Coisas que já foram surpreendentes

Dizer que seu filho sabe mais do que você já perdeu a graça há uns 30 anos

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Por Redação Link
Atualização:

Algumas semanas atrás, participei de uma conferência sobre educação. Estava numa mesa de almoço papeando com os participantes quando entreouvi um sujeito contando sua história aos colegas:

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“Pois ali estava eu, lutando para fazer o PowerPoint operar corretamente com esse projetor. Eu o reiniciei. Passei pelos menus. Nada funcionava. Aí aquele aluno da oitava série vem e diz, ‘Sr. Summers, posso ajudá-lo?’ Ele se ajoelha, mexe daqui e dali, e não é que ele conserta a coisa! Da oitava série!”

E ele balançou a cabeça cheio de espanto.

Eu também fiquei espantado. Não porque um aluno de oitava série se mostrou tecnicamente mais proficiente que seu professor — mas por alguém considerar essa história digna de nota.

Quero dizer, alguém ainda se surpreende quando um filho se mostra mais à vontade com alguma tecnologia que seus pais? Aquela velha piada, “Oh, vou pedir para o meu filho me explicar” já não terá uns 30 anos agora? Talvez eu só esteja cansado porque passo meu tempo em círculos tecnológicos, mas essa piada já não está muito velha e sem graça?

Suponho que toda ideia é nova para todo o mundo em algum momento. Mas a sensação que eu tive foi de alguém dizendo, “Consegue imaginar? Eles enviaram um homem à lua!” Isso é espantoso, claro, só não é nenhuma novidade.

Eu me lembro de ter pensado: é pena não haver uma “Lista de coisas que um dia foram admiráveis, mas são de fato velharias a essa altura”. Seria um documento para se guardar e rever periodicamente, talvez, para evitar alguns vexames na próxima festa. A lista poderia conter coisas assim:

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1. Os garotos se adaptam mais depressa a novas tecnologias. Não é apenas a tecnologias — é a tudo. Crianças também aprendem novos idiomas mais rápido que adultos. Elas adquirem mais rápido novas habilidades de qualquer tipo. E isso inclui adaptar-se a novas tecnologias.

As pessoas de meia idade como eu cresceram em um mundo sem internet, sem celulares, sem câmeras digitais. Mas os jovens quem estiverem entrando na universidade no segundo semestre jamais conheceram um mundo sem essas coisas; eles cresceram online. Realmente não surpreende que adiram às novas tecnologias mais rapidamente que seus pais.

2. A tecnologia de consumo muda rapidamente. Não deem muita importância ao fato de sua engenhoca comprada há apenas alguns meses já estar obsoleta. Isso não deveria surpreender a ninguém; é assim que a indústria funciona. Aliás, a mudança rápida é o modelo de negócio todo da indústria eletrônica. Você deveria saber ao entrar nela. Quem compra uma engenhoca deve esperar que ela não esteja mais no mercado um ano depois.

Notem que eu disse “não esteja mais no mercado” e não “estará obsoleta”. O fato de um produto não estar mais à venda não significa que ele não é mais útil.

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3. Sistemas operacionais também mudam. Toda semana, algum leitor descontente me envia um e-mail queixando-se de que Apple, ou Microsoft, ou Google atualizaram um Produto de Software X, e que, por isso, seu Produto Y de quatro anos não roda mais.

Concordo: é frustrante. Mas isso também faz parte do jogo em que ele se inscreveu para jogar. As grandes companhias de software fazem um esforço razoável para manter a compatibilidade retroativa. Mas após alguns anos de progresso no Mac OS X ou no Windows, ou seja lá o que for, dedicar recursos materiais e humanos a essa tarefa pelo bem de um número minguante de obstinados do fim dos anos 90, já não vale a pena.

A pessoa pode ficar congelada no tempo com seu velho computador/sistema operacional/combo de software, ou pode atualizar e seguir no fluxo.

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4. Tinta de impressora é cara. “Eu gasto mais em cartuchos de tinta por ano do que gastei na própria impressora!”

É verdade. É um abuso. É estarrecedor. É o mesmo modelo de negócios de dar o barbeador de graça e vender as lâminas de barbear.

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Mas é assim que o mundo funciona, e não há grandes alternativas. Arquivem isso em “problemas do primeiro mundo”.

5. Os acordos de licenciamento são exaustivos. Toda vez que surge um novo produto, alguém acaba lendo o EULA e reage mal. O EULA é o End User Licensing Agreement (acordo de licenciamento ao usuário final) — aquelas páginas de “legalês” que rolam quando se instala um software novo ou assina um novo serviço na Web.

Esses documentos com frequência contêm uma linguagem assustadora à maneira desta do EULA do navegador original Google Chrome : “Ao submeter, postar ou exibir o conteúdo você concede ao Google uma licença perpétua, irrevogável, mundial, sem royalties e não exclusiva para reproduzir, adaptar, modificar, traduzir, publicar, encenar publicamente, exibir publicamente e distribuir qualquer Conteúdo que você submeta, poste ou exiba em, ou mediante, os Serviços.”

É assustador, de fato. E não tenho a menor ideia do que os advogados querem realmente dizer com isso.

Ao mesmo tempo, ainda não houve um caso em que essa “propriedade” serviu para alguma coisa. Por exemplo, o Google nunca publicou um livro baseado em coisas que seus clientes escreveram em seus blogs.

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O Google acabou tirando essa linguagem do seu EULA do Chrome, mas você encontrará cláusulas parecidas nos acordos de licenciamento de todos os tipos de outros software e produtos de serviço. Passe algum tempo nesse negócio e acabará percebendo que esse jargão de advogado pretende proteger a companhia de alguma ação judicial -– e não se trata de uma real ameaça de que a companhia cooptará seus textos e tentará lucrar com eles.

Há muitos outros exemplos curiosos-mas-verdadeiros no mundo tecnológico, mas esperamos que esses cinco ao menos começarão a fazê-los evitar essas coisas “espantosas” sem nenhuma novidade.

Em notícia aparte, acabei de ouvir que a China ultrapassou os Estados Unidos na indústria de alta tecnologia. Vocês acreditam?

/ Tradução de Celso Paciornik

* Publicado originalmente em 2/2/2012.

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