PUBLICIDADE

Acervos digitais

Primeiro dia de simpósio em SP discute direitos autorais, Google Books e as questões da digitalização

Por Tatiana Mello Dias
Atualização:

Aumenta o acesso à internet. Melhora a velocidade da conexão. E, aos poucos, a vida fica cada vez mais online. É por isso que pesquisadores de todo o mundo estão interessados na produção de conteúdo qualificado para a rede – e essa produção passa também pelos grandes projetos de digitalização, que levam livros e obras empoeiradas à web. E foi para discutir isso que o Ministéiro da Cultura, a Brasiliana USP e a Casa de Cultura Digital realizanm durante esta semana, em São Paulo, o Simpósio Internacional de Políticas Publicas para Acervos Digitiais.

PUBLICIDADE

Logo no hall de entrada do auditório no Novotel Jaraguá, dois iPads e um Kindle chamavam a atenção dos visitantes para novas maneiras de ler livros. Dentro da sala lotada, as grandes questões que envolvem o tema. Quais são as melhores políticas, tecnologias, modelos de negócios? “Nós não queremos inibir a construção das bibliotecas, mas sim estimular uma demanda da população por mais bibliotecas”, disse Pedro Puntoni, coordenador da Brasiliana, anfritriã do evento.

Logo na apresentação do evento, além da Brasiliana, estiveram outros dois grandes projetos de digitalização: Wikisource, a biblitoteca livre da Wikimedia Foundation, e a Gallica, versão digital da Biblioteca Nacional da França. Não foram discutidos, por exemplo, modelos como o Google Books – bastante criticado no evento. Para os especialistas que estiveram ali, o Google Books tem os seus méritos – foi o responsável por digitalizar milhões de obras de várias bibliotecas importantes – mas não funciona, em si, como uma biblioteca. “O Google entrega o livro como uma soma de páginas. Séculos de estudos sobre biblioteconomia foram perdidos. Você procura por Cervantes e o Dom Quixote só o 29º link que aparece é Dom Quixote”, critica Puntoni. Frrederic Martin, representante da Gallica, endossa as críticas. “Se a Gallica que nós conhecemos hoje é assim, é por causa do Google Books. Mas há várias questões, como a exclusividade. Porque se nós adicionarmos acervos, eles serão indexados a todos os motores de busca”.

Pedro Puntoni, da Brasiliana

As bibliotecas querem se modernizar, mas também não querem deixar de ser bibliotecas. A Gallica, por exemplo, é um indexador alternativo muito bem sucedido. A Biblioteca Nacional da França começou a digitalizar seu acervo em 1992. Hoje são milhares de obras de todos os tipos e de várias bibliotecas – inclusive da Biblioteca Nacional do Brasil. As obras podem ser lidas em um aplicativo próprio, baixadas ou comercializadas por download ou tempo de leitura (valor fica entre 50% e 100% ao preço do livro de papel).

Direitos autorais A biblioteca digital da USP comemorou o simpósio com o lançamento da obra completa de Vinícius de Morais – a família do poeta doou todo o acervo à biblioteca. Isso é raro. Segundo Puntoni, os direitos autorais são um grande gargalo em grandes projetos de digitalização. “Temos obras raríssimas de Guimarães Rosa que não podemos digitalizar”, lamenta.

Primeira mesa de discussão  Foto: Estadão

O Wikisource, da Wikimedia Foundation, também incorpora obras de várias bibliotecas do mundo. Tudo é licenciado em Creative Commons e é permitido, inclusive, distribuição comercial. “Não há consenso hoje sobre o que significa não-comercial. É muito facil violar essas cláusulas. Para evitar duvidas, permitimos”, disse Mathias Schindler, da Wikimedia Foundation.

Publicidade

A Gallica tem obras em domínio público e também livros protegidos, adquiridos através de acordos com editoras.O maior problema são as obras ‘órfãs’, cujos responsáveis pelos direitos não podem ser localizados. A biblioteca opta por deixar essas obras de fora. Os direitos autorais, porém, ainda serão discutidos no evento – haverá uma mesa só sobre esse assunto.

O Simpósio acontece até quinta-feira (29) em São Paulo e está sendo transmitido ao vivo. Acompanhe tudo no site.

(fotos: Fli Multimídia/Garapa)

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.