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Descolonizando o olhar

O segundo dia do II Fórum de Cultura Digital, que termina hoje, teve debates com experiências internacionais

Por Murilo Roncolato
Atualização:

No segundo dia de Fórum de Cultura Digital os eventos foram desde um debate sobre a falta de interação física do mundo digital, passando por demonstrações musicais alternativas e bombando nos debates mais ásperos na Arena de Cultura Digital sobre Marco Civil e outro sobre liberdade de expressão.

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O dia chuvoso atrapalhou a utilização de todo o espaço oferecido pela Cinemateca, mas não barrou a reunião de mais de 700 pessoas que fizeram os contatos mais diversos, desde um grupo esparramado em esteiras discutindo ideias sobre como montar um festival de música e divulgá-lo de forma efetiva na internet , até uma festa do pessoal do Circuito Fora do Eixo jogando banquinhos de almofada para o ar.

 

No Auditório Internacional, um papo sério com Eddie Ávila, do Rising Voices (Jaqi Aru e VocesBolivianas) e Hernani Dimantas, do Laboratório de Inclusão Digital, que debateram formas de se praticar e promover a cidadania pelo mundo digital no mundo real.

Ávila trouxe Victoria Tinta, uma índia aimará que deu o seu relato pessoal de como a introdução de um computador, uma conexão e as aulas básicas sobre blog, edição de vídeo e podcastings mudaram a sua rotina e a tornaram uma militante do seu idioma e da sua cultura. “Eu quero que as pessoas conheçam o meu idioma aimará”, disse a blogueira.

 

O Rising Voices é uma organização virtual criada em 2004 por blogueiros que dá o suporte para que pessoas com pouca representação política possam se manifestar, divulgar sua cultura, fazer suas reclamações e se comunicar com outras pessoas do mundo. O grupo já realizou ações em países como Libéria, Quênia, Ucrânia, Bolívia, Colômbia, Congo, com jovens no Uruguai e com mulheres no Iêmen e no Cairo (Egito).

“Tudo o que nós fazemos é virtual. É incrível ver como as pessoas se comunicam bem dessa maneira. A gente administra tudo via e-mail, Skype, Google Voice. É possível conversar com seu chefe por e-mail e isso funciona”, disse Ávila, comentário que despertou na plateia uma discussão diferente, sobre os perigos da não presencialidade do mundo digital. Uma bailarina, assumidamente por acaso ali no Fórum, pediu a palavra e traçou paralelos entre a dinâmica da dança e a cultura das redes, com a qual estava ali tendo seu primeiro contato.

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Como um produtor de cultura, Hernani Dimantas (autor de Marketing Hacker) falou sobre os elementos para a construção da prática efetiva cidadania pelo meio digital. São eles o acesso (participação, inclusão digital), a cultura de uso das redes, ética, regulamentação e segurança. Para o coordenador do Laboratório de Inclusão Digital o ambiente das redes proporciona oportunidades que seriam bem mais difíceis na vida real.

“Na minha vida encontrei parceiros, gente que pensa parecido, com as mesmas ideias, tudo usando a rede. Isso para mim fez diferença”, disse. Para ele, o momento atual é muito rico, digitalmente falando. “Nunca se escreveu tanto, nunca se produziu tanto conhecimento quanto agora. No YouTube se produz mais vídeo do que se consome”, pontua.

José Murilo Jr., coordenador de Cultura Digital do Ministério da Cultura, foi o moderador do debate e ponderou sobre a inclusão digital e a forma como é feita. “Nós, os convertidos digitais, temos também que avisar quem está chegando sobre os avanços, mas também sobre os limites que a tecnologia, o virtual possibilita”.

Economia Criativa

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Um tempo de fôlego, na Arena o debate continua acelerado, com o sociólogo Sergio Amadeu ainda discutindo com o advogado Carlos Affonso Pereira de Souza sobre o Marco Civil da Internet. No espaço “Mão na Massa”, um DJ dava uma oficina sobre como fazer remix, enquanto as pessoas já começavam a entrar para a palestra seguinte.

Desta vez o assunto seria economia criativa. No auditório, Eduardo Nassar da Capdigital, um aglomerado de empresas francesas de tecnologia; e Reinaldo Pamponet, do It’s Soon, organização que usa a rede para unir ideias a partir de provocações. O primeiro vinha com um discurso mais próximo da iniciativa privada; o segundo de iniciativas criativas populares.

 

Economia criativa é um conceito amplo que basicamente se refere a novas formas de se pensar e fazer mercados ou gestão de negócios, seja esta forma mais democrática, sustentável ou simplesmente nova, alternativa. Nesse sentido, Pamponet mostrou o seu trabalho, o conceito de “sevireologia” (usado para motivar jovens a produzir conteúdos criativos pela internet), e a produção de conteúdo e renda gerada, tudo pela internet. No site, lançam-se chamadas convidando os usuários a produzirem imagens, textos, músicas, vídeos e programas de rádio refletindo sobre o tema proposto. Os selecionados recebem uma quantia em dinheiro.

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Como exemplo, Reinaldo exibiu o vídeo de um garoto de uma cidade de cerca de dois mil habitantes que teve contato com computador em uma lan house, enviou uma produção artística sua e passou a ganhar dinheiro a partir dos prêmios que ganhou.

“Milton Santos já dizia isso: ‘é preciso desconolonizar o nosso olhar’ e a economia criativa faz parte desse contexto”, cita Pamponet. O idealizador do It’s Soon se apropria de um conhecido do cinema e diz acreditar que com uma ideia na cabeça e uma conexão em rede é possível gerar valor econômico, trabalhos criativos que tenham valor — simbólico — para a sociedade. “É preciso sair do modo produtivo e ir para o modo criativo. Se você precisa de um trabalho, crie um”, fraseia.

 

Estão programadas ainda exibições de filmes durante a madrugada. A maratona de cultura digital acontece até esta quarta, 17, e tem uma programação extensa — e gratuita. Tudo está sendo transmitido ao vivo pela web aqui e aqui. O Link estará no evento todos os dias.

Saiba mais: http://culturadigital.br/forum2010

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