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Opinião|E volta a briga Apple x Microsoft

Rivalidade entre os anos 1970 e 90 de Bill Gates e Steve Jobs resumiu duas visões do que poderia ser computação pessoal e polarizou a indústria digital pré-internet

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A briga entre Microsoft e Apple é antiga Foto: Mark Lennihan / AP

É tudo muito inseguro, ainda. Mas faz uma semana que a Microsoft, em alguns momentos do dia, tem ultrapassado a Apple em valor de mercado. Na quarta-feira, quando a Bolsa encerrou suas operações, a empresa fundada por Bill Gates estava em primeiro. A Apple tem força e pode ainda reassumir a cadeira de líder. Ainda assim, a virada aponta para duas histórias importantes. A primeira, o início de uma crise no Vale do Silício. E, a segunda, a história da reinvenção de uma empresa.

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A briga entre Microsoft e Apple é antiga. A rivalidade entre os anos 1970 e 90 de Bill Gates e Steve Jobs resumiu duas visões do que poderia ser computação pessoal e polarizou a indústria digital pré-internet. Se o final do século 20 foi dominado pela Microsoft, isto mudou. 2002 foi o último ano em que ela se viu ocupando a marca de maior companhia listada em Wall Street. Foi substituída por uma briga entre General Electric e Exxon Mobil até que a valorização das empresas digitais, com o advento dos smartphones e redes sociais, lançou a Apple para a liderança em 2012 — de onde nunca mais balançou. Até agora.

A Apple tem dois problemas. Um é sazonal. O iPhone XR, modelo mais barato dentre os lançados este ano, vende abaixo das expectativas. No Japão, a empresa optou por diminuir seu preço. Em outros mercados, trouxe de volta o iPhone X. Tenta tranquilizar os investidores: apesar das dificuldades, o XR continua vendendo mais do que os modelos mais caros, XS e XS Max.

O segundo problema não é risco para hoje, mas é ameaça no futuro. A Suprema Corte dos EUA avalia se julgará um processo no qual um grupo de consumidores questiona a App Store, loja de aplicativos de iPhones e iPads. Seu argumento é de que não há concorrência — ou compra ali, ou em nenhum outro canto. E ao impor aos desenvolvedores um corte de 30% de todo app vendido, a Apple se aproveita do monopólio para inflacionar preços.

Os advogados da Apple sequer entram no mérito. Eles lembram aos juízes que, de acordo com sua própria jurisprudência, apenas quem tem seu negócio diretamente impactado por uma prática comercial pode entrar com processo antitruste. Desta forma, os consumidores não podem ser ouvidos. Mas alguns ministros, nas audiências preliminares, se questionam se os tempos digitais não os obrigam a rever normas antigas.

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Se a Corte ouvir o caso, julgará no ano que vem. Se decidir que a App Store é um monopólio, abala o modelo de negócios da Apple. E, se decidir ouvir o caso, abre também outro flanco que ameaça Google, Facebook e Amazon. Todas poderão ser acusadas de monopolistas por consumidores. A pressão regulatória que já existe no Poder Legislativo nos EUA e Europa chegará ao Judiciário americano.

Pois o motivo de ser a Microsoft e não Google, Facebook e Amazon a ameaçar a liderança no mercado é justamente este. As práticas de todas estas, e seu impacto na sociedade, começam a ser duramente questionadas em toda parte.

E, ora, a Microsoft que viu seu espaço diminuir com a internet, e fracassou ao emplacar uma família de smartphones, fez com o CEO Satya Nadella uma aposta: voltou-se para o mercado corporativo. Hoje, tem 13% do mercado de serviços em nuvem, é a segunda e quem mais cresce. A primeira, a Amazon, tem 33%. Ao apostar numa estratégia de software por assinatura, amarrou clientes corporativos lhes dando flexibilidade para aumentar ou diminuir quando querem o número de licenças de software, driblando a pirataria. Os próprios aplicativos do Office podem ser usados online, concorrendo com os do Google.

Não é um caminho que chame atenção do consumidor, pois não é ele o público alvo da Microsoft. E, por isso mesmo, não é vista como ameaça.

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