) estrondosas e projeções ilusórias de resultados não existe mais. E os empreendedores passam a ser cobrados por dados financeiros realistas e gestão eficiente dos recursos. 

Alguns casos de excessos recentes, como o da americana Hustle, reforçam a tendência. Com muito dinheiro captado em 2018, extrapolou nos gastos – de um salário astronômico ao presidente executivo até excentricidades como o chá kombucha servido de graça. Em janeiro, a conta chegou. As receitas não atingiram as previsões e a empresa teve de cortar 30% das vagas, além de precisar se reposicionar. 

Essa maturidade esperada dos gestores e dos negócios está se traduzindo na preferência por investimentos em empresas que já mostram tração. Ao menos nos EUA, o porcentual de recursos dedicados às empresas em fase de captação de capital semente caiu de 26% para 18% no 2.º semestre de 2018, segundo a consultoria CB Insights. Por outro lado, empresas em estágio de expansão subiram a 24%. 

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Os IPOs das grandes empresas como Uber, Airbnb, Lyft, previstos para esse ano também terão muito a dizer. A expectativa é grande justamente porque algumas delas nunca registraram resultado positivo. Os números obtidos na abertura de capital serão um termômetro importante para o mercado de qual retorno podem trazer para os investidores, que apostaram no escuro anos atrás. 

A cautela maior com as “promessas”, entretanto não significa que as portas estão fechadas para as empresas menores – ou que menos unicórnios devem surgir nos próximos tempos. Como disse o investidor Sunny Dhillon, o excesso de otimismo do Vale do Silício está dando lugar ao realismo.

O dinheiro continua a existir assim como o interesse dos investidores e fundos em encontrarem bons negócios em expansão. As empresas estão num momento único para fazer suas operações crescerem – tecnicamente falando, é muito mais fácil ganhar tração hoje do que há 15 anos, quando falar em tecnologia significava comprar um servidor. Mas o maior desafio estará para que as empresas consigam mostrar que suas ideias têm valor real e não são só boas apostas. *É INVESTIDORA ANJO E PRESIDENTE DA BOUTIQUE DE INVESTIMENTOS G2 CAPITAL

Opinião por Camila Farani
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