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Opinião|E o Apple Car?

Dos 25 mil funcionários da Apple, 20% se dedicam a um projeto secreto: carros

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Apple deve demitir, em abril, cerca de 190 funcionários Foto: Jason Lee/Reuters

Numa carta enviada ao departamento da Califórnia que cuida de empregos, a Apple anunciou que pretende demitir, em abril, cerca de 190 funcionários em sua divisão de carros autônomos. Este é, provavelmente, o segredo mais bem guardado do Vale do Silício: faz já cinco anos que a empresa, fundada pelos dois Steves (Wozniak e Jobs) em uma garagem, estuda carros que dirigem por conta própria. Por enquanto, nenhum traço de produto. Mas algumas pistas existem.

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Uma das maiores veio de forma acidental. Em julho do ano passado, um engenheiro chamado Zhang Xiaolang foi detido no Aeroporto Internacional de San José, na Califórnia, acusado de espionagem industrial. Ele havia deixado um emprego na Apple para retornar a sua China natal, onde fora contratado pela Xiaopeng Motors, uma fabricante de automóveis elétricos. Nos últimos dias de serviço, baixou inúmeros arquivos com detalhes técnicos dos servidores da empresa americana e estava para leva-los ao novo patrão.

Na queixa que apresentou à Justiça, a Apple teve de revelar alguns dados. Dentre eles, que aproximadamente 5 mil pessoas trabalham em sua divisão de automóveis e que, destes, 2,7 mil têm acesso a dados confidenciais. É uma companhia grande, a Apple. Uns 25 mil homens e mulheres trabalham na sede ou arredores. Ou seja: 20% destes se dedicam a carros. A demissão de 190 engenheiros e técnicos, portanto, pode indicar uma mudança de rumo, mas não o encerramento do projeto. Pois é: um projeto secreto tocado por um quinto da força de trabalho. Não é pouco.

Por conta de vazamentos é também conhecido o fato de que Tim Cook, CEO da Apple, negociou por um longo tempo tanto com BMW quanto com a Mercedes-Benz. As conversas deram em nada. A empresa californiana buscava uma parceira com quem tivesse experiência em veículos, mas queria ter o controle do design assim como planejava ser dona dos bancos de dados angariados no processo de fabrico. Ambas as companhias alemãs agradeceram a oportunidade, mas têm elas próprias marcas fortes e não queriam simplesmente se colocar em subserviência aos criadores do iPhone.

Uma parceria foi firmada: com a Volkswagen. E tem âmbito bem mais modesto. Algumas vans do modelo T6 serão adaptadas para ganhar sensores, novos bancos e outras transformações até que se tornem autônomas e possam levar funcionários da Apple de um lado para o outro nos diversos câmpus espalhados pelo Vale do Silício.

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Sabemos, ainda, por conta de documentos públicos, que 66 SUVs Lexus, sem ninguém ao volante e usando tecnologia da Apple, circulam pelo entorno da Baía de São Francisco, autorizadas pelo governo da Califórnia. Os veículos treinam o sistema de inteligência artificial que pode, um dia, servir de motorista digital.

Não bastasse tudo, a empresa contratou, há uns meses, Doug Field, um velho engenheiro formado ali mesmo nos tempos de Steve Jobs, mas que, nos últimos anos, estava entre os comandantes da Tesla. Agora, ocupa o curioso cargo de vice-presidente de Projetos Especiais.

Tudo isto posto, a turma da Apple tem alguns problemas. O primeiro, que Elon Musk está descobrindo na Tesla, é que fabricar carros em volume não tem nada de trivial. Isto é algo que a indústria tradicional domina e não se ganha estalando os dedos. Não foi à toa que a turma do Google decidiu, em tendo desenvolvido a tecnologia, se tornar uma fornecedora de software para o setor automotivo.O segundo é o relógio. O software do Google está praticamente pronto. Nissan e Toyota prometem carros autônomos seguros, nas ruas de Tóquio, já nos Jogos Olímpicos. Tem muita gente bastante à frente.

Em que estarão trabalhando os 5 mil engenheiros menos 190? 

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