'Davos da internet' debate regulação na web

Em evento com líderes da tecnologia, presidente da França pede a representantes do G-8 regulem a internet

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Por Redação Link
Atualização:

Andrei Netto CORRESPONDENTE PARIS* Publicado no caderno ‘Economia & Negócios’ desta quarta-feira, 25.

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Na mais pura tradição da França, o presidente Nicolas Sarkozy pediu na terça-feira, 24, em Paris, a líderes políticos e empresariais reunidos no e-G8, que os Estados aumentem a regulação da internet. O evento, apelidado o “Davos da web” e destinado a discutir o impacto econômico da rede mundial, trouxe a Paris astros da nova economia, como Mark Zuckerberg e Eric Schmidt, de Facebook e Google, e da velha, como o diretor-presidente da NewsCorp, Rupert Murdoch. Todos ouviram o discurso: “Não deixem a revolução que vocês lançaram veicular o mal sem entraves, sem freios”.

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A reunião teve início na manhã de terça, em um auditório montado nos jardins de Tulherias, junto ao museu do Louvre, centro da capital francesa. Do lado de dentro, desfilava uma pequena multidão de grandes empresários da web. Foi a eles que Sarkozy se dirigiu. Em um primeiro momento, o presidente homenageou a internet, que “mudou o mundo” e estimulou a Primavera Árabe, como as revoluções em curso são chamadas na Europa.

“Os povos dos países árabes mostraram ao mundo que a internet não pertence aos Estados. A opinião internacional pôde constatar que a internet tornou-se um vetor de poder inédito para a liberdade de expressão”, afirmou. “Ninguém pode controlar ou parar a internet.”

A seguir, porém, Sarkozy caiu na tentação regulatória, contradizendo seu próprio discurso. O chefe de Estado lembrou que o crescimento econômico e as leis de propriedade intelectual estão sendo impactadas pela internet, o que exige, na sua opinião, “um mínimo de regras”. “Não deixem que a internet torne-se um instrumento nas mãos dos que querem ameaçar a nossa segurança, e logo a nossa integridade”, argumentou.

 

Sarkozy elogiou os empresários, a quem comparou Galileu, Colombo e Newton, por terem “transformado os fundamentos da economia mundial, da qual se tornaram atores maiores”. Para o francês, eles são “os únicos representantes legítimos da vontade geral” na internet. ”Vocês não podem se exonerar de valores mínimos, de regras mínimas.”

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Segundo Sarkozy, dada a importância econômica da internet, é preciso controlá-la. “Se a tecnologia deve continuar neutra, seus usos não o são”, argumentou. “Ninguém deve poder impunimente expropriar do produto suas ideias, de seu trabalho, de sua imaginação, de sua propriedade intelectual”.

Ao discurso da regulação, Eric Schmidt retrucou: “Antes de decidir que nós precisamos de soluções regulatórias, perguntemos a nós mesmos se há soluções tecnológicas para resolver o problema globalmente”, defendeu. ”Nós iremos muito mais rápido do que os governos.”

Já Jeff Jarvis, fundador de Amazon, defendeu a proposta de Sarkozy. ”Evocar segurança em face ao terrorismo vai atrapalhar os negócios? Respeitar os direitos autorais vai atrapalhar os negócios? Evitar novos monopólios atrapalha os negócios? Proteger as crianças atrapalha os negócios? E não creio que atrapalhe”, argumentou.

Fora do e-G8, organizações não-governamentais da web estão mobilizadas contra o evento. DegenereSciences, um dos grupos pró auto-regulação da internet, denunciou a reunião como uma tentativa de “vigiar e punir, gerando lucros”.

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