'É o fim da rejeição'; diz criador do Tinder

Justin Mateen, cofundador do app de paquera mais famoso do momento, fala ao Link sobre sucesso no Brasil

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Por Ligia Aguilhar
Atualização:

Em entrevista ao Link, Justin Mateen, cofundador do app de paquera mais famoso do momento, fala sobre o sucesso do app no Brasil e os planos para o futuro

 

SÃO PAULO – Justin, de 27 anos, provavelmente não tem muitos amigos em comum com você no Facebook, mas talvez tenha ao menos um interesse similar: ele também está no Tinder. É assim, mostrando apenas o primeiro nome, idade, quantidade de amigos em comum no Facebook e alguns gostos pessoais semelhantes aos de outra pessoa, que o Tinder, um novo aplicativo de paquera lançado há pouco mais de um ano, está conectando milhares de pessoas pelo mundo e no Brasil, atualmente o terceiro país com mais usuários na plataforma.

 

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O perfil acima é de Justin Mateen, que ao lado do amigo Sean Rad criou o aplicativo no ano passado como uma forma de conhecer novas pessoas. Ele acaba de colocar o seu perfil de volta no Tinder: seu namoro com uma conhecida de quem se aproximou pelo app acabou recentemente. Mas seu sócio Rad segue firme em um relacionamento com uma garota que, garante, também conheceu pelo sistema que ajudou a desenvolver.

Um dos motivos para o sucesso do Tinder é a facilidade de uso: basta ter uma conta no Facebook para entrar no app. Com base em suas fotos de perfil e dados básicos, o app cria uma conta. Depois, é necessário selecionar o gênero (masculino ou feminino), idade e até qual distância (pode chegar a 100 quilômetros) o futuro pretendente pode estar. A partir daí é só olhar o perfil dos candidatos selecionados pelo sistema do aplicativo e apertar o coração (ou deslizar a foto para a direita) para registrar o interesse pelo perfil ou clicar no xis (ou puxar a foto para a esquerda) para recusar os que não agradam. Se houver interesse mútuo, os dois usuários são notificados e uma tela de bate papo ficará disponível para os dois se conhecerem melhor.

 

Ao acabar com a rejeição na internet, permitir que só duas pessoas realmente interessadas uma na outra possam conversar, e eliminar o preenchimento de longos formulários, o Tinder se alastrou pelos smartphones do mundo. Embora não revele o número de usuários, o app já tem indicadores expressivos: são 4 milhões de novos matches (como são chamados os casos em que dois usuários têm interesse mútuo) e 350 milhões de avaliações de perfis por dia. Cada usuário acessa o app, em média, 11 vezes por dia e permanece nele por sete minutos a cada vez. Cerca de 55% dos usuários têm até 24 anos, 32,4% têm entre 25 e 34 anos, 6 % têm entre 35 e 44 anos e 1,75% estão acima dos 45 anos.O restante da base é formada por perfis de jovens entre 13 e 17 anos.

O Brasilé o terceiro maior país em número de usuários do Tinder (8%) atrás do Reino Unido, mas, segundo Mateen, caminha para se tornar o segundo em breve, atrás dos Estados Unidos (15%). O Link conversou com Mateen para saber mais sobre o aplicativo:

Como você criou o conceito do Tinder? O Tinder é mais uma plataforma de descoberta social. Eu e meu sócio tivemos alguns negócios juntos e no ano passado criamos o Tinder. Todo mundo pensa: qual será a próxima fase do social na internet? Nós acreditamos que mais do que focar nas pessoas que você já conhece, nós todos estamos interessados em conhecer novas pessoas de uma forma muito eficiente.Muitos, incluindo eu, estão usando o Instagram para isso etrocando telefones nas fotos,o que não funciona. Então, criamos o Tinder, algo muito simples e exatamente como a vida real. Quando você vai a um café, a primeira coisa que nota sobre outra pessoa é a aparência física. Se você se engajar na conversa, vai olhar para outras coisas como amigos em comum, interesses parecidos e coisas que estabelecem a confiança. E é exatamente isso que você encontra no Tinder. Agora, estamos focando em namoro, mas no longo prazo seremos a plataforma onde você vai para encontrar novas pessoas. Então, mesmo casado você poderá usar o Tinder para conhecer novos amigos. Você sabe como nosso algoritmo funciona?

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Não. Você pode explicar?Quando você faz o login, nós extraímos o seu gráfico social no Facebook e recomendamos pessoas com as quais acreditamos que você queira se conectar, com base no número de amigos em comum que vocês têm, interesses mútuos, número total de amigos e lugares onde você esteve. Usamos tudo isso para identificar que tipo de pessoa você vai gostar e, acima disso, baseados no seu comportamento no Tinder, em quem você gosta, nós sugerimos novos perfis. À medida que você usa o Tinder, as recomendações ficam cada vez melhores.

Em quanto tempo a plataforma deve mudar e deixar de se só um app de namoro? Ainda não posso revelar muitos detalhes, mas aos poucos a plataforma vai evoluir para esse aspecto de conhecer novas pessoas. Por exemplo, futuramente você poderá ver as pessoas que estão próximas a você em um restaurante.

Vocês vão competir com outras redes sociais como Facebook e Foursquare?Nós não vamos competir com outras redes, o Tinder é algo único. Nosso valor é conhecer outras pessoas, não há outras plataformas que fazem isso.

Há também um plano de usar o Tinder para encontros profissionais… Será algo que eventualmente poderemos desenvolver. Não será no futuro próximo. Será algo muito similar ao Tinder, mas será um produto diferente. A informação será apresentada de forma diferente.

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Você esperava esse sucesso quando criou o Tinder? Quão importante é o Brasil para o app hoje? Nos sempre soubemos que o Brasil seria um grande mercado para nós. Se olhar o número de usuários do Facebook por país, o Brasil tem uma grande porcentagem. Hoje, os cinco países com maior número de usuários no Tinder são EUA, Reino Unido, Brasil, Canadá e Austrália. E em breve o Brasil se tornará o segundo maior mercado.  Culturalmente o Tinder funciona no Brasil. Acredito que todo mundo está interessado em conhecer novas pessoas. No passado, outras redes sociais já conectavam as pessoas a outras que elas já conheciam, mas o diferencial do Tinder é conectá-las a quem elas ainda querem conhecer.

Quando o Tinder começou a fazer sucesso no Brasil, houve dúvidas se ele seria inspirado no Grindr ou se teria finalidade sexual como o antigo “Bang with Friends”. Com qual objetivo, afinal, vocês criaram o app? O Tinder nunca foi um aplicativo com foco em sexo e nunca será. O Tinder é um aplicativo para conhecer novas pessoas e tudo que nós fazemos é facilitar o contato entre dois lados que querem se conhecer. Depois disso, as pessoas podem fazer o que quiser. Vivemos em um mundo cheio, estamos constantemente viajando, trabalhando… não temos tempo para conhecer novas pessoas. Mas nós todos temos telefones, que hoje são extensões de quem nós somos, então, que outra maneira melhor haveria de conhecer pessoas se não pelo telefone? Não tem nada a ver com o Grindr. É algo totalmente novo. O Grindr é como um mercado de carne. Nós somos diferentes, só permitimos que duas pessoas que tenham real interesse em se conhecer entrem em contato. Acabamos com a rejeição.

Qual o impacto de aplicativos com o Tinder para a maneira como nos relacionamos na vida real? Você não pode parar as mudanças, você tem que abraçá-las. O fato das pessoas usarem cada vez mais o smartphone não é algo contra o qual você tem que lutar porque no fim do dia um produto como o Tinder te leva de volta para a vida real. Se você vai usar o seu telefone, que ele seja usado de forma positiva, para te ajudar a conhecer novas pessoas com as quais você vai se engajar. Acho que é algo muito bonito o que estamos fazendo, acho que estamos tornando o mundo melhor, porque as pessoas não precisam mais ir para o bar e ficar bêbadas para ter coragem de se aproximar de alguém. Elas podem se conhecer melhor antes de algo realmente acontecer. Já soube de uns 100 casamentos de pessoas que se conheceram pelo Tinder.

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Plataformas como o Tinder deixam os relacionamentos mais superficiais? Eu diria que o Tinder é muito honesto e imita a interação humana. Começa com a atração pela aparência física, depois você observa quem são os amigos dela e, por fim, os interesses que essa pessoa tem. No começo as pessoas não entendem direito o Tinder e levam na brincadeira. Depois, encontram relações mais significativas e levam a sério.

Vocês já decidiram o modelo de negócios que vão adotar?Nós nos tornamos uma grande empresa, temos 26 funcionários, levantamos muito dinheiro. Agora estamos focando no crescimento da base de usuários e na evolução do produto. Quando chegar a hora certa, e não será em pouco tempo, vamos começar a cobrar de nossos usuários, mas de uma forma que os deixem satisfeitos e melhore a experiência. A receita não virá pelo modelo de publicidade, mas talvez pela compra de itens dentro do aplicativo.

Seus funcionários também usam o Tinder?Todo mundo na empresa pode usar o Tinder, mas não dentro do escritório. No começo nós usávamos o app o dia inteiro e tivemos que criar uma regra para eles usarem apenas para testes.

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