Chrome; a nuvem; o nomadismo e o futuro sem volta

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Por Lucas Pretti
Atualização:

Faz uns dois meses resolvi experimentar para valer o Ubuntu no dia-a-dia, no trabalho. É a mais amigável das versões de Linux (ou mais voltada para quem sempre usou Windows, o meu caso). Entre uma e outra adaptação estranha (coisas pequenas como velocidade do mouse, fontes, não instalar programas executáveis), a conclusão foi a seguinte: Linux é ótimo, desde que seja usado completamente integrado à nuvem.

Esta é a chave para entender a importância do Google Chrome OS, anunciado nesta quarta, 8.

 

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Leia também: • Análise – Chrome OS só vai decolar se usar a estratégia do Windows

Primeiro é legal entender certinho a expressão “nuvem” ou o nome oficial em inglês, cloud computing (computação em nuvem). O mundo da computação pré-internet foi todo construído sobre o conceito de software instalado. Você tinha um computador, comprava uma licença do programa e o instalava. O software ficava dentro da sua máquina, armazenado no disco rígido, pronto para uso local. Isso servia tanto para o sistema operacional (Windows) como para os outros programas.

A cloud computing rompeu com essa noção. Os chamados “softwares online” são executados direto dentro dos navegadores de internet, sem que precisem ser instalados no disco rígido local. Há centenas de exemplos, mas os mais claros vêm do Google. Veja o Google Docs, por exemplo, que substitui o Microsoft Office sem precisar instalar nada, roda direto dentro do browser. E o principal, a virada: o Google Docs não salva arquivos na máquina, não ocupa o disco rígido do computador, e sim a “nuvem”. O arquivo fica guardado em servidores de internet, acessíveis a partir de qualquer computador conectado.

Isso gerou dois fenômenos:

Maior importância do navegador - Já que a computação vem migrando para a internet, cresceu a importância de um navegador de internet (browser) que suporte tudo isso. Foi aí que surgiu o Firefox, da Mozilla, que inaugurou popularizou em 2004 a navegação em abas e, principalmente, as extensões (ou complementos ou add-ons). Tornou-se possível ampliar as funções do navegador com aplicativos (e não softwares instalados). O lançamento do Google Chrome, em 2008, aprofundou essa percepção, já que habilitou a criação de atalhos no sistema operacional que levam a softwares online, não instalados. Em vez de clicar duas vezes no ícone do Word e abrir o programa, você clica duas vezes no ícone do Google Docs e entra na internet (não precisa mais digitar o endereço do site).

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Fios cortados (mobilidade) - Com tudo acessível direto na internet, não é mais preciso ter um computador em casa com tudo instalado lá. Um computador “qualquer” se transforma no “seu” computador, basta ter um navegador bom e integrado às novas funções online. Com o barateamento dos notebooks e da banda larga e o maior acesso à internet via celulares e smartphones (redes 3G), começou a se popularizar no mundo a noção de nômade digital. É a pessoa que não precisa de um computador de mesa nem contato pessoal com colegas para realizar o trabalho. Na prática, ele tem acesso a tudo de qualquer lugar, desde que conectado à internet. Mudam as relações pessoais, a noção de presença e de hierarquia, desafia-se o esquema de trabalho tradicional, abrem-se possibilidade de novos estilos de vida numa metrópole (menos trânsito, mais qualidade de vida, etc.). Por enquanto são possibilidades.

Voltando à computação. Temos então um novo cenário, bem diferente do anterior. os softwares estão na internet e os navegadores são mais e mais importantes para sobreviver neste novo mundo. É aí que entra o Google Chrome OS.

Ele pretende ser a base deste novo mundo. Será um sistema operacional gratuito, baseado em software livre (como o Firefox) e completamente integrado com a internet. Quase nada precisará ser instalado nos discos rígidos para o uso pleno do Chrome OS, assim como o que considero ser o melhor uso possível para o Ubuntu. Se for bem aceito, servirá como o passo final em direção à onipresença da rede na vida das pessoas.

É claro que, como qualquer momento de transição, as novidades causam traumas. Daí a preocupação e a possível obsolescência da Microsoft, a antiga rainha daquele mundo em que os softwares eram vendidos em caixas e instalados para uso de apenas uma pessoa num computador local de mesa. O Windows já vem instalado de fábrica na maioria dos computadores – e foi assim que Bill Gates se tornou tão poderoso (o Windows “é” o computador para a maioria das pessoas). É agora que o reinado está definitivamente ameaçado (porque o Google “é” a internet para muitas pessoas, e a internet hoje “é” o computador).

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O último sistema lançado pela Microsoft foi o Windows 7. Rápido, leve, ótima usabilidade, com recursos voltados à internet e até oferecido de graça para testes, mas ainda baseado na antiga lógica: um sistema instalado para dar suporte a outros programas também instalados e vendidos. Este mundo está desmoronando, então desmorona também o reinado do Windows.

Os paradigmas de hoje são a cloud computing e os softwares open source e gratuitos. O modelo de negócios do Google (vender links patrocinados) consegue não ferir esses dois princípios. Afinal, para o Google, basta estimular o uso da internet para mais gente precisar de informações organizadas (busca) e portanto clicar mais em links patrocinados. O Google Chrome OS e o Android (sistema para celulares, também do Google) são as chaves disso tudo antes que surja outro modelo de computação.

Por enquanto, não há nenhum no horizonte.

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