Como o Twitch, da Amazon, está protegendo a comunidade LGBT

Com uma potente mistura de filtros, moderadores e advogados, o Twitch está tentando controlar a horda de gente ameaçadora que mora na internet

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Por Redação
Atualização:
Twitch está tomando medidas para protegers membros da plataforma Foto: Elijah Nouvelage/Reuters

Em 25 de maio, o Twitch, serviço de streaming de jogos da Amazon, ficou sob ataque. Um bando anônimo de trolls começou a bombardear o serviço com pornografia, filmes com direitos protegidos, vídeos violentos, programação misógina e conteúdo racista. Em resposta, o Twitch fez algo inusual para uma grande plataforma de mídia social nesta era em que o assédio online frequentemente fica sem ser checado por longos períodos: tomou medidas imediatas e decisivas para proteger sua comunidade.

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Nos dois dias seguintes, enquanto se confrontava com os atacantes, o Twitch impediu todos os seus novos usuários de fazer streaming. Impôs dois fatores de autentificação para algumas contas. E entrou com processo num tribunal federal exigindo dos atacantes anônimos indenizações por desrespeito a direitos autorais, quebra de contrato e fraude.

As agresssivas contramedidas são parte de um amplo esforço que o Twitch vem empreendendo para garantir um espaço mais seguro para os 500 mil streamers que entram ao vivo na plataforma a cada dia. A empresa é particularmente zelosa com sua minoria que costuma receber a maior parte do assédio online. “É uma tarefa difícil porque, por mais que procuremosblindar nossa comunidade, as pessoas encontram meios de contornar essa blindagem”, diz Katrina Jones, contratada em setembro pelo Twitch como sua primeira executiva para diversidade e inclusão.

Na tentativa de reduzir o número de ofensas pessoais, o Twitch implantou bots que podem bloquear comentários com base em palavras-chave específicas. Donos de canais também podem dar meios a moderadores voluntários de expulsarqualquer violador. Além disso, o Twitch agora pede que os usuários forneçam tanto um e-mail quanto um número de celular verificáveis, o que, em tese, dificultaria a infratores anônimos de causar problemas.

A cada dia do mês de junho, para confirmar sua diversidade, o serviço de streaming apresentou um criador diferente LGBT. A empresa vez o mesmo em campanhas anteriores para promover streamers negros e mulheres. Uma iniciativa chamada “Twitch Unity” visa a “ampliar a participação de comunidades sub-representadas”, diz Jones. Voluntários ajudam a escolher quais criadores promover e usam um sistem de hashtags para levar público aos canais desses criadores.

Seguem-se três streamers da comunidade LGBTQ que explicam como usam o Twitch, como se protegem e o que fazem quando assediadores conseguem driblar as salvaguardas.

Annie Roberts, de 22 anos, usa com frequência o Twitch para baixar o Overwatch, o popular game de combate entre vários jogadores. O transgênero Roberts entrou na plataforma pela primeira vez em janeiro de 2018 porque queria encontrar outros jogadores transgênero, o que, segundo ela, ela é dfícil “no mundo real”.

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Roberts, do Michigan, inicialmente fundou uma comunidade de cerca de 20 companheiros de jogos no Twitch, os quais constituíram o núcleo de seu canal. Sua audiência desde então cresceu significativamente. Hoje ela tem 20 mil seguidores e joga Overwatch profissionalmente, como membro assalariado do Florida Mayem.

Roberts diz que o Twitch é um palco para pessoas transgênero encontrarem suas próprias experiências sem ter de confiar em atores hétero de TV ou em filmes. É um dos poucos lugares em que os transgêneros conseguem uma boa audiência mostrando a si mesmos, diz ela. Quanto às proteções contra assédio, embora apreciadas são imperfeitas, afirma Roberts. “Você nunca vai estar imune, mas tem mais opções”, diz. “Se eu me apresento como LGBT, sempre há assediadores homofóbicos e transfóbicos, mas para cada troll, encontro cem pessoas que gostam de mim às quais posso realmente me conectar.”

Deere, de 31 anos, diz que o Twitch lhe dá meios de se apresentar como drag queen sem correr o risco de violência em bares outros lugares públicos. Ela começou no Twitch em 2016, com o apoio de apenas uns poucos amigos. Hoje ela mostra em seu canal como prepara suas roupas de drag e usa o livestreaming para se exibir jogando videogames de horror. Deere (que usou somente seu nome de drag queen) tem agora mais de 8 mil seguidores e consegue 90 espectadores para cada transmissão.

A exposição lhe possibilitou aparecer nos programas RuPaus’s Dragcon e no Twitchcon, o que por sua vez resultou em mais seguirdores. Ela diz que ganha algum dinheiro no Twitch, mas não o bastante para viver disso.

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Deere também sofre assédio a cada vez que se apresenta online e diz que tem amigos que intercedem para banir os assediadores mais agressivos. “Ser um homem gay, usar roupas de mulher e maquilagem e cabelo femininos é algo muito louco, e se eu não abro espaço para mim mesma, ninguém o faz”, diz Deere, que se identifica como homem, mas usa um nome de mulher como drag queen.

Antphrodite (que também usa apenas Ant) é hoje uma das mais populares videntes do Twitch, com 20 mil seguidores e 400 a 500 pessoas que sintonizam a cada transmissão. Ele faz leituras públicas e privadas online para seus seguidores, além de predições sobre celebridades (às vezes com estranha precisão) com base em sugestões de seu público.

Antphrodite diz que sofre assédio por ser gay no mundo real, no Twitch e em outros sites. Não dá seu nome verdadeiro por segurança. Apesar de tudo, considera-se “um sobrevivente, não uma vítima”. Seu segredo para o sucesso no Twitch é a adoção de regras de comportamento estritas e a insistência com os serviços de streaming para o banimento de agressores.

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“Ser criador LGBT numa plataforma às vezes assusta e intimida um pouco porque há pessoas que dizem coisas não muito agradáveis”, diz Antphrodite. “Mas o Twitch é realmente ótimo em proteger criadores, especialmente os LGBTs. Essa é uma das coisas que me livram de viver com medo.” /TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ 

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