Dia nerd; chuvoso e voltado para o futuro

Sexta-feira teve goteiras, calor, orgulho nerd, o fim da web, Wikimedia e HTML5 na Campus Party 2011

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Por Murilo Roncolato
Atualização:

O quinto dia de Campus Party começou prometendo ser um daqueles insuportáveis que não haveria ventilador ou ar-condicionado que amenizaria o calor terrível que fazia dentro do enorme galpão no Centro de Exposições Imigrantes em São Paulo.

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Assim se seguiu durante toda a manhã da sexta-feira, 21, até a palestra dos autores do Jovem Nerd, blog que trata de assuntos que, em tese, agradam a todo nerd convicto. Os temas variam de jogos, passando por RPG, mangás, filmes como Guerra nas Estrelas e Senhor dos Aneis, e, claro, tecnologia. Não sobrou cadeira, o espaço em frente ao Palco Principal ficou lotado e o calor só foi aumentando.

Alexandre Ottoni e Deive Pazos fizeram um bate-papo com seus amigos Eduardo Spohr (autor de “Batalha do Apocalipse”) e Marco Gomes (jovem empreendedor, dono da Boo-box) sobre orgulho nerd. Quem esperava por momentos de adoração aos grandes ídolos, filmes e práticas nerds, se enganou. O “orgulho nerd” a que a dupla se referia à atitude de se assumir nerd e usar “toda a bagagem adquirida durantes anos lendo quadrinhos, jogando, vendo filmes para aplicar em coisas inovadoras”.

Eles usaram o blog como exemplo, já que ali apenas se discute temas que eles curtiram durante toda a vida, mas de uma maneira interessante aos seus leitores e, claro, com muita qualidade. Marco Gomes contou sobre como saiu pobre de Brasília e, apenas com a vontade que tinha de programar, criou sua própria empresa e hoje gerencia 30 funcionários na sua agência de publicidade para mídias digitais. Spohr era desempregado até que resolveu usar toda a criatividade que tinha para criar histórias nas brincadeiras de RPG e escreveu um livro. Hoje a publicação já vendeu 70 mil cópias e Spohr tem pedidos até do exterior.

“A mensagem central é: a gente não sabe o que vai acontecer daqui a 10 anos, mas a gente tem que começar agora”, disseram ao final.

Após aplausos calorosos, todos voltaram suados para os mesões aos seus computadores. Não passaram nem trinta minutos e uma chuva torrencial começou a cair lá fora. O barulho, de dentro da Arena, era assustador. O vento fazia os tecidos que protegiam as entradas do galpão balançarem, o que assustou alguns campuseiros. Logo o vento trazia a chuva para dentro do Centro, enquanto uns protegiam seus computadores, outros já brincavam com a possibilidade de uma nova queda de energia. Isso porque na terça-feira uma chuva tão forte quanto havia derrubado a energia de todo a região do evento, deixando os campuseiros quase uma hora sem energia e internet.

Após o susto de terça, a organização fez um pedido com urgência de mais dez geradores (além dos 2 já existentes, mas que não suportaram a amplitude da queda), logo havia uma tranquilidade maior em relação a quedas, mas não evitou outra chateação nesta sexta. Minutos após o início da chuva a energia e a conexão caíram, ficando iluminados apenas laptops e o estande da patrocinadora do evento. Gritos, muitas risadas, princípios de protestos começaram a tomar a Arena. Entretanto, por conta dos 12 geradores, a energia foi se reestabelecendo aos poucos, até que ao fim de cerca de 15 minutos tudo voltou ao normal.

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Kul Wadhwa fala em palestra durante Campus Party. Foto: Divulgação/Campus Party

Brasil na mira da Wikipedia Quem também subiu ao palco nesta tarde de sexta na Campus Party foi Kul Wadhwa, diretor do Wikimedia Foundation. A entidade é responsável pelo site Wikipedia, a enciclopédia digital aberta editada colaborativamente por seus usuários. Kul falou – em uma coletiva a jornalistas horas antes da palestra – sobre a estrategia em focar as atividades do Wikimedia em países em desenvolvimento, como Índia, Brasil, Oriente Médio e Africa do Sul.

Comentou ainda da parceria entre a fundação e a empresa espanhola Telefónica. Wadhwa explicou que a união não afetará os princípios da Wikimedia, mas que servirá para que eles possam ampliar a oferta multimídia dos conteúdos. Durante a palestra Kul exaltou a filosofia colaborativamente. Por fim, mostrou-se cada vez mais empolgado em relação ao Brasil, dizendo que o país é um elemento central para o mundo no que se refere a uso da internet, redes sociais e construção de conhecimento.

Andrew de Andrade e seu estiloso bigode em palestra sobre HTML 5. Foto: Divulgação/Campus Party

HTML 5 é o futuro Nesta tarde, Andrew de Andrade, vice-presidente de inteligência na Mentez (criadora do game Colheita Feliz), ministrou palestras e um hands-on sobre HTML 5, a linguagem utilizada para descrever informações e documentos em sites, responsável pelo seu conteúdo (“tem ainda a Cascading Style Sheets – CSS – que é responsável pelo visual e o Javascript, pelo comportamento dos elementos na página”). O paulistano criado nos Estados Unidos explicou que a nova versão do HTML torna bem mais faceis a incorporação de elementos multimídias nos sites e ajuda a melhorar a usabilidade dos portais eletrônicos.

A tecnologia, já chamada de “Flash killer” (matador de Flash, o software da Adobe usado principalmente para animações e vídeos), foi recebida pelo W3C (o consórcio de empresas e organizações civis e públicas que busca gerenciar os protocolos na web) em 2008 e pode se tornar um padrão no final de 2012, acredita Andrade. “As coisas caminharam muito rapidamente, não esperava por isso”. Sobre as discussões em relação ao Flash, Andrew diz que, por enquanto, o Flash “ainda é muito mais eficiente em muitas coisas do que o HTML 5″, mas após 2012 aposta que “não haverá mais razão para se fazer coisas com Flash”.

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Gigantes do Vale do Silício como Google e Apple já usam a nova tecnologia e abandonaram o software da Adobe. A Apple inclusive já criou polêmicas (inclusive entre os CEOs) por não permitir o uso de Flash em seus produtos.

“O HTML 5 é a tecnologia do futuro, isso também está no fato de que agora aparelhos móveis vão dominar tudo e, neles, não teremos Flash”, diz.

Aberta ou fechada Ao fim do dia um debate no Palco Principal tinha como tema o artigo de Chris Anderson, editor da revista Wired, que falava sobre o fim da web (aberta) e a ascensão e domínio dos aplicativos (fechados). Vagner Diniz, gerente do W3C no Brasil, acredita que “é no ambiente aberto que a inovação acontece” e “no ambiente proprietário que a riqueza é aprisionada”. Na outra ponta o editor de conteúdo digital do Estadão Pedro Doria achava que não havia problema a tecnologia ser fechada desde que não houvesse monopólios. “Desde que haja não só só Apple, mas também Android, Blackberry e outros”. Para ele, “TV, rádio e geladeira devem se conectar sem necessariamente precisar de web para isso”.

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A partir da esquerda: Reinaldo Pamponet Filho, Vagner Diniz e Pedro Dória. Foto: Divulgação/Campus Party
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