Criativo e mal criado

Cotado a livro mais vendido do ano, biografia do criador da Apple fala até em falta de banho

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Por Filipe Serrano
Atualização:

Cotado a livro mais vendido do ano, biografia do criador da Apple fala até em falta de banho

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Um homem inspirador com ideias brilhantes e obcecado por todos os detalhes, mas também frio e controlador, muitas vezes arrogante, e que julgava o trabalho dos funcionários como “uma grande m…” ou “maravilhoso”. Cresceu tratado pelos pais e professores como se fosse especial. Agia como se as regras não se aplicassem a ele e, apesar da postura incômoda em relação aos que trabalhavam com ele, conseguia impor seus objetivos que normalmente causavam o grande impacto que ele esperava.

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FOTO: Divulgação 

É assim que a biografia autorizada de Steve Jobs, publicada há uma semana, retrata o fundador da Apple desde seus primeiros anos liderando o desenvolvimento dos computadores da empresa fundada por ele e o amigo Steve Wozniak em 1976 na garagem da casa dos pais de Jobs.

O livro escrito pelo historiador Walter Isaacson foi também de certa forma um projeto de Jobs. Ele questionou o autor se ele gostaria de escrever sua biografia em 2004. Jobs tinha descoberto um câncer e estava prestes a realizar uma cirurgia para remover o pâncreas, mas não contou sobre sua doença. Em 2009, Isaacson recebeu uma ligação da esposa de Jobs, Laurene Powell, dizendo que se ele quisesse escrever a biografia, era melhor começa-la naquele momento.

 

Apesar de Isaacson dizer que Jobs não teve controle sobre o que seria publicado – embora tenha criticado a primeira versão da capa do livro e sugerido um outro acabamento – a publicação do livro seguiu um ritual de expectativas semelhante aos lançamentos de produtos da Apple que Jobs ajudou a criar. Consumidores fizeram fila para comprar a biografia logo no lançamento na segunda-feira.

O livro, lançado 20 dias depois da morte de Jobs, logo se tornou o mais vendido da Amazon, tanto em sua versão digital quanto de papel. E a loja online disse que ele pode se tornar o título com maior quantidade de exemplares vendidos no ano. A editora Companhia das Letras diz ter pedido a impressão de mais 30 mil exemplares, além dos 100 mil que já tinham sido produzidos para o lançamento. Até o fechamento desta edição, os números de vendas não tinham sido divulgados.

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Uma das frases de Jobs citadas no livro causou impacto nas especulações sobre o futuro da empresa. Jobs disse a Isaacson que uma futura televisão da Apple “terá a interface mais simples que você pode imaginar” e alimentou ainda mais os rumores de que a empresa planeja desenvolver algum tipo de solução para integrar TV à internet, como se fosse seu último “one more thing” (“mais uma coisa” em inglês, bordão final das apresentações de produto que fazia).

Jobs sempre foi um provocador e não aceitava a autoridade. Muitas passagens do livro mostram esse detalhe da sua personalidade. Quando seu pai adotivo Paul Jobs encontrou maconha no seu carro, aos 15 anos, Jobs não escondeu que usava a droga e, mesmo depois de uma das maiores discussões com o pai, ele não quis prometer que nunca mais fumaria.

 

Ele também brigou com o pai quando insistiu em passar o verão em um chalé com a namorada Chrisann Brennan, com quem anos depois Jobs teria a primeira filha, Lisa, que demorou para reconhecer. “Ele era um ser iluminado que também era cruel. É uma combinação estranha”, diz Chrisann no livro. O caráter controlador de Jobs também contradizia sua juventude libertária e influenciada pelo movimento de contracultura dos anos 70.

Na faculdade Reed College, que ele não terminou, Jobs se interessou por livros de espiritualidade e ficou amigo de Daniel Kottke, com quem faria uma viagem à Índia. Mais tarde, Kottke se tornaria um dos primeiros funcionários da Apple – a quem Jobs depois rejeitou cruelmente entregar parte das ações da empresa quando a Apple abriu capital e entrou na bolsa.

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Sua personalidade também era mal vista pelos colegas da Atari, onde Jobs trabalhou depois de voltar da Índia. Ele andava descalço, tomava poucos banhos e não usava desodorante, confiante de que sua dieta baseada em frutas seria suficiente para manter a higiene.

Já na Apple, sua insistência nos detalhes provocou muitos atritos, mas também admiração de funcionários que afirmavam que Jobs vivia em um “campo de realidade distorcida”. Mesmo há mais de 30 anos, já era possível observar muitas das ideias que mais tarde seriam adotadas nos recentes produtos da Apple, como o sonho de construir um computador que fosse do tamanho de um livro.

—-Leia mais:‘Link’ no papel – 31/10/2011

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