Domínio '.ong' quer fortalecer terceiro setor

Empresa gestora do '.org' lançará em 2014 '.ong' e '.ngo' para dar credibilidade a ONGs agrupá-las em portal de buscas

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Por Anna Carolina Papp
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Empresa gestora do ‘.org’ lançará em 2014 ‘.ong’ e ‘.ngo’ para dar credibilidade a ONGs agrupá-las em portal de buscas

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SÃO PAULO – A internet está prestes a passar pela maior expansão de domínios desde sua criação. Entre este ano e o próximo, serão lançados mais de 1.400 novos sufixos pela Corporação para a Atribuição de Nomes e Números na Internet (Iccann, na sigla em inglês). Além dos já conhecidos .com, .net e .br, passaremos a usar .book, .eco e .sport e uma série de outras terminações.

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A Public Interest Registry (PIR), gestora do domínio .org – que bateu a marca de 10 milhões de sites no ano passado – registrou os domínios .ong/.ngo, que estarão disponíveis em 2014, a fim de fornecer às organizações não governamentais uma presença online mais segura na rede. Além disso, todas as ONGs cadastradas serão agregadas em um portal de buscas, que permitirá doações online.

“Ao saber da expansão, pensamos: se novas terminações vão surgir e se somos os advogados das organizações sem fins lucrativos, como essa comunidade poderia se beneficiar dessa mudança na rede?”, disse ao Link Nancy Gofus, veterana na área de telecomunicações que dirige a PIR desde janeiro de 2012. Em visita ao Brasil, ela falou sobre os desafios do terceiro setor na internet e sobre o potencial do País nessa área.

Para ela, os novos domínios representam não só mais opções de visibilidade para marcas e organizações, mas uma verdadeira rodada de inovação na internet. Assim, conta que a PIR resolveu aproveitar a oportunidade para registrar um domínio que atendesse às necessidades de um público específico que hoje marca ampla presença nos sites que utilizam o domínio .org: as organizações não governamentais (ONGs ou NGOs, em inglês).

Boa parte de organizações do terceiro setor, sobretudo em mercados emergentes, se depara com o obstáculo de provar sua legitimidade na internet, principalmente no caso de transações financeiras. Segundo pesquisa da PIR realizada em maio deste ano, duas a cada três pessoas se sentem mais encorajadas a fazer doações quando o site tem um domínio credenciado. Três quintos se sentem seguros em fazer um pagamento em um site .gov.br, por exemplo.

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“Além da questão da credibilidade, muitas dessas organizações enfrentam problemas para serem achadas, sobretudo em regiões como leste da África e Índia, onde muitas vezes há dificuldades na conexão de internet”, diz Nancy. Ela destaca que outra dificuldade apontada pelas entidades com as quais trabalha é a troca de experiências com outras ONGs que realizam trabalhos similares, para a troca de informações, estratégias e dasafios.

A partir dessas questões, a PIR registrou o domínio .ong/ngo, destinado apenas a organizações não governamentais que buscam oportunidades para engajamento público, financiamento e parcerias.

Para obter os domínios – a empresa obterá tanto o .ong quanto o .ngo –, haverá um processo de validação para atestar que a organização não tem fins lucrativos, é independente e legal. “Você tem de estar em nossa base de dados para podermos checar se, dentro das leis do país em que você opera, você é uma ONG legítima”, diz Nancy.

Além disso, todas as organizações cadastradas com o domínio serão agregadas em um portal comum. Nele, o usuário poderá fazer buscas por nome, país, região, ou causa defendida – como combate à fome, construção de casas, geração de empregos, entre outros. “Cada ONG terá um pequeno perfil com informações sobre o seu trabalho, links para mídias sociais, vídeo… além da possibilidade de receber doações pela plataforma.”

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Nancy aponta que o portal será útil não apenas para os usuários interessados em fazer doações, que poderão navegar pela plataforma, fazer buscas e achar ONGs que a interessem em todas as partes do mundo, como ajudará as próprias organizações a tomarem conhecimento umas das outras e trocarem experiências.

Para organizar e reunir tamanha base de dados, a PIR trabalhará em parceria com outras ONGs e associações. “Queremos construir um diretório global de ONGs, que atualmente não existe. Esperamos que essa iniciativa reúna a comunidade de ONGs da mesma maneira que a internet reuniu o mundo todo. Estamos mudando a internet para aqueles que estão mudando o mundo; e essa é uma missão muito empolgante!”, diz Nancy.

O domínio só estará disponível no ano que vem. Interessados podem entrar no site da PIR e se cadastrar para demonstrar interesse e receber notícias. “Nos cadastros que tivemos até agora, sem divulgação nenhuma, o Brasil já é o terceiro lugar, atrás de EUA e Índia. A comunidade de ONGs aqui é muito diversa e vibrante”, diz Nancy.

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Redes sociais. Nancy ressalta que, apesar da recente explosão de mídias sociais nos últimos tempos, plataformas nas quais as ONGs tentam se fazer presentes – como o Facebook e o Twitter –, as entidades ainda precisam de um site estruturado para obter dinheiro. “Na rede social elas começam uma conversa com seus doares; mas transações financeiras acontecem em um site”, diz.

Recentemente, a regional sueca da Unicef fez uma campanha ressaltando esse aspecto. Ironizando o “ativismo de sofá”, um vídeo que pedia doações para a compra de vacinas contra a poliomelite trazia os dizeres “Curtir (no Facebook) não salva vidas; dinheiro salva”.

A diretora da PIR destaca a importância da linguagem audiovisual nos sites dessas organizações. “O vídeo é extremamente importante. Você tem um ou dois minutos para apresentar um problema e mostrar que você tem a solução”, diz. Como exemplo positivo de bom uso da internet e da linguagem visual, Nancy cita a Charity Water, ONG para levar água limpa para a quem não tem acesso, em países emergentes.

“É possível falar informar sobre sua doação em seu Facebook ou Twitter, despertando interesse em mais pessoas”, diz Nancy. “A geração mais nova está interessada em assuntos globais, querem resolver problemas fora de seus países. As ONGs precisam explorar isso.”

Diversidade. O domínio .org completou 25 anos, e é administrado pela PIR há dez anos. Por detrás desse sufixo está uma comunidade ampla e diversa, que vai da Wikipédia, a maior enciclopédia online, ao Craigslist, um site de classificados.

“É fascinante a mistura de organizações que utilizam o .org: há organizações sem fins lucrativos, páginas de filantropia e responsabilidade social de empresas privadas, times esportivos, associações comunitárias e igrejas”, diz Nancy.“O que as liga é que geralmente são indivíduos ou organizações que estão tentando reunir sua comunidade e têm uma história para contar”, diz.

O domínio .org é aberto e pode ser registrado por qualquer pessoa, empresa ou corporação. Atualmente, há 10 milhões de sites que usam essa terminação, sendo 39 mil deles brasileiros.

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