Assistente pessoal ainda é promessa para o futuro

Gigantes da tecnologia investem na criação de complexos sistemas de inteligência artificial que vão ajudar pessoas comuns a cumprirem tarefas do cotidiano; segundo especialistas, porém, tecnologia só chegará à sua maturidade em cerca de dez anos

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Por Matheus Mans
Atualização:
Alexa, da Amazon, opera em caixa de som Foto: Reuters

Um turista, no interior da França, quer comprar um sapato. Numa pequena loja, ele tenta falar com o vendedor em inglês, mas ele só fala francês. Com dificuldades, o homem saca o celular e explica a situação para o assistente pessoal, que assume o controle: conversa com o vendedor, faz o pagamento e, por fim, mostra o saldo bancário na tela. A situação parece cena de filme de ficção científica, mas está cada vez mais próxima de nós: os assistentes pessoais, aposta das gigantes da tecnologia, prometem mudar o modo como completamos tarefas e até nossa relação com o smartphone.

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Considerados serviços distantes e distópicos há alguns anos, os assistentes pessoais já estão presentes na vida das pessoas: Cortana, da Microsoft; Assistant, do Google; Siri, da Apple; e Alexa, da Amazon, são apenas alguns do programas acessíveis para usuários comuns. Além de entreter com respostas afiadas, eles ajudam com tarefas simples. É possível pedir ao Assistant, por exemplo, que ele programe o despertador para o dia seguinte. Ou pedir para a Cortana organizar a agenda do usuário. Isso não é nada perto do que eles poderão fazer em algum dia no futuro.

“Assistentes pessoais são tecnologias de aprendizado de máquina. Eles aprendem com as nossas necessidades e estilo de vida e, com o tempo, vão se aprimorando para nos ajudar ainda mais”, explica o diretor de engenharia do Google Brasil, Bruno Possas.

“Essa tecnologia ainda está na adolescência e muito tem que ser resolvido para que seja atingido o potencial máximo. Ainda não descobrimos nem uma fração de tudo que poderá ser feito daqui a alguns anos.”

No futuro, esses sistemas inteligentes vão ajudar as pessoas a organizarem melhor suas vidas. Quando uma pessoa quiser ir ao cinema, vai dizer apenas o comando “Quero ir ao cinema com minha namorada”. Ao ouvir, o assistente comprará os ingressos e a pipoca, verificará o trânsito, agendará um carro do Uber no momento exato para não chegar atrasado e outro para a volta. Bastará levantar do sofá, entrar no carro e assistir ao filme.

“A ideia dos assistentes é facilitar a vida das pessoas”, afirma o editor da Cortana na Microsoft Brasil, Renan Liahy. “Deve ser uma aplicação que faça tudo.”

Trato. A evolução dos assistentes pessoais também deverá mudar a relação das pessoas com o smartphone. A tendência é que os assistentes pessoais se tornem onipresentes, sendo acionados a partir de qualquer lugar. Isso vai libertá-los, de vez, dos smartphones. As empresas acompanham essa evolução, que promete um mercado gigantesco nas próximas décadas.

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De acordo com a consultoria norte-americana Gartner, pouco mais de 3% das casas já vão contar com um dispositivo com assistente pessoal, como Amazon Echo ou Google Home, até 2020 (ler mais ao lado). Há quem acredite, porém, que outros dispositivos de acesso aos assistentes pessoais serão criados.

“Eu acho que poderemos ter um dispositivo subcutâneo, como se fosse um plugue de ouvido”, afirma o diretor de Centro de Engenharia do Google no Brasil, Berthier Ribeiro-Neto. “As pessoas vão falar com o assistente pessoal, que estará neste plugue, para executar tarefas ou fazer ligações. Não haverá mais necessidade de ter um smartphone o tempo todo em nossos bolsos.”

O avanço da “internet das coisas”, por meio da conexão em objetos cotidianos, também vai ampliar o alcance dos assistentes pessoais. “A gente encaminha para a invisibilidade dos aparelhos. Nós vamos ter várias telas em nossa rotina, seja a televisão conectada, o fone de ouvido sem fio ou o relógio inteligente”, afirma o professor de comunicação digital da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), Eduardo Pellanda.

Barreira. Até lá, ainda há um caminho longo pela frente. Os pesquisadores ainda tentam fazer os sistemas de inteligência artificial entenderem o contexto dos usuários no momento em que eles pedem ajuda. Hoje, eles tendem a entender o pedido de forma literal.

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“Quando estamos num trem, temos vontade de ler alguma coisa ou ouvir música”, afirma Pellanda. “Por enquanto, os assistentes não conseguem entender que queremos algo para passar o tempo durante a viagem.”

Além disso, a inteligência artificial ainda precisa integrar o mundo virtual com o real, como acontece em aplicativos como o Uber. Ao solicitar um carro no serviço, ele aparece na porta de casa em alguns minutos. “Se eu falar que quero ver um filme de romance, o assistente vai apenas me mostrar a programação dos cinemas”, afirma Ribeiro-Neto, do Google. “O ideal seria que ele já comprasse o ingresso e escolhesse o assento, tudo num lugar só.”

A boa notícia é que os entraves estão sendo, aos poucos, superados. De acordo com especialistas, assistentes terão a capacidade de gerenciar nossas vidas em cinco anos. Em dez anos, eles serão capazes de completar tarefas sem supervisão. “O investimento nesse setor está vindo com força. É só sentar e esperar”, afirma Pellanda.

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