E depois do anúncio do Plano Nacional de Banda Larga?

Muito falado durante meses, o Plano Nacional de Banda Larga finalmente foi anunciado na semana passada. O principal ponto do projeto já era esperado: a Telebrás será reativada e ficará encarregada de criar a infraestrutura básica, como levar cabos ópticos para os lugares mais distantes. Também fica a cargo da estatal fazer o serviço final, ou seja, prover internet aos usuários, em locais onde empresas privadas não tenham interesse de atuar.

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Por Fernando Martines
Atualização:

Dois dias antes do anúncio do governo, a Cisco, gigante mundial na área de infraestrutura de internet, divulgou pesquisa que aponta crescimento quase três vezes maior da internet 3G em comparação com a banda larga fixa no Brasil. Assim, fica a pergunta: não seria o caso de atingir a universalização por meio da internet móvel (3G, satélite ou rádio), que não exige um aparato físico (como quilômetros de cabos) e tem alcance maior?

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Augusto Gadelha, secretário de política e informação do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), informa que as opções de internet móvel são “ações complementares”. Visando justificar a escolha do governo de privilegiar a conexão fixa, Gadelha cita um motivo olhando para hoje e outro pensando no futuro: “O transporte de vídeo é muito pesado e através de móveis ele não se faz de forma tão adequada quanto a fixa. Além disso, temos a questão da ultra banda larga, que daqui alguns anos será feita pela conexão de cabos”.

Já Anderson André, diretor da Cisco, vê sim a internet 3G ou a rádio como uma boa opção, “por serem sistemas mais fáceis de levar a lugares distantes”. Mas olhando para a questão de forma mais prática, André acha que a solução é uma junção entre governo e empresas: “Talvez a solução seja uma parceria entre governo, provedor local e empresas da região que patrocinem e entrem no negócio. Eu espero que o governo consiga levar essa infraestrutura para os locais mais distantes, seja com a revitalização da Telebrás, seja com outro projeto”.

ENTREVISTAS

Anderson André, diretor da Cisco

O crescimento da internet móvel não teria sido tão grande pelo fato da Telefônica ter ficado alguns meses sem poder vender o Speedy?Claro que a Telefônica não vender o Speedy influenciou, mas pouco. As pessoas que procuram o 3G o fazem porque não tem opção: ou moram em lugares que a banda larga fixa não chega ou precisam de internet sempre à mão Não são o mesmo público.

A última meta estipulada pela Cisco previa que em 2010 o Brasil teria 15 milhões de conexões de banda larga, o que foi até superado. Vocês têm uma nova meta? Sim, mas ela ainda não foi definida. A internet tem penetração em 6% da população brasileira. Uma pesquisa do Banco Mundial mostra que, pelo nosso PIB per capita, isso deveria ser de no mínimo 12%. Ou seja, dá para crescer muito aí.

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Augusto Gadelha, secretário do MCT

Em muitos países, bandas com menos de 1 mega nem são consideradas largas e o Plano Nacional propõe conexões de até 784k. O Governo pensa em aumentar a velocidade das conexões?É uma questão de alocação de recursos. Tendo recurso, é claro que investiríamos numa banda mais larga. O problema todo é o que fazer com os recursos existentes. Quanto o País pode dispor de recursos para colocar em um plano de banda larga? Isso é na verdade uma opção entre a cobertura da banda larga e a velocidade. Se você quer concentrar em alguns poucos centros, você pode aumentar a velocidade. Se você quiser fazer uma cobertura mais ampla, vai ter que diminuir a velocidade. Isso é uma decisão política de não levar internet tão veloz, mas levar internet para mais lugares. No futuro o objetivo é que essas conexões sejam mais velozes.

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