Com equipe de Hollywood, ‘Inside Experience’ mistura propaganda com rede social e jogo
Por Gustavo Villas Boas
Grandes amigos tem essa tal Christina Perasso. São dezenas de milhares de contatos no Facebook e centenas deles curtem as mensagens que ela envia do cativeiro onde está presa sem saber o motivo em um lugar desconhecido. Seu único contato com o mundo é via internet, por meio do notebook que carrega.
É certo que muitos tentam ajudá-la, juntando as peças do quebra-cabeça cujas peças – fotos de detalhes do quarto, vídeos em que ela expõe o dia a dia, mensagens no Twitter – onde Christina também posta. Até para comer, ela depende da rede social: quem a prendeu pode exigir que os contatos cumpram tarefas para que ela ganhe comida, por exemplo. A trama sempre se desenrola conforme a interação do público.
Se a jovem parece estar no centro da atenção de um maluco, a atriz que a interpreta, Emmy Rossum, protagoniza o “primeiro filme social de Hollywood”, nas palavras do diretor D.J. Caruso. Ele ganhou holofotes em 2007, com Paranoia (longa que custou US$ 20 milhões e arrecadou US$ 180 milhões) e dirigiu Eu Sou o Número Quatro.
Inside, o thriller online que agora comanda, não conta com verba de blockbuster, mas tem um “orçamento de filme independente”.
Quem garante é P.J. Pereira, brasileiro radicado nos EUA e chefe de criação da Pereira & O’Dell, agência de publicidade que desenvolveu a mistura de filme, jogo e merchandising do notebook que liga Christina ao mundo. “A propaganda está virando entretenimento”, considera P.J. “E Inside é um tipo novo de entretenimento que só pode acontecer com as mídias digitais.”
Para grudar a marca de entretenimento à novidade de Inside, sua agência foi atrás de uma grife bastante tradicional: Hollywood.
Por trás das câmeras (uma simples webcam no escuro na visão dos espectadores), além de D.J. Caruso e da estrela em ascensão Emmy Rossum, também está o diretor de fotografia Mauro Fiori, que recebeu o Oscar da categoria por Avatar. Para finalizar, a produtora do filme é a RSA, cujas iniciais remetem a Ridley Scott, cofundador da empresa.
Para P.J., essa nova forma de publicidade – ou entretenimento – é fruto da popularização da cultura digital (“Coisas que eram de nerd há dez anos viraram mainstream”) e do perfil do público que as novas mídias criaram (“É preciso ser interessante. Todos participam e se envolvem com a personagem, nós misturamos videogame, filme e redes sociais”).
Cobertura. P.J. acredita que novos experimentos vão acontecer nessa direção, “um gênero novo ou uma coisa incrível e única”. E que a publicidade nos meios digitais, nas redes sociais, não são mais uma curiosidade, como no começo da era da internet, ou uma fatia do bolo, quando a rede começou a se estabelecer como meio cultural. “Hoje é a cobertura do bolo, não pode ter fatia que não considere as mídias digitais.”
VOCÊ NOS CRÉDITOS
A participação de fãs e voluntários em produções audiovisuais só faz aumentar. Conheça outras iniciativas que abrem o roteiro para a interferência do público.
Star Wars Uncut. O primeiro Guerra nas Estrelas (1977) foi picotado em cenas de 15 segundos para que os fãs as recriassem. O resultado esta em starwarsuncut.com.
Sintel. Em sintel.org, a equipe por trás do filme pedia a programadores voluntários que criassem funções para o Blender, software livre usado na animação.
La Altra. Na websérie italiana de suspense, Martina Degomartinadego.com) também interagia com o público via redes sociais, como o Facebook.
Sound it out. O documentário indie registra a sobrevivência da última loja de vinil de Teesside, na Inglaterra. Foi bancado à base do crowdsourcing, via internet.
—-Leia mais: • Link no papel – 08/08/2011