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Como será a interatividade na TV?

Por Rodrigo Martins
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Demorou. Mas tudo indica que agora vai. A interatividade na TV digital, prometida desde o lançamento do sistema, há quase dois anos, deve, enfim, sair neste ano. Foi a grande promessa nas palestras, estandes e corredores do SET 2009, evento da Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão, o qual termina hoje em São Paulo e reuniu em quatro dias fabricantes, emissoras, desenvolvedores de software e governo para discutir e apresentar novidades na área de televisão aberta.

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Desde o início das discussões de TV digital no Brasil, em 2006, o SET sempre foi o grande palco de novidades e anúncios importantes na área. Na edição do ano passado, havia uma expectativa dos mais otimistas presentes no evento de que a interatividade estreasse no final de 2008. Muitos envolvidos, entretanto, afirmavam que seria difícil. E foi o que aconteceu. Nada de interatividade. Neste ano, entretanto, a opinião de todas as partes – emissoras, acadêmicos e fabricantes – é unânime: a interatividade deve, finalmente, sair até o final de 2009. Alguns otimistas, afirmam, inclusive, que já no próximo mês.

Pelos estandes, fabricantes mostravam seus modelos de receptores para TV já compatíveis com o sistema. Até uma TV da LG com receptor embutido estava lá. Na tela desses aparelhos, as emissoras de TV mostravam os resultados de suas últimas experiências com interatividade, as quais estão muito próximas do que veremos no início das transmissões. Os visitantes sempre paravam na frente delas para ver como funcionavam. Ao apertar um botão, conseguiam, por exemplo, ver a sinopse do próximo capítulo da novela ou as últimas notícias sobre economia.

Ainda falta, entretanto, alguns ajustes. Até maio deste ano, o Fórum Brasileiro de TV Digital (SBTVD), que reúne emissoras, fabricantes, governo e acadêmicos, ainda não havia fechado as especificações do software da interatividade, o Ginga. Havia problema de direitos autorais. Agora, com essa questão resolvida, ainda falta definir se um componente do software será retirado ou não. Essa informação é necessária para que seja fechada a norma ABNT, o que muitos fabricantes defendem, é primordial para começar a lançar aparelhos.

“Mas defendo que não é necessário ter essa norma para que os fabricantes lancem seus equipamentos. As especificações já estão fechadas. E a presença ou não desse componente no software não barra o lançamento de produtos. Ele é só um detalhe técnico”, diz um dos responsáveis pelo desenvolvimento do Ginga, Luiz Gomes, da PUC-RJ. Mesmo assim, segundo ele, a questão do componente do software deve ser resolvida em breve. “Com isso, a norma deve sair em 15 dias”, prevê.

Ainda também não foi definido se haverá uma data oficial de estreia da interatividade, como aconteceu com a TV digital, em 2 de dezembro de 2007, quando o sinal entrou no ar em São Paulo. Segundo o presidente do SBTVD e vice-presidente da Band, Frederico Nogueira, há conversações nesse sentido entre emissoras e fabricantes. “Até agora, as emissoras estão fazendo testes. Essa data seria para definir que a partir desse dia, é para valer”, diz. “Assim, quem comprar um receptor vai poder já ter acesso à interatividade. E não frustraríamos ninguém. Mas ainda estamos em conversas”, explica David Britto, membro do Fórum e diretor da TQTVD, empresa que produz software para interatividade.

Como serão os primeiros aparelhos? Os primeiros decodificadores com interatividade para televisores devem chegar ao mercado em outubro ou antes disso, se a norma ABNT for fechada antes. A fabricante Zinwell, por exemplo, diz já ter o software de interatividade pronto. “Assim que a norma sair, vamos lançar”, afirma o gerente da empresa, Murici Giusti. Outra empresa de decodificadores, a Visiontec, promete lançar seu produto em outubro. “Está em fase final de desenvolvimento”, afirma o gerente de negócios, Ricardo Minari.

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Ambos os aparelhos devem custar menos de R$ 500 e permitirão conexão com a internet – aliás, essa uma das principais características da interatividade: conectado, será possível, por exemplo, votar no paredão do Big Brother pelo controle remoto. Para conectar o decodificador à rede, poderá ser usado um cabo de rede ou um modem 3G.

Já entre dezembro ou janeiro, a LG deve lançar seu televisor com sintonizador de TV digital e interatividade integrados. Ou seja, não será preciso um decodificador externo. O modelo é o Time Machine Digital, o qual pode ser conetcado também à rede. Segundo a gerente de Produtos, Fernanda Summa, o aparelho já é vendido hoje, mas sem o software de interatividade. “Mas, para esses compradores, permitiremos em breve a instalação do Ginga gratuitamente. Vamos disponibilizar assim que a norma sair e as emissoras começarem a transmitir a interatividade.”

Como será a interatividade enviada pelas emissoras? As emissoras ainda estudam como irão aproveitar a interatividade em suas programações. Mas afirmam que, assim que houver receptores com Ginga no mercado, irão começar a transmitir sinais de interatividade de fato – hoje, o que está no ar são testes. Na SET, as três principais emissoras brasileiras, Globo, Record e SBT, exibiram esses testes, o que já mostra que a filosofia de cada uma delas será diferente.

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O sinal de interatividade enviado pelas emissoras não é nada mais do que um menu com links para, por exemplo, acessar o resumo dos capítulos da novela ou conhecer participantes de reality shows. Esses menus – que podem ou não ocupar toda a tela – são acessados pelo controle remoto. E a maioria das informações chegam pelo ar. Mesmo se não estiver conectado na internet, é possível, por exemplo, conferir as estatísticas do jogo com um toque no controle. Mas se estiver conectado, é possível ainda mais: você pode se comunicar com a emissora e enviar informações para ela, como participar de uma enquete ou eliminação no reality show.

Globo

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Exibiu no SET uma aplicação interativa da novela Caminho das Índias, onde clicando no controle remoto, era possível saber mais sobre personagens, resumo dos capítulos, ter galeria de fotos e participar de enquetes. Segundo o diretor de engenharia da emissora, Fernando Bittencourt, a ideia é ter uma aplicação interativa para cada programa, a qual seria transmitida somente quando a respectiva atração estivesse no ar. Também está em estudo disponibilizar notícias do portaç G1. “Mas só vamos colocar o que não tirar a atenção do telespectador para a programação.” Fernando diz que, no início, apenas os programas do horário nobre devem ter interatividade.

Record

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Mostrou no SET uma aplicação interativa que desenvolveu para o programa A Fazenda. Na tela, era possível ver o perfil dos participantes, os que estavam no paredão e havia ainda uma simulação de votação para a eliminação. A ideia da emissora é ter, no prazo de um ano, todos os programas com interatividade. O esquema será parecido com o da Globo: cada atração terá a sua aplicação respectiva. “Já estamos desenvolvendo as aplicações dos programas Ídolos, Aprendiz e Bela, A Feia. Vamos dar informação sobre os programas, fazer enquetes e votações para eliminações”, explica o analista sênior da emissora Fábio Angeli.

SBT

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Ao contrário de Globo e Record, o SBT mostrou no SET uma ideia diferente para interatividade: um portal fixo, que vai ao ar durante todos os programas. Nele, dá para ter acesso a destaques da programação, enquetes e promoções. Mas o diferencial mesmo é a seção de notícias, atualizada minuto a minuto e independente do que está sendo veiculado na TV. Segundo o diretor de engenharia, Roberto Franco, a ideia é ter uma página principal, como na internet. “As pessoas poderão ter acesso às notícias a qualquer momento. Fizemos pesquisas e vimos que, dessa forma, os telespectadores mudam menos de canal”, afirma. Ele também não descarta que, uma vez conectado à web, o usuário possa, no futuro, ter acesso a vídeos sob demanda, com atrações já exibidas pelo SBT e que, por ventura, o telespectador possa ter perdido.

Band A emissora não exibiu nenhum teste no SET e nem deu muitos detalhes sobre como será a sua interatividade. Entretanto, de acordo com o vice-presidente da emissora, Frederico Nogueira, deve privilegiar “jornalismo e esporte”.

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