Amigos; Amigos...
Orkut vai na contramão do Facebook e mantém contatos separados
29/08/2010 | 18h00
“O usuário brasileiro de redes sociais é sênior, tem demandas que os usuários de outras redes mais novas ainda não têm”. Foi assim que Victor Ribeiro, diretor de produtos do Google, explicou as mudanças que a empresa apresentou para a maior rede social no Brasil na última semana.
Agora, o Orkut organiza a rede de contatos do usuário em grupos, que são criados automaticamente e podem ser editados. A navegação fica baseada em abas, cada uma agrupando uma rede – são redes dentro das redes. É possível compartilhar conteúdo com grupos específicos de maneira pública e privada. E essas ações aparecem na home, que ganha uma caixa maior e destacada de atualização de status – à la Facebook – sobre a timeline de atualizações.
Antes e depois
“As redes sociais aconteceram no Brasil antes de acontecerem no mundo”, explica Ribeiro. O Orkut virou febre no País antes de a primeira grande rede social nos EUA, o MySpace, começar a ser falada pela mídia de lá. E por causa dessa experiência, os usuários do Orkut têm outras necessidades. O forte da rede são as comunidades, item em que o Facebook, apesar de crescer – de 7,9% no último ano para 26% em 2010 – não ameaça a hegemonia do Orkut: em junho, brasileiros viram mais de 21,5 bilhões de páginas dentro da rede social.
Exceto na parte das atualizações de status, as mudanças no Orkut vão na contramão do que o Facebook vem propondo. Na maior rede social do mundo, diferentes grupos interagem a partir de um contato em comum. Se você comenta a foto de um colega de trabalho, um colega seu do colégio ou o seu primo podem curtir a mesma foto: todos os contatos acabam no mesmo nível.
E isso pode ser ruim. “Quando as redes sociais crescem e as pessoas adicionam a elas gente de todos os círculos, param de compartilhar”, explica Ribeiro. Os usuários ficam desconfortáveis em publicar uma foto pessoal sabendo que um colega de trabalho pode vê-la. “Ninguém é uma pessoa só na vida real, e não precisa ser na rede social. Temos essa ideia de ‘persona’, da psicanálise; com a divisão em grupos, as pessoas podem ter personas diferentes, dependendo de para quem estão falando naquele momento”, diz.
A próxima mudança do Orkut deve ser na interface das comunidades. “Estamos ouvindo usuários e testando uma interface em uma comunidade específica, para receber o feedback”, explicou Eduardo Thuler, gerente de produtos de Social do Google.
O Google diz que o Orkut nunca parou de crescer na Índia, mas a maioria da população conectada a redes sociais por lá já é do Facebook. Por aqui, isso está longe de acontecer: de acordo com o Google, o Orkut cresce 12% ao ano, é lucrativo desde novembro de 2009 e é quase 9 vezes maior do que o Facebook. E quem vai para o Facebook não larga, necessariamente, o Orkut: dados da ComScore apontam que dos 8,3 milhões de visitantes únicos brasileiros do Facebook em julho, 7,6 milhões (ou 90,95%) também acessaram o Orkut.
Com a divisão, o Orkut quer trazer de volta quem migrou para o Facebook com a promessa de compartilhar conteúdo com um grupo específico – provavelmente pessoas que já tinha no Orkut, mas para as quais queria dizer algo específico. Na nova ferramenta, será possível dizer algo específico para todo mundo: o Orkut, afinal, virou uma lista telefônica da internet brasileira – quase todo mundo está lá.
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