E-mail é ferramenta estranha para a 'geração WhatsApp'

Segundo o Ibope, apenas 1% dos jovens entre 10 e 19 anos entra no e-mail quando está em casa;a costumados à facilidade de apps como WhatsApp e Facebook, usuários mais novos associam o tradicional correio eletrônico a trabalho ou obrigação

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Por Redação Link
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Mateus Luiz de Souza Especial para o Estado

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SÃO PAULO – Envergonhada. Foi assim que Maria Clara Ribeiro, 17 anos, ficou após cometer uma gafe tremenda. Fazia um trabalho sobre drogas na escola e tinha que enviar sua parte para um colega da sala. Mandou um e-mail não apenas para a pessoa errada, mas também anexou um conteúdo diferente do correto. “Isso aconteceu por não saber como mexer em e-mail. Eu tenho um, mas nunca falei: ‘me manda um e-mail para a gente conversar’. Só uso quando esqueço a senha de um site e tenho que resgatá-la”, diz.

Quando pequena, Maria Clara criou seu e-mail para poder entrar no MSN, o software de mensagens instantâneas mais popular da época. De início, pensou que o correio eletrônico seria bem útil, já que sua mãe costumava usá-lo. Não foi o que aconteceu. “Foram surgindo outras redes sociais para me comunicar, como Twitter, Orkut, Facebook, e percebi que ninguém usava e-mail. As pessoas simplesmente pararam de falar a palavra ‘e-mail’. Agora, minha mãe só usa para o trabalho”, diz.

Apesar de 36% dos jovens de 16 a 25 anos acessarem o e-mail todos os dias, segundo a pesquisa Juventude Conectada (parceria entre Escola do Futuro, da USP, Ibope Media e Telefônica), acesso não significa uso. “Uma infinidade de coisas na internet ainda dependem de confirmação, de código para acesso. E isso é enviado via e-mail. Mas esse jovem entra, vê, e pronto. Ele não chega a usá-lo”, diz Samantha Kutscka, coordenadora do projeto e pesquisadora da Escola do Futuro.

E, de fato, esses jovens usam o e-mail apenas quando necessário. Segundo uma pesquisa do Ibope feita em 13 capitais do Brasil, 17% dos jovens entre 10 e 19 anos usam o e-mail na empresa. O número cai para apenas 2% dessa população quando a navegação é feita em celulares e tablets e somente 1% em acessos em casa.

Agora nas festas de fim do ano, Renato Biagi, 16, deve fazer algo no computador que não faz há três meses: entrar em seu e-mail. Isso porque sua mãe, que não possui Whatsapp, lota a caixa de entrada do filho quando a família se reúne. “Não acho que tenha algo ruim no e-mail, apenas não preciso dele. Não pego e falo: ‘hoje vou entrar no e-mail’”, afirma. A agilidade da conversa nos novos aplicativos é um dos fatores que explicam a falta de interesse dos jovens nativos digitais pelo e-mail.

“O e-mail tem uma sucessão de etapas até que a mensagem chegue ao interlocutor. Os aplicativos em dispositivos móveis eliminaram isso. Eles te mandam sinais instantâneos quando uma mensagem é enviada, quando é lida. Essa geração de jovens está acostumada a isso”, diz Elizabeth Saad, pesquisadora de mídias digitais da Universidade de São Paulo (USP).

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A pesquisa Juventude Conectada constatou ainda que quanto mais velho e mais elitizado o jovem, mais ele usa o e-mail. “De 19 anos para cima, na faculdade, é quando se observa o maior número de jovens que usam e-mail. Mas ainda assim é para ver novidades acadêmicas, imprimir o boleto da mensalidade, pegar um texto que o professor mandou”, explica Samantha Kutscka, da Escola do Futuro.

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