Campus Party destaca empreendedor ?nerd?

Evento abriu espaço para startups receberem investimentos e mostrou potencial, mas estrutura apresentou problemas

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Por Bruno Capelas
Atualização:
 

Em sua sétima edição, a Campus Party Brasil já é considerada um evento maduro. Depois de se tornar conhecida como a feira dos nerds e dos downloads, o evento, realizado na última semana em São Paulo, investiu na ideia de se tornar um espaço para aprendizado e novos negócios, seguindo uma tendência vista em 2012 e que promete crescer cada vez mais. Para Paco Ragageles, fundador do evento, “essa foi uma feira com menos barulho e mais talento”.

Evidência disso foi a nova área da Campus, a Startup & Makers Camp, que recebeu 250 pequenas empresas da área de tecnologia para mostrar seus projetos. “A Campus se tornou um lugar onde você pode conseguir novos clientes, parceiros, funcionários e até mesmo investidores”, conta Alberto Bueno, da Profes, startup que liga alunos a professores particulares. Formado em Ciências da Computação pela USP, Bueno foi campuseiro – nome dado aos participantes que acampam nas barracas instaladas no local – entre 2008 e 2011, quando ainda era estudante.

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Ele não é o único. O paraense Luciano Santa Brígida vem à feira desde 2010, quando trabalhava em uma agência de marketing. Em 2013, ele voltou para buscar parceiros para contribuir com seu jogo educativo baseado na rotina da Câmara dos Deputados, chamado Deliberatório. “A Campus reúne mentes fantásticas. Aqui, faço grandes descobertas, especialmente nas conversas de corredor”, diz Luciano.

“O ambiente para negócios aqui na Campus Party é o melhor que se pode ter”, conta Bruno Amado, cofundador da Over Power Studios, empresa mineira que recebeu o primeiro investimento da feira. “Normalmente, os investimentos são fechados após um evento como esses, mas me chamou a atenção o número de investidores que vieram aqui durante a Campus”, avalia Márcio Brito, gestor de projetos de startups do Sebrae. Segundo a organização, 140 investidores vieram ao evento conhecer novas empresas.

Voltada para o mercado de jogos hardcore, a Over Power assinou uma parceria com uma publicadora de games brasileira, a B9 Corp, e deve receber recursos em breve. “Com isso, poderemos aumentar nossa equipe e desenvolver mais jogos.” Atualmente, a Over Power se prepara para lançar seu segundo jogo, Aces High, sobre combates aéreos. O nome foi inspirado em uma música da banda de heavy metal Iron Maiden. Coincidentemente, o vocalista do grupo britânico, Bruce Dickinson, foi um dos destaques da programação deste ano, falando sobre como é ser um empreendedor no setor de aviação. “Uma startup precisa de fãs e não clientes”, ensinou o inglês.

Terceiro plano

A área da inovação também foi alvo de críticas. O espaço da Startup & Makers Camp “foi um primeiro passo bem dado, mas o local deveria ser mais integrado à Arena, onde ficam os campuseiros”, diz Matheus Montenegro, da mineira Beved, uma plataforma que organiza cursos de ensino informal presenciais e online. “Isso pode trazer mais negócios e até mais entretenimento para a Campus.”

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Segundo ele, o espaço reservado às startups “ficou em terceiro plano”, recebendo pouca atenção. A solução foi apelar para o boca a boca. “Como somos uma empresa que busca o consumidor final, o jeito foi ir atrás e conversar com os campuseiros e mostrar quem somos. Foi bacana mesmo assim”, diz.

Reclamações também surgiram sobre as condições do local, que chegou a ter falta de água e luz no primeiro dia da feira, e tinha boa parte de seu piso sem o carpete, que cobria todas as demais áreas do Anhembi. Paco Ragageles comentou que o aluguel da área dedicada às startups, apesar de custar R$ 1 milhão ao orçamento da Campus, foi cedida de graça às empresas, além de ser localizada logo na entrada da feira. “Qualquer um tem direito de se queixar, mas acredito que são críticas injustas, porque o esforço da nossa parte é grande.”

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Furtos

A segurança também foi outro empecilho para as startups, e não foram poucos os empreendedores que tiveram seus computadores roubados. É o caso de Ludmilla Veloso, cofundadora de uma empresa de Fortaleza, que teve computador e carteira furtados, ficando sem documentos e cartão de crédito. “Virei indigente”, comentou. “O roubo atrapalhou muito. Além do impacto emocional, tínhamos vários clientes marcados para nos visitar aqui. Ainda vamos fazer a conta do prejuízo”, conta Veloso, que também foi palestrante na feira.

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Em resposta, a organização disse que reforçou a equipe de segurança para coibir crimes, mas disse que os participantes da Campus são responsáveis por seus pertences. Para Marcelo Pimenta, curador do espaço de startups, “o que aconteceu é um reflexo da sociedade em que vivemos lá fora”. Para 2015, estuda-se mudar a forma de acesso à área de startups.

“Tristemente, talvez tenhamos que criar registros e fazer um ambiente mais restrito para as empresas iniciantes”, lamentou Paco Ragageles. Além dos furtos, o evento ficou marcado pela prisão de dois campuseiros que trocavam fotos de pedofilia, no último dia de feira. /COLABORARAM MURILO RONCOLATO E LÍGIA AGUILHAR

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