Celular é ferramenta de saúde e bem-estar

Tecnologia que foca em qualidade de vida deve crescer 61% no mundo nos próximos quatro anos

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Por Ligia Aguilhar
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Tecnologia que foca em qualidade de vida deve crescer 61% no mundo nos próximos quatro anos

De futsal a judô, o professor de educação física Wesley Amorim sempre praticou algum esporte, mas nunca foi muito fã de corrida. Isso mudou há um ano, quando por recomendação médica começou a fazer caminhadas diárias usando um aplicativo no celular que monitora o progresso da atividade e registra dados como distância percorrida, ritmo e calorias consumidas.

 

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Em poucos meses, a caminhada evoluiu para ao menos oito quilômetros de corrida por dia, seis vezes na semana. “Meus amigos até brincam comigo, porque quando acabo de correr o aplicativo compartilha no Facebook o meu desempenho e só tem isso na minha página”, diz.

O aplicativo Nike+ Running, usado por Amorim – uma espécie de WhatsApp dos apps de fitness em termos de popularidade –, foi um dos responsáveis por trazer e impulsionar o mercado de sistemas de saúde e bem-estar para dispositivos móveis no Brasil, que nos próximos quatro anos deve crescer a uma taxa anual de 61% em todo o mundo e movimentar US$ 26 bilhões em 2017, segundo relatório da Research and Markets.

Fazem parte desse mercado aplicativos e dispositivos vestíveis capazes de tarefas como avaliar a qualidade do sono e indicar o melhor horário para dormir (ou acordar), contadores de calorias e monitores do progresso de atividades físicas como a corrida. Há ainda alguns mais complexos, como medidores de batimentos cardíacos, e outros mais simples, como um app que envia lembretes para o usuário beber a quantidade diária recomendada de água.

“É o que chamamos de ‘mobile driven life’, quando as pessoas veem cada vez mais benefícios em ter pedaços da sua vida controlados por apps”, diz Terence Reis, sócio da desenvolvedora de apps Pontomobi.

Essa conveniência já criou grupos como o Quantified Self, formado por pessoas que coletam dados sobre suas vidas diariamente por meio de apps em busca de mais produtividade e qualidade de vida. Com representações em todo o mundo, o grupo tem 46 membros cadastrados no Brasil.

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Todas as manhãs ao acordar, o carioca Fábio Ricardo Santos, coordenador do Quantified Self no País, registra o seu humor no aplicativo Moodscope. Durante o dia, utiliza o rastreador Fitbit, que pode ser colocado no bolso, para medir dados como quantidade de passos dados e calorias consumidas. “Nos dias em que fico muito tempo no computador, ele me conscientiza da necessidade de não ser sedentário”, diz Santos.

Antes de dormir, conecta uma pulseira chamada Lark ao seu iPhone. Com ela, consegue medir o padrão de sono e saber, por exemplo, quantas vezes acordou durante a noite. Com o acompanhamento, Santos diz ter feito descobertas como o seu tempo ideal de sono (6 horas e 45 minutos), quais alimentos melhoram sua performance no trabalho ou o deixam depressivo, e que tomar um banho gelado o ajuda a dormir com mais facilidade.

“Os aplicativos facilitam a colaboração entre paciente e profissionais da área de saúde. Eles tornam mais fácil responder a pergunta de como você está se sentindo hoje ou se sentiu na última semana”, diz Santos. Ele ressalta, porém, que os dados não podem ser assimilados como verdade absoluta. “É importante manter uma postura crítica e não aceitar como autoridade os dados numéricos em todas as circunstâncias.”

O advogado Elieser Leite usou o app Runtastic para monitorar sua evolução na prática de corrida. O resultado surpreendeu: perdeu dez quilos em cinco meses. “Você começa a querer diminuir o seu tempo e o app se torna um desafio”, diz Leite. Um desafio levado tão a sério que os lembretes frequentes no celular por vezes o deixaram constrangido. “Você está tomando um chopinho com os amigos e o celular apita avisando que está na hora de correr. Me dava um sentimento de culpa terrível”, diz.

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A bióloga Aline Barbosa, avessa aos exercícios tradicionais da academia, também se sentiu motivada a correr com o aplicativo da Nike. “À medida que eu corria melhor, tinha vontade de voltar no dia seguinte”, diz. “O ponto ruim era não ter um programa de corrida a ser seguido, por isso eu acho que apps não substituem a ajuda de um profissional.”

Aos poucos, aplicativos e sistemas que permitem medir a saúde e bem-estar começam a aparecer também embarcados em outros produtos. O Galaxy Gear, relógio inteligente da Samsung, já vem com um pedômetro, e o novo iPhone 5S tem acesso por biometria, abrindo espaço para uso dessa tecnologia de forma mais ampla.

Pulseiras e outros dispositivos vestíveis com sensores para monitorar a saúde também começam a chegar ao Brasil. A Misfit Wearables pretende lançar o medidor de atividade física Shine (veja teste ao lado) no País até o fim do ano. O cofundador da empresa, Sonny Vu, aposta que esses sistemas logo se tornarão essenciais na prevenção e redução de gastos com a saúde. “Eles vão promover ‘insights’ sobre nosso corpo que não tínhamos antes, gerando dados mais precisos para estimular as pessoas a mudarem hábitos de vida e serem mais ativas”, diz.

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