Algoritmo de busca evolui para dar respostas

Máquinas chegam a resultados similares aos que as pessoas alcançariam, só que de forma diferente

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Por Redação Link
Atualização:

Por Steve Lohr*

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Para humanos, a inteligência dos computadores é um mistério. As máquinas parecem ter dupla personalidade. Às vezes, são muito inteligentes. Às vezes, extremamente burras. No mês passado, o Google anunciou uma significativa revisão de seu algoritmo para ranquear os resultados de buscas. Segundo a empresa, o novo algoritmo rebaixa sites de má qualidade, criados principalmente para atrair tráfego e renda de anúncios. É um movimento para melhorar a qualidade da busca, mas também uma confissão do Google, o curador da internet, de que ele vinha sendo engambelado.

Uma semana antes, o computador Watson, da IBM, craque em responder perguntas, deu uma lavada em dois dos maiores jogadores humanos de Jeopardy, um jogo de perguntas e respostas popular na TV norte-americana. Ainda assim, em seu caminho para a vitória, Watson deu lá umas respostas absurdas, levando todos ao riso.

Os computadores são apenas tão espertos quanto seus algoritmos, programas de receitas de cálculo criados pelo homem, o bloco elementar do pensamento computacional. Quando um bom algoritmo roda em um computador poderoso, ele pode realizar façanhas incríveis. Mas algoritmos são em geral frágeis e simplórios, seguindo fórmulas, obstinadamente, como se usassem cabrestos. Eles podem ser surpreendentemente bons em tarefas definidas, como jogar xadrez. Mas são incapazes de processar coisas que humanos entendem sem o menor esforço, como nuances e senso comum.

Expandir os horizontes da inteligência dos computadores – mimetizando a compreensão humana – é um dos grandes desafios da ciência. O Watson da IBM e o algoritmo do Google destacam não só o ritmo cada vez mais rápido dos progressos mas também o quanto ainda falta a ser feito. Pesquisadores das duas empresas e um punhado de outros estudiosos estão nesse caminho. Em geral, eles focam na linguagem – coisas como programar computadores para reconhecer palavras e seus significado.

Pense nisso como a “Educação do Algoritmo”. As máquinas, desprovidas de conhecimento adquirido e da experiência de vida dos humanos, usam modelos estatísticos para chegar a resultados similares aos que as pessoas alcançariam, apenas de maneira diferente. Frederik Jelinek, um pioneiro do reconhecimento de voz, explica essa diferença em uma analogia com o ato de voar: “Aviões não batem as asas”.

Mas categorizar linguagem, com todas as suas sutilezas, continua sendo um formidável obstáculo para computadores. Por isso, o desafio de Watson foi infinitamente maior do que o aquele vencido por Deep Blue em 1997, quando o computador que jogava xadrez bateu o campeão mundial Garry Kasparov. “É muito mais difícil para um computador entender a linguagem no nível de uma criança de oito anos do que vencer o maior mestre do xadrez”, observou Oren Etzioni, cientista da computação na Universidade de Washington, em Seattle.

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Os algoritmos são atalhos codificados para certos fins. Nas buscas ou no comércio, as prioridades são oferecer informação rapidamente e apresentar um potencial consumidor a um anunciante. Esses são fins perfeitamente práticos e objetivos, mas também bastante estreitos.

O Google pode ser tomado como um bibliotecário. Digite algumas palavras na caixa de buscas e ele retruca: “Eu não sei a resposta, mas tentaria esses sites”. E faz esse serviço em frações de segundo, dois bilhões de vezes por dia.

O algoritmo do Google, dizem os especialistas, é rápido e poderoso, mas razoavelmente previsível. Isso abriu a porta para empresários da web que querem fazer os seus sites “sugarem tráfego dos mecanismos de busca”, como disse Amit Singhal, um especialista em pesquisas no Google.

O Google não deu nome para nenhum dos sites de “baixa qualidade” que tinha em mente quando redesenhou o seu algoritmo. Mas os analistas concordam que o alvo pareciam ser as chamadas content farms, sites que dispõem artigos em listas, preenchendo-os com os termos mais procurados. O Essortment.com é um site que foi rebaixado depois que o Google anunciou a mudança, de acordo com a consultoria Sistrix. Um artigo típico, “25 coisas para se fazer com a sua namorada”, inclui dicas como “cozinhem juntos”, “corram uma maratona juntos”, “acampem” e “façam compras juntos”. E faz amplo uso de palavras muito procuradas, como “garotas”, “namoro”, “casamento”, “solteiros”. A página em que o texto está tem um bocado de anúncios.

Um algoritmo mais inteligente, Singhal diz, faz que o Google não caia mais nesses truques. “Os truques baixos serão reconhecidos como truques baixos”, garante.

O futuro de mecanismos de busca, como o Google ou o Bing, será explorar os avanços no processamento da linguagem para que virem máquinas de dar respostas – algo como o Watson, mas na forma de um serviço. Eles já caminham nessa direção. Digite no Google: “Qual o tamanho do Empire State Building?”. O primeiro resultado não é um link, mas uma resposta: 381 metros.

* Steve Lohr é repórter de tecnologia do New York Times

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