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Opinião|As redes sociais terão um teste pesado em 7 de Setembro

Vale do Silício descobriu que palavras na internet têm consequência no mundo real e que podem levar à implosão de democracias

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Jair Bolsonaro, presidente da República Foto: Evaristo Sá/ AFP

As redes sociais viverão seu primeiro teste pesado no próximo 7 de Setembro. Em 6 de janeiro, quando o Congresso americano estava reunido para homologar a eleição de Joe Biden, o então presidente Donald Trump incitou a invasão do Capitólio. Trump vinha mentindo descaradamente nas redes, acusando fraudes eleitoral onde não havia — e todo espaço lhe foi permitido para que atacasse a democracia como se não houvesse consequência.

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Quando o Vale do Silício descobriu que palavras têm consequências no mundo real, que palavras radicalizam pessoas e podem levar à implosão de democracias, Trump foi expurgado das principais redes. Pois agora será a vez de Jair Bolsonaro.

Bolsonaro tem tido espaço no Facebook, no Twitter e no YouTube para atacar sem qualquer traço de prova o processo eleitoral brasileiro. Mais recentemente, as redes que dão sustento ao presidente têm também incitado policiais militares à radicalização política. Um levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública revelou que 27% dos PMs frequentam ambientes bolsonaristas radicais nas redes. Dentre os oficiais PMs, o que é mais preocupante, 23% estão nestes ambientes radicais. Um quarto. É muito. É inaceitável numa democracia.

São cidadãos armados, que no exercício da função não podem demonstrar preferências políticas, sendo incitados por um presidente da República que trata o atual ambiente político como uma guerra e prega o armamento da população.

É um erro, porém, nos limitarmos a Face, Twitter e YouTube ou mesmo ao WhatsApp. O ambiente não é o mesmo que era em 2018. O chinês TikTok cresceu violentamente nos últimos meses e vem se tornando a principal rede social no Brasil. Não é, infelizmente, estudada ainda o suficiente para termos uma noção de como anda seu pulso no processo de radicalização.

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Mas sabemos de outra rede que, para o bolsonarismo raiz, vem substituindo o WhatsApp. É o russo Telegram. Se já é difícil pressionar os americanos do Facebook, donos do Zap, quanto mais este app de mensagens cujo proprietário é russo e que tem centro de operações em Dubai. Segundo um estudo da UFMG divulgado em junho, 92,5% dos usuários preocupados com política no Telegram estão em canais bolsonaristas — dá aproximadamente 1,5 milhão de pessoas. De janeiro ao final do primeiro semestre, o volume de mensagens trocadas por ali foi catapultado em mais de 500%.

Ou seja, nestes novos ambientes, estão protegidos até da tímida porém existente autorregulação das empresas americanas.

O presidente Jair Bolsonaro não está bem. Precisaria de Congresso e do Supremo para erguer um orçamento capaz de lhe permitir aumentar o Bolsa Família e distribuir um Vale Gás. Sua relação com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, está cada vez pior. Com o Supremo, nem se fala.

A perspectiva de apagões se aproxima. A inflação galopa. Enquanto o mundo vê crescimento econômico, o Brasil está em queda. Seguimos com mais de 14 milhões de desempregados pelos números do IBGE. Para não falar do meio milhão de mortos pela covid e de uma campanha de vacinação precária pela falta de movimento do Planalto para comprar os imunizantes quando havia tempo de sobra.

Bolsonaro não radicaliza por ser forte. Ele radicaliza por estar fraco. Enquanto tiver espaço de ação nas redes sociais, porém, haverá quem o ouça. E muitos dos que o ouvem são cidadãos armados — daqueles sem farda, também daqueles com farda. É um barril de pólvora. O presidente está tentando acender o pavio.

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*É JORNALISTA

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