Bom em museu de ciência; bobagem para os de arte

Marcello Dantas, um dos principais curadores do Brasil, fala ao Link sobre o que acha da presença do 3D em museus

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Por Fernando Martines
Atualização:

Para a ciência, é válido. Para a arte, uma bobagem. Essa é a opinião do curador Marcello Dantas, um dos idealizadores do acervo do Museu da Língua Portuguesa e seu diretor artístico. Um dos principais nomes no Brasil quando o assunto é museu, Dantas é Formado em Cinema e Televisão pela New York University e pós graduado em Telecomunicações Interativas pela mesma universidade. Estudou História da Arte e Teoria de Cinema em Florença na Itália. O Link conversou com ele durante a preparação do especial sobre 3D que saiu na segunda, 28/6. Confira abaixo a entrevista e entre aqui para ver a edição 3D.

Marcello Dantas em exposição na Oca (FELIPE RAU/AE – 1/3/2010) Foto: Estadão

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A tecnologia 3D pode enriquecer os acervos de museus?

No que diz respeito aos museus de ciência e história essa tecnologia tem muito potencial, abre uma série de visualizações que de outra forma seriam muito difíceis de conseguir ou muito arriscadas para o acervoe isso é interessante. Quando você consegue acoplar conteúdo com uma visualização em 3D melhor do que a visualização convencional isso é muito válido. Agora, para museus de arte acho uma bobagem. Nada substitui a obra de arte em si.

A tecnologia do 3D existe há um bom tempo. Mas nunca se falou tanto nela como agora. Você acha que o 3D chegou essa à maturidade?

Realmente, o 3D é uma tecnologia muito velha. A chave da questão é que com a chegada da alta definição o 3D se tornou interessante. Porque antes quando se utilizava o 3D sobre uma plataforma de definição convencional, isso piorava a qualidade da imagem. Então quando a gente transitou para uma tecnologia digital de alta definição, o 3D ficou mais interessante.

Picasso em 3D então, nem pensar?

Eu acho Picasso 3D uma bobagem. Arte é composição, cor, contraste. Não acho que vá se criar um 3D art, arte não se cria  a partir de uma determinação tecnológica, ela se cria a partir de uma necessidade interior das pessoas. Agora ver a história de um Picasso, do fazer de um Picasso em 3D, uma coisa informativa, uma coisa didática e informativa, que te faz entrar na técnica, isso é muito interessante.

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E quanto à criação artística, você acha que o 3D é uma plataforma que abre um campo novo para os artistas, assim como foi a fotografia e o cinema?

Realmente não acho isso. Não tem ninguém produzindo arte em 3D com alguma relevância. Isso á balela. Há 20 anos quando começou a web, as pessoas falaram que viria ai uma coisa chamada web art e não aconteceu isso e nem vai acontecer. Com o CD-ROM foi a mesma coisa, diziam que  ele seria um novo meio artístico e nada aconteceu. Não é a mídia que define a arte. . Isso independe do suporte. É até possível que um grande artista um dia, usando uma plataforma 3D, crie uma grande obra de arte, mas isso não aconteceu. E se acontecer vai ser algo que vai partir do artista e não da tecnologia. A fotografia, por exemplo, ela é uma arte pictórica assim como a pintura e os primeiros grandes fotógrafos eram grandes pintores. O talento que importa e não a tecnologia.

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