Aberta a temporada de tablets no Brasil

Símbolo da era pós-PC, aparelho está às vésperas de seu grande momento no Brasil, com indústria e governo trabalhando para isso

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Por Redação Link
Atualização:

Por Filipe Serrano e Murilo Roncolato

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Se depender da promessa do governo federal e dos concorrentes da Apple, até o fim do ano o Brasil terá uma grande oferta de tablets – e muitos inclusive produzidos por aqui. De um lado, empresas planejam lançar produtos competitivos neste mercado – pequeno e promissor, mas já dominado pelo iPad. Na outra ponta, o governo estuda incentivos fiscais e políticas para atrair a produção local do produto e, consequentemente, tecnologia e investimento para o País.

Apenas dois dos grandes fabricantes (Samsung e a Apple) comercializam aparelhos no País atualmente. E mesmo com as duas marcas, foram vendidos cerca de 100 mil tablets no ano passado no Brasil, segundo dados da consultoria IDC Brasil. A expectativa para 2011 é a de que esse número triplique. Mas no jogo de previsões, algumas variáveis são determinantes.

A mais discutida nas últimas semanas – e a mais importante – é a aprovação de uma emenda à Medida Provisória 517, que prevê o enquadramento de tablets na Lei do Bem. No seu capítulo de inclusão digital, a lei beneficia alguns aparelhos de tecnologia da informação isentando-os de PIS e Cofins, os chamados impostos sociais, que equivalem a 9,25% do preço sobre o produto.

O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, à frente das discussões sobre o tema, indica que há um consenso para um resultado positivo no Congresso (leia entrevista aqui). A presidente Dilma Rousseff tem participado das conversas e demonstrado interesse e uma boa expectativa sobre o potencial benefício para a indústria (aumento de produção, novas tecnologias, mais investimento em pesquisa) e para a população (acesso à informação, geração de empregos, educação).

Na expectativa. Para o diretor de informática da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Hugo Valério, a desoneração “é fundamental para o setor e para que a tecnologia chegue, de fato, à população”. Valério pondera que apesar da “grande expectativa”, o trabalho será inútil se não for construída uma “infraestrutura que garanta conexão boa e universal” em todo o País.

Fabricantes consultados pela reportagem disseram que foram procurados pelo o governo para tratar do tema. Entre as empresas, a redução de impostos é considerada “essencial para o desenvolvimento do mercado”, resume a diretora de desenvolvimento de produtos da Positivo Informática, que pretende produzir e lançar um modelo de tablet no segundo semestre.

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A Samsung, que já produz o Galaxy Tab no Brasil e pretende trazer novos modelos nos próximos meses, prefere não fazer estimativas sobre impacto da possível proposta do governo no preço final de seus produtos. O tablet atualmente pode ser encontrado por R$ 1,7 mil – o iPad custa a partir de R$ 1,4 mil.

O preço competitivo do iPad – cujo segundo modelo foi lançado em mais 25 países na sexta-feira – tem sido uma das dificuldades dos concorrentes e a MP poderia trazer uma vantagem para os produtores locais de tablets.

A Itautec, outra que promete lançar um tablet no início do segundo semestre, também aposta na redução de impostos. “Se tivermos produtos bons e imposto menor, é possível competir com o iPad”, disse o vice-presidente da unidade de computação da empresa, José Roberto Ferraz de Campos.

Atualmente, o principal concorrente do iPad nos Estados Unidos é o modelo Xoom da Motorola. A empresa enviou na semana passada um convite à imprensa brasileira para um evento no dia 12 que sugere o lançamento do tablet.

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Já a Asus promete trazer quatro modelos de tablets para o Brasil no segundo semestre, começando pelo modelo Transformer, que utiliza uma base com teclado e formato de laptop.

Concorrência. Se 2011 será o ano da enxurrada de concorrentes do iPad, 2012 promete ser o da “briga por preços”, afirma Luciano Crippa, analista da IDC Brasil que estuda esse mercado. Os iPads mais básicos com 16 GB, sem 3G e sem câmera, custam R$ 1,4 mil. Para Crippa, se um fabricante suprimisse as fraquezas técnicas e vendesse seu produto por um preço menor, ainda teria de superar o peso da marca da Apple.

Apesar disso, o mercado ainda tem uma demanda muito grande por aparelhos mais acessíveis. Cerca de 40% dos 100 mil tablets vendidos no ano passado são de fornecedores “não oficiais”,

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Na famosa rua de eletrônicos de São Paulo, a Santa Ifigênia, o Galaxy Tab da Samsung é facilmente encontrado por R$ 1,5 mil. O primeiro tablet da Apple sai por R$ 1,75 mil. Procurando bem, encontra-se até o novo modelo, o iPad 2, e de todos os tipos (de 16 GB/Wi-Fi até 32 GB/Wi-Fi e 3G). O comerciante disse que conseguiu os aparelhos três dias após o lançamento nos Estados Unidos e cobra entre R$ 2,2 mil a R$2,8 mil por eles.

Além das marcas conhecidas, encontram-se na rua, em abundância, tablets da coreana Coby, chamados Kyros, por preços que vão de R$ 300 a R$ 400; ou curioso aparelho chinês de 32 GB, com 3G, com a cara de um iPad, o tamanho de um Galaxy Tab, sistema operacional do Google (Android 1.6) e aplicativos da Apple, pela bagatela de R$ 410.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a pedido do governo, fez um estudo com o objetivo de entender o setor de telecomunicações e sugerir modos de dinamizá-lo. A responsável pelo trabalho, Fernanda De Negri, acredita, em termos de política industrial, que o governo faz bem em desonerar produtos como os tablets, mas ainda enumera uma série de barreiras a serem quebradas, como investimento em infraestrutura, a conclusão do Plano Nacional de Banda Larga (e acesso mais rápido nos grandes centros) e uma visão mais estratégica em relação às compras públicas.

Em relação às empresas nacionais, as deficiências giram basicamente em torno do investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e diversificação da produção. “As empresas que vendiam uma coisa só, agora compram outras empresas para vender produtos e serviços variados”, diz De Negri.

“Eu acho que tablets podem ser a tendência do futuro. É um produto relevante e certamente haverá um novo mercado para eles”, explica a economista. “Há uma avenida aberta. Veja as possibilidades em escolas e universidades, os alunos vão poder andar com um tablet no lugar de 10 livros.”

Eis alguns dos aparelhos que chegarão ao mercado brasileiro ainda em 2011. Algumas empresas confirmam lançamento, outras não comentam

 

(FOTOS: Divulgação)

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