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Draw Something se torna vítima de advogados descuidados

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Por Redação Link
Atualização:

Como muitos fãs do jogo Draw Something já sabem, este fantástico aplicativo se tornou vítima de uma triste história corporativa nos velhos moldes do “eles arruinaram uma ótima ideia”. Porém, estou contente por ser hoje o arauto de boas notícias. Depois de investigar um pouco, descobri que logo teremos um final feliz.

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O Draw Something é um aplicativo incrivelmente popular para iPhones e celulares Android. Trata-se de um jogo parecido com o Pictionary (no Brasil, o mais próximo seria o Imagem & Ação): o jogador recebe uma palavra, como “bolo”, “hipopótamo” ou “Estados Unidos”. Usando ferramentas simples de desenho (quatro tipos de espessura de linha, quatro cores, borracha), temos então que nos esforçar para fazer o melhor desenho possível daquela palavra para um amigo do Facebook, um correspondente de e-mails ou, se preferirmos, um desconhecido completo na internet. Se o amigo identificar aquilo que desenhamos (soletrando o nome do objeto num teclado), o desenhista e o adivinhador são recompensados com moedas virtuais, que podem então ser usadas na compra de novas cores.

O Draw Something se tornou um elemento importante na vida da minha família. Já faz quatro meses que tenho viajado muito, participando das filmagens de um novo seriado da PBS, relacionado ao Nova, que irá ao ar no segundo semestre. Quando estou longe, mantenho contato com meus três filhos (de 7, 12 e 14 anos) de todas as maneiras habituais – mensagens de texto, e-mails, telefone -, mas, com frequência cada vez maior, as partidas de Draw Something têm servido para este propósito. O jogo proporciona o desenvolvimento de um elo estranho – não podemos nos ver nem conversar um com o outro, mas, ao mesmo tempo, jogamos um jogo extremamente expressivo pelas ondas que cortam o ar.

Além disso, é útil que o Draw Something seja como um jogo de xadrez por correspondência: quando desenho algo para outra pessoa, ela não precisa tentar adivinhar o que desenhei até que surja um momento de ociosidade. Assim sendo, num dado momento qualquer, a pessoa pode estar envolvida simultaneamente em 10 ou 12 trocas de desenhos no Draw Something.

O aplicativo faz sucesso porque é incrivelmente simples. Qualquer um pode brincar. O jogador não pode ser morto, não existe limite de tempo, e não existe perdedor de verdade. Como é difícil fazer um desenho competente usando a ponta do dedo, as imagens produzidas são engraçadas, e às vezes nos levam às gargalhadas. As animações que intercalam as rodadas se tornam tediosas e repetitivas – por que não podemos simplesmente tocar na tela para pulá-las? – mas, excluído este detalhe, o aplicativo é mesmo genial.

Não surpreende que o Draw Something tenha se tornado um imenso sucesso. Meros três meses depois do seu lançamento, 50 milhões de pessoas já estavam desenhando felizes em suas telas – e então, no mês passado, a Zynga, gigante dos jogos para celulares, comprou o jogo e a desenvolvedora dele, OMGPop, por US$ 180 milhões. (Há até sites que reúnem os melhores desenhos do Draw Something, como este.)

Mas, na semana passada, a Zynga lançou (para o iOS – a versão para Android está quase pronta) uma versão atualizada do jogo, acrescentando alguns recursos que eram pedidos com frequência. Existe agora uma ferramenta Desfazer, que reverte os erros de desenho. Podemos agora digitar pequenos comentários para o parceiro de jogo, como “Ótimo desenho!” ou “Por acaso a ideia era desenhar um hipopótamo!?”

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Nas versões anteriores, o único jeito de guardar uma imagem ou desenho era usar o recurso de copiar a imagem da tela do smartphone. Mas, na nova versão, é possível salvar uma obra-prima diretamente no acervo de fotos do celular. O desenho pode também ser compartilhado na conta do Twitter ou na página do Facebook – e é aí que começam os problemas.

Assim que abrimos o aplicativo atualizado, recebemos uma mensagem que diz: “O Draw Something pode postar em meu nome, incluindo atualizações de status, fotos e mais”. Podemos escolher entre Permitir e Não Permitir.

Mas, se optarmos por Não Permitir, torna-se impossível entrar no Facebook. O usuário perde todas as partidas que estava jogando com os amigos do Facebook. E perde-se assim um dos melhores recursos do Draw Something.

As legiões de fãs do Draw Something não gostaram nem um pouco. A página do aplicativo na loja de aplicativos iTunes tem sido bombardeada com resenhas negativas. Alguns exemplos:

* “A obrigação de aceitar mensagens indesejadas publicadas via Facebook acaba com toda a graça. Agora que o jogo se converteu numa farsa para invadir sua conta no Facebook, evite-o como a peste.”

* “O jogo é divertido, mas agora eles se tornaram gananciosos e querem acessar minha conta do Facebook o tempo todo para minerar meus dados.”

* “Paguei pelo jogo e, por isso, ele não deveria pedir permissão para postar material no meu perfil do Facebook para me deixar jogar. Nota negativa pela violação dos meus direitos.”

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Fiquei perplexo com tudo isto. Optei por Permitir, e o Draw Something nunca postou nada na minha página do Facebook. Perguntei a alguns amigos – mesma coisa. Ninguém me disse que o Draw Something chegou de fato a postar algo no Facebook sem o consentimento do usuário.

Será possível que todos esses fãs enraivecidos estejam equivocados? Será que eles estão com medo que o aplicativo poste algo em suas páginas do Facebook – sendo que na verdade o jogo não faz isto?

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Pois é. O que está ocorrendo é exatamente isto.

A Zynga de fato meteu os pés pelas mãos – mas não pelo motivo que a maioria das pessoas parece apontar. Na verdade, os programadores tiveram boas intenções, e sua intenção nunca foi trapacear ninguém. Eles queriam ter a certeza do consentimento do usuário diante da possibilidade de postar um desenho em sua página do Facebook – quando o usuário pressiona o botão Compartilhar via Facebook durante uma partida. A não ser que pressionemos especificamente aquele botão Compartilhar, nada é postado pelo jogo no Facebook.

O erro da Zynga foi solicitar esta permissão no momento em que abrimos o aplicativo, além de empregar uma linguagem pouco clara na mensagem. O certo, é claro, seria exibir a mensagem apenas quando a pessoa tenta postar a imagem. Neste caso, e somente neste caso, o aplicativo deveria solicitar tal permissão.

Adivinhem só? É exatamente assim que a próxima versão vai funcionar. A Zynga logo vai lançar uma atualização que pede a permissão do usuário somente quando este pressiona o botão Compartilhar via Facebook. (Espero que a próxima versão apresente também uma redação menos alarmante. Em vez de dizer, “O Draw Something poderá postar em meu nome, incluindo atualizações de status, fotos e outros”, a mensagem deveria dizer simplesmente: “O desenho será postado em sua página no Facebook. Permitir?”)

A Zynga não é a primeira empresa a cometer este erro digno de principiantes. Google, Yahoo, Apple e outras já se viram muitas vezes acossadas pela opinião pública por causa dos termos empregados na redação de algum tipo de contrato. Um novo serviço é lançado, e o contrato de aceitação diz, “O usuário reconhece que tudo aquilo que escrever ou postar pertence à empresa”. (Como no caso do Google +, do iBooks Author e tantos outros exemplos.) O público reage com indignação. A responsável pelo software admite que simplesmente recorreu a termos legais genéricos para “se garantir” e que não tem de fato o objetivo de se apropriar do nosso trabalho. E o texto do acordo é revisado.

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Pois bem, indústria do software, você já foi alertada: hoje em dia, as coisas não se resumem ao design, aos recursos e ao marketing. Às vezes, o sucesso de um aplicativo pode depender do texto e do funcionamento de uma simples caixa de diálogo.

* Publicado originalmente em 26/4/2012.

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