Chrome OS e Android? O Google matou a convergência?

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Por Filipe Serrano
Atualização:

Ao anunciar o Chrome OS, o Google deixou escapar que a convergência entre telefones celulares e computadores talvez venha a demorar mais do que se pensava. Tudo porque a empresa afirmou e reafirmou que o Chrome OS é um projeto distinto do Android, que já era um sistema operacional preparado para telefones móveis e, a princípio, para netbooks também.

 

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Só que celulares e netbooks ainda exigem, cada um, controles e funcionalidades que não estão se adequam ao outro. Andy Rubin, vice-presidente de engenharia para plataformas móveis do Google, admitiu isso na sexta-feira, segundo informou o IDG News Service. O executivo disse em um evento em São Francisco que “aparelhos móveis fazem trabalhos diferentes do que outras plataformas, como rodar protocolos de rede, controlar o gasto da bateria, trocar dados com diferentes torres de celular.”

Ou seja, o Chrome OS tende a ser focado para computadores de todos os tamanhos que são usados basicamente para acessar a internet. Já o Android pode servir para isso também, mas daqui para frente deverá se tornar um sistema específico para telefones celulares.

Ao ter dois projetos distintos, o Google mostra que o futuro móvel e convergente ainda terá de percorrer um longo caminho para transpor as diferenças e exigências tecnológicas entre cada plataforma. Um aparelho que é feito principalmente para falar não tem o mesmo design de outro cujo principal recurso é utilizar a internet; e, segundo aponta o Google, eles menos ainda poderão rodar um sistema operacional igual.

DÚVIDAS Outro motivo para ter dois sistemas é fato de que não se sabe se ambos (ou apenas um deles) irá prosperar. Se fossem um único sistema e apenas o uso nos netbooks vingasse, como ficaria a parte do projeto desenvolvida para celulares? É importante ter dois produtos diferentes porque os mercados de netbooks e telefones celulares ainda são bastante distintos.

No caso dos computadores, os fabricantes (e os consumidores) parecem mais dispostos a adotar uma alternativa ao Windows, cujo modelo de negócios é o mesmo há mais 20 anos, quando não havia a ideia da importância que a internet teria hoje. Esse modelo corre o risco de ser alterado com o lançamento do Chrome OS. Caso o sistema chegue a properar, a Microsoft terá de repensar se o Windows (ou pelo menos uma versão mais enxuta do sistema) não deveria ser distribuído gratuitamente e a empresa focar naquilo onde realmente ganha dinherio: o vendendo o Windows (e variações dele) para empresas.

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Já no mercado de celulares, há uma cadeia de empresas (fabricantes, operadoras, desenvolvedores) e interesses extensamente maiores e mais diversos. Diferentemente do Chrome OS, tornar o Android naquilo que o Windows é hoje para computadores parece impossível em um mundo onde hoje a Nokia tem mais de 40% das vendas de celular e está disposta a fortalecer ainda mais seu sistema operacional Symbian, que também teve seu código aberto.

Apesar das parceiras que o Google fez com outros fabricantes de celular de peso (Samsung, LG, SonyEricsson, Motorola, HTC), cada empresa ainda vai quer que seus modelos ofereçam uma experiência única, que não pode ser encontrada em outros telefones de concorrentes. Se todos os fabricantes adotam o Android do jeito que é, deixam de oferecer algo novo e delegam ao Google qualquer projeto de inovação em seus aparelhos.

Além disso, as pessoas não têm o poder sobre seus celulares como têm dos computadores. Não é usual para nenhum consumidor apagar toda a memória do telefone e instalar um sistema operacional diferente. Para usufriur de um celular com o Android, os consumidores ainda dependem que uma operadora se mostre disposta a vender um aparelho que foi criado por um fabricante disposto a usar o sistema do Google em pelo menos um de seus modelos. Com o Chrome OS, não. Se alguém só for usar o computador para navegar e não quiser pagar caro pelo Windows, poderá muito bem colocar o novo sistema do Google em sua máquina.

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