Arte e tecnologia mesclam real e virtual

A exposição 'Emoção Art.Ficial 6.0', em cartaz no Itaú Cultural até 29/7, mostra o que há de novo na arte digital

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Por Anna Carolina Papp
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A exposição ‘Emoção Art.Ficial 6.0′, em cartaz no Itaú Cultural até 29/07, mostra o que há de novo na arte digital

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SÃO PAULO - Uma projeção de estrela-do-mar esquiva-se de um toque, leds piscando aleatoriamente compõem um vídeo 3D de pessoas se deslocando para o trabalho, dezenas de celulares interagem em línguas diferentes de acordo com os ruídos dos arredores. Essas e outras obras compõem a mostra Emoção Art.Ficial 6.0 (veja galeria de fotos abaixo), que questiona os limites entre o real e o virtual, procurando deixar essa linha divisória mais tênue.

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A exposição, em cartaz no Itaú Cultural, em São Paulo, faz parte da sexta edição da Bienal Internacional de Arte e Tecnologia. É composta por dez obras, sendo três delas brasileiras, elaboradas com novas mídias, softwares e dispositivos eletrônicos. “Não vejo a arte sendo criada sem a ajuda de algum tipo de tecnologia. Com as tecnologias mais recentes, temos um poder de processamento muito grande, possibilitando que o artista se expresse de uma maneira que não seria possível antes”, diz Marcos Cuzziol, um dos organizadores.

Para ele, é difícil delimitar com precisão o que é real e o que é virtual, tendo a arte e a tecnologia a função de mesclar cada vez mais esses mundos. “Para mim, a nossa vida é virtual. Tudo que processamos no cérebro, um super computador, vem de algum lugar. Como garantir que isso é real?  O mundo é todo digital”.

O organizador diz que, apesar de associarmos tecnologia a aparelhos mais novos e sofisticados, a relação entre arte e tecnologia é muito antiga. “É preciso lembrar que os primeiros seres humanos que imprimiam sua arte nas paredes criaram tecnologia”. E, hoje, conta ele, um artista que usa processamento em rede para gerar imagens encontra um resultado que ele próprio não consegue prever.

“O objetivo do Emoção Art.Ficial ao longo desses anos tem sido justamente levantar conhecimento para identificar esse tipo de poética. Atrás de um jogo de computador, por exemplo, há um trabalho artístico muito pesado, que a gente despreza “. Para Cuzziol, a tecnologia vive um período pelo qual o cinema já passou: o questionamento sobre seu valor artístico. “A arte contemporânea é a arte tecnológica”, afirma.

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Viva ao toque Uma estrela-do-mar virtual que parece estar viva. Essa é a obra “The Mimetic Starfish”, do inglês Richard Brown. A projeção é sensível ao toque, além de encolher-se ou esquivar-se com a mera aproximação de nossas mãos. “O movimento orgânico e os reflexos são muito similares aos de um organismo vivo.

“Meu objetivo com esse trabalho é fazer as pessoas questionarem sua percepção do real, perguntando: Isso está vivo? Como julgar se algo está vivo ou não?”, diz Brown.

O autor relata que, antes desse trabalho, havia feito um outro chamado “Biotica”, também sobre vida artificial. No entanto, devido à sua grande complexidade, a obra não teve uma boa aceitação por parte do público. Assim, a fim de tornar o trabalho mais acessível, ele e outros dois programadores readaptaram o software e, em quatro meses, criaram o “The Mimetic Starfish”, exposto no Millennium Day, que ocorreu em 2000, no Reino Unido.­

“A estrela tem um sistema muscular tridimensional computadorizado, que confere esse aspecto ‘vivo’. Todo o comportamento é gerado por simulações físicas e pela tecnologia de redes neurais”, explica. “É mimética, relacionando-se com ilusão e imitação”.

Brown conta um fato curioso e até irônico. Como o trabalho fora criado em 2000, sua equipe teve de achar um computador velho para rodar o programa, uma vez que os computadores atuais são muito rápidos e possuem interfaces diferentes. “Tive que ir ao eBay encontrar um Windows XP antigo e transportá-lo até aqui. Esse é um problema com trabalhos digitais: se você faz algo agora, em dez anos, pode se tornar obsoleto. Não é como pintura; você tem que achar um jeito de fazê-lo durar pelas gerações”.

Obras art.ficiais

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Em “Exploded View (Comuters)”, do Americano Jim Campbell, é preciso escolher o ângulo certo. A obra consiste em uma escultura 3D formada por milhares de pequenos leds, piscando de maneira aparentemente aleatória. No entanto, sob um determinado ponto de vista, é possível identificar pessoas que se movem apressadamente, carregando malas e ilustrando a vida urbana.

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“Só conseguimos distinguir as figuras porque  há movimento, aí a imagem se forma em nosso cérebro. É interessante quando a obra te coloca dentro dela de algum jeito, em uma interação que não é óbvia. É você tentando entender as imagens instintivamente”, diz Cuzziol.

Já os brasileiros Fernando Velázquez e Gisele Beiguelman buscaram questionar nossa geolocalização no espaço em “Você está aqui”. Na obra, o visitante fica rodeado por biombos, nos quais são projetadas centenas de imagens que os artistas captaram em diferentes cidades ao redor do mundo.

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Em um iPad, é possível selecionar uma cidade do banco de dados ou inventar uma qualquer. Dentre uma lista de atributos, é possível selecionar cinco, como  chuva, animal, cores, viadutos e verde. A seguir, o sistema monta uma cidade tanto com as imagens do banco de dados como com o que  busca via rede. Projeta-se o resultado em 360° nos biombos, com sonorização também baseada nos adjetivos escolhidos pelo público. O resultado pode ser enviado por e-mail ao visitante.

Na obra “Fala”, dos brasileiros Rejane Cantoni e Leonardo Crescenti, o visitante fica diante de um microfone e 40 smartphones interligados, que utilizam o sistema operacional Android. Com o reconhecimento de voz, os aparelhos tentam identificar a palavra dita, desencadeando um diálogo próprio entre eles com palavras similares, seja no aspecto fonético ou na tradução em outras línguas (sete no total).  A ação é contínua e também leva em conta o ruído ambiente. “É a máquina fazendo uma crítica à dificuldade de comunicação. São problemas típicos de linguagem que enfrentamos como seres humanos, mas que aqui estão retratados com aparelhos celulares”, aponta Cuzziol.

A exposição fica em cartaz até 29 de julho.

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