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Como aprender o ‘idioma’ do futuro

Cursos de programação se multiplicam e atraem crianças e adultos; há quem defenda que aprender código é tão importante quanto falar inglês

Por Carolina Ingizza
Atualização:
No 5º ano, alunos do colégio Porto Seguro aprendem Swift, linguagem desenvolvida pela Apple para o iOS Foto: RAFAEL ARBEX

Formada em Direito, Mariana Araújo já havia trabalhado na área de controladoria de grandes empresas. Ao ser demitida, no início de 2017, decidiu trilhar um novo rumo. Para aproveitar o tempo livre, começou a se dedicar a uma atividade diferente: a programação. Fez um curso presencial, outro online e aprendeu a escrever os primeiros códigos. Em pouco tempo, a nova atividade já virou profissão. No mês passado, aos 36 anos, ela foi contratada pela operadora Vivo, dando início a uma nova carreira como programadora júnior.

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Em um mundo em que a tecnologia ganha espaço na vida das pessoas, muita gente já acredita que, no futuro, saber programação será tão importante quanto falar inglês. A preocupação em dominar essa área é percebida tanto por profissionais já estabelecidos – como Mariana – quanto por pais, que investem em uma nova faceta da educação de seus filhos.

A possibilidade de tornar a programação mais acessível se abriu graças ao esforço de ícones do Vale do Silício, como Bill Gates e Mark Zuckerberg. Eles se uniram, em 2013, para criar o projeto Code.org, voltado ao estímulo do aprendizado de códigos. Esse movimento já chegou ao Brasil, onde um grande número de cursos na área surgiram nos últimos anos.

Para quem quer começar, há desde cursos gratuitos na internet – como o Codeacademy e o CodeSchool – até opções pagas, como o Udacity. Além disso, existem escolas especializadas no ensino de programação, como a Reprograma (voltada a mulheres), a SuperGeeks (especializada em crianças) e a Let’s Code (cuja oferta vai do ensino infantil ao profissionalizante).

Currículo. Marco Giroto, fundador da SuperGeeks, acredita que entender o básico de ciências da computação hoje já é necessário para todas as áreas. Ele diz que ninguém aprende história na escola para ser historiador. A programação, da mesma forma, não é só necessária para quem quer ser programador. Fundadora do curso #minasprogramam, Ariane Corniani diz que uma pessoa com conhecimento de código pode fazer tarefas que antes pareciam impossíveis, como programar o site de sua própria empresa.

Apesar de possível, programar não é fácil. Além de empenho, é necessário paciência. Em sua jornada no segmento, Mariana Araújo, hoje contratada pela estudava o dia todo na Reprograma e em casa fazia curso online – neste período, montou oito sites sozinha. Na vida profissional, porém, ela ainda se considera uma iniciante. “Até hoje eu não me sinto fluente nas linguagens. Saí do curso muito bem, mas ainda preciso de muito mais.”

O discurso de que programação será uma linha básica no currículo do futuro, porém, não é consenso. Para Ariane, há certo exagero nessa ideia. “É como o inglês: tem pessoas que não falam o idioma e conseguem trabalho hoje.”

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‘Babel’. Outro problema para quem começa são as várias linguagens de programação existentes. Decidir entre a sopa de letrinhas de Java, C, C#, Python, Ruby e HTML é um desafio para quem não está familiarizado com o meio. De acordo com especialistas ouvidos pelo Estado, o segredo é começar por entender a lógica da programação em si e depois seguir para uma linguagem específica para as aplicações que precisam ser desenvolvidas.

Na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), por exemplo, os alunos aprendem uma linguagem chamada de Portugol, que simula a lógica de programação com comandos em português. Depois, a linguagem varia de acordo com a área de especialização.

Os futuros engenheiros eletricistas, por exemplo, aprendem C, enquanto seus colegas de outras áreas recebem aulas de Python. “A estrutura de Python é mais simples. C, por sua vez, é mais utilizada para aplicações em hardware – por isso optamos por ensiná-la na elétrica”, diz o professor Fábio Levy Siqueira.

Em universidades de elite dos Estados Unidos, como Stanford e MIT, Python é a primeira linguagem ensinada – especialmente porque seus comandos estão mais próximos da forma como o ser humano pensa, de acordo com Guto Ramos, sócio da escola Let’s Code. Segundo ele, depois de aprender o básico com Python, é mais fácil trabalhar com outras linguagens.

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Jogo. Para facilitar o aprendizado, muitos pais escolhem colocar os filhos em contato com o assunto o quanto antes. Alguns colégios particulares já adicionaram aulas de “letramento” digital – isto é, “aprender o idioma digital” – aos currículos tradicionais. É o caso do Colégio Visconde de Porto Seguro, localizado na zona sul da capital paulista.

Na escola, as crianças começam a desenvolver habilidades de raciocínio lógico desde a pré-escola, a partir dos 3 anos. “Começamos ensinando de forma ‘desplugada’, apenas com elementos lógicos”, explica Joice Lopes Leite, coordenadora de educação digital do colégio. “Depois, vamos subindo o nível conforme o desenvolvimento das crianças, até o ensino médio.”

Prender a atenção de alunos pode ser complicado – especialmente por causa dos conceitos abstratos e matemáticos envolvidos. Por isso, alguns professores precisam se reinventar para atrair as crianças.

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Na SuperGeeks, as aulas de programação têm o objetivo de criar games. Assim, toda a dinâmica das aulas é estruturada como um jogo. Se um aluno chega atrasado, perde pontos de “vida”, mas se faz uma pergunta interessante, ganha pontos de “experiência”. “Como os alunos querem avançar, eles deixam de fazer coisas erradas para não perder pontos no nosso game”, diz Giroto. “Fica mais divertido.”

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