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Apagão do Facebook diz muito sobre nós

Ausência de outro plano para comunicação entre pessoas e empresas revela como nos acostumamos com o conforto de ter várias plataformas integradas

Por Carlos Affonso de Souza
Atualização:
Facebook, Instagram e WhatsApp ficaram fora do ar por mais de seis horas na segunda-feira4 Foto: Tiago Queiroz/Estadão

O rei Creso, da Lídia, perguntou ao oráculo de Delfos se deveria atacar o exército persa. A resposta do oráculo foi que, caso ele atacasse, um grande império iria sucumbir. Sem titubear o rei ordenou o ataque. E assim acabou o império lídio.

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O apagão experimentado nesta segunda, 4, nos serviços do Facebook, Instagram e WhatsApp parece tão enigmático quanto a profecia de um oráculo, mas existe outra semelhança entre o erro de interpretação do último rei da Lídia e a ausência desses aplicativos numa segunda-feira: a mensagem, no final das contas, é sobre você.

No Twitter, o termo “voltou” entrou para a lista de assuntos mais comentados no Brasil, embora nada tivesse realmente voltado. Não faltou quem pensasse que o problema era na operadora de celular ou no Wi-Fi de casa. Isso revela o quanto o combo WhatsApp, Instagram e Facebook se transformou em uma verdadeira cesta básica do acesso à internet.

É aqui que a lição aprendida não é apenas sobre a gestão de servidores da empresa, mas especialmente sobre como usamos essas aplicações e o papel que elas desempenham em nossas vidas. Negócios dos mais diferentes tamanhos usam o WhatsApp para se comunicar com seus clientes. As fotos no Instagram impulsionam vendas e os grupos no Facebook juntam pessoas. O que acontece se tudo isso sai do ar ao mesmo tempo?

A ausência de um plano B para a comunicação entre pessoas e empresas revela como nos acostumamos com o conforto de ter várias plataformas integradas. E como para muita gente estar nessas aplicações significa estar na internet. A busca atrapalhada por substitutos que pudessem manter ativos os canais de comunicação é indicativo do quanto dependemos dessas plataformas digitais. Cada momento em que você pensou em mandar uma mensagem por WhatsApp para no instante seguinte lembrar que o app estava fora do ar é uma prova inconteste desse estado mental. Ao procurar outros meios de fazer com que a sua mensagem chegasse ao destino, seja por SMS, e-mail ou por outras plataformas, uma Internet maior do que três aplicações se descortinou.

Nos próximos dias a explicação do que causou a falha e como ela foi superada virá à tona. Mas talvez mais importante do que a explicação seja o lampejo de entendimento de como nossas vidas se tornaram umbilicalmente dependentes da interface digital, e mais especialmente de três aplicações.

Sabíamos todos para onde ir caso essas aplicações não estivessem disponíveis?

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As horas sem esses apps revelaram o tamanho da sua ausência no dia-a-dia de cada um de nós. O que você fez no dia em que WhatsApp, Instagram e Facebook saíram do ar? A resposta diz muito sobre como estruturamos nossas vidas ao redor de um punhado de aplicações na Internet.

Não é preciso ir ao oráculo para saber que, no futuro, esse incidente vai revelar o quão frágil são os nossos arranjos online e o quanto é preciso não confundir Internet com rede social.

*DIRETOR DO INSTITUTO DE TECNOLOGIA E SOCIEDADE (ITS-RIO)

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