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Cultura colaborativa em discussão

Evento em São Paulo conta com palestra do criador da Wikipédia e mesas sobre política e geolocalização

Por Rafael Cabral
Atualização:
( Foto: Wikimedia Commons)

Trinta e cinco funcionários pagos e 100 mil colaboradores voluntários. É com essa equipe que é mantida a Wikipédia, a maior enciclopédia do mundo. Em palestra no evento Info@Trends, Jimmy Walles, o fundador do site, ressaltou que o site é viável apenas por conta do conteúdo gerado pelos usuários e pelas doações de cidadãos comuns.

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“Somos mantidos apenas por doações. Em geral são pequenas, como US$30. Recebemos contribuições de empresas como o Google, que nos doou 2 milhões de dólares, mas o volume das doações de cidadãos comuns é bem maior”, explicou.

Além de agradecer aos financiadores do projeto, Wales o defendeu das acusações de que estaria em crise por conta da queda drástica no número de editores. Na Inglaterra, 49 mil pessoas deixaram de colaborar com os artigos em 2009, dez vezes mais do que no ano anterior. Além disso, 54% dos usuários se dizem sem tempo para contribuir. “Não é bem assim. Nos Estados Unidos, por exemplo, somos estáveis. Já em outros países, como a Rússia, só crescemos”.

Campanha 2.0

Já no período da tarde, um dos destaques ficou por conta da mesa que uniu os coordenadores das campanhas digitais do PT e do PSDB. Marcelo Branco, estrategista de Dilma Rousseff na web, Sérgio Caruso, coordenador da chapa de José Serra, e Gil Castilho, diretora da associação brasileira de consultores políticos, discutiram a importância da internet da corrida eleitoral deste ano.

“Por conta de uma legislação burra, ficamos atrasados no tempo. Mas agora os legisladores passaram a compreender a internet como um espaço de expressão individual, e não como um meio de massa. Pelo seu caráter descentralizado, a internet é muito efetiva na mobilização dos militantes. A campanha na web não é feita só pela coordenação do partido, mas também por eles. Milhões de cidadão que não participavam da campanha com a sua voz podem entrar no debate. Quem pode garantir que o ritmo que queremos ditar para a campanha não pode ser alterado pelos próprios usuários? As ferramentas que nós temos, eles também têm”, opinou Branco.

Ressaltando que 95% dos domicílios brasileiros têm televisão, Gil Castilho disse que a internet passará a influenciar mais nas escolhas de voto, mas ainda está entre os principais meios de conseguir apoio. “Haverá uma grande participação, mas ainda não determinando no processo eleitoral”, disse. Para ela, a rede é mais importante para organizar e mobilizar partidários: “O Obama centrou toda a campanha dele em uma rede social e, com isso, conseguiu engajar os cidadãos”.

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Já Caruso comentou duas iniciativas dos tucanos que, direta ou indiretamente, dizem respeito à publicidade e à repercussão de assuntos na internet. A primeira é a Proposta Serra, rede social baseada em Ning para que apoiadores ajudem a construir o programa de governo do candidato, por tópicos. O outro é o Gente que mente, feito para rebater dados e afirmações da campanha adversária. “O segundo foi criado no final do ano passado, por uma iniciativa do partido. Temos que saber como lidar com boatos e rumores de forma mais eficiente”.

Política de redes sociais: ter ou não? Na sequência, uma mesa debateu se regras para o uso de redes sociais são ou não necessárias dentro de grandes empresas — ou se é melhor, como sugerem os mais radicais, bloqueá-las de vez.

Mauro Segura, diretor de marketing e comunicação da IBM Brasil, com certeza acha que não. “Em 2005, abrimos o uso de redes sociais. Cada funcionário é um porta-voz da empresa, de certa maneira. Temos 400 mil empregados, sendo que 80 mil frequentam e postam em blogs internos e externos da empresa, além de participarem da discussão em redes sociais”, afirma. “O controle é uma ilusão. Não controlamos os e-mails, as conversas no telefone ou no bar, no final de semana. Os funcionários se comportam nas redes sociais da mesma forma que se comportam na vida”.

Renato Dias, gerente de internet e meios Digitais da Natura, concordou — mas ressaltou que isso exige preparação tanto da empresa quanto dos funcionários. “A empresa tem de estar disposta a receber esse conhecimento”, explica.

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Marketing geolocalizado

Já para o final do primeiro do evento, um dos melhores papos envolveu as possibilidades que a geolocalização leva para a publicidade segmentada. Rafael Siqueira, da LBS Local, acredita que ofertas que levam em conta a posição do usuário facilitam que “negócios locais apareçam para o público interessado que está na região, na procura”. Além disso, “tempo, espaço e clima podem influenciar na propaganda, que pode ser bem de nicho, bem contextual”.

Francisco Gioielli, engenheiro de vendas do Google, ressalta que o buscador já oferece isso há tempos. “Fazemos um filtro da publicidade, sabendo os locais que receberão melhor aquele anúncio. A gente faz essa peneira e direciona”.

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Para Guilherme Stocco, gerente de desenvolvimento de negócios e estratégias da Microsoft, “a geolocalização parece feita para as pequenas empresas”, já que uma padaria, por exemplo, tem necessidade de chamar a atenção do pessoal que vive perto dela. “E não adianta lutar contra. Ela veio para ficar”, finalizou.

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