Entre boatos e a verdade

Nas redes, é fácil espalhar falsidades. E desmenti-las também

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Por Redação Link
Atualização:

/Nick Bilton (The New York Times)

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Todo mundo mente. Crianças mentem, dizendo que escovaram os dentes, quando não escovaram. Políticos faltam com a verdade no calor de campanhas eleitorais. Sabe-se de repórteres que foram pegos mentindo, e também de autores de livros best-sellers, empresas, maridos e esposas, e, claro, governantes. E também de muitas pessoas no Twitter.

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Tem-se a impressão de que nas redes sociais a mentira se tornou tão comum quanto a verdade. Notícias inventadas e fotos falsas se espalharam pelo Twitter quando o furacão Sandy atingiu os EUA, e muita propaganda enganosa circulou pela rede durante a campanha presidencial.

Mas será que isso é motivo para preocupação? Não creio. O Twitter tem, à sua maneira, seu mecanismo de autocorreção.

David Livingstone Smith, professor de filosofia da Universidade de New England e autor do livro Why We Lie (Por que Mentimos, ed. Elsevier), diz que recursos online como o Twitter e o Facebook contribuem para que a verdade seja estabelecida mais rapidamente do que nunca.

“Antes, levava muito tempo para que confirmações e desmentidos fossem checados”, explica. Agora, assim como a informação se dissemina com velocidade, erros e inexatidões são corrigidos mais agilmente. Também é mais simples fazer que as pessoas se responsabilizem por seus atos, já que é possível ligar o registro digital à pessoa que divulgou informação falsa conforme ela se espalha.

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A mudança se deu com as mentiras escancaradas. “Na mídia eletrônica, mentir deixou de ser uma falta tão grave. Parece que atualmente temos uma relação menos austera com a verdade”, diz Smith. “Já não há uma distinção nítida entre realidade e fantasia, porque a mídia social embaralhou de tal maneira a separação entre notícia e entretenimento que essa clara e importante diferença se perdeu.”

Por conta disso, acrescenta Smith, aqueles que procuram a verdade online — frequentemente jornalistas — fazem o que sempre fizeram offline: usam seu “senso básico de responsabilidade moral” para se certificar de que estão dizendo a verdade às pessoas.

Isso aconteceu durante a tempestade Sandy, quando o site BuzzFeed denunciou um usuário do Twitter que estava deliberadamente espalhando mentiras irresponsáveis sobre incêndios em hospitais e inundações. (O sujeito se desculpou e desde então não deu mais notícias.) No site da revista Atlantic, o editor Alexis C. Madrigal criou um blog que examinava imagens da tempestade, determinando quais eram verdadeiras e quais haviam sido extraídas de filmes de catástrofe, como O Dia Depois de Amanhã. Uma página do Tumblr chamada “O Twitter está errado?” coletava e verificava imagens e mensagens da rede social.

Mas a pergunta que muitas pessoas continuam fazendo é: não seria responsabilidade do Twitter garantir que as coisas que circulam pela rede não sejam falsas? A resposta curta e simples é: não.

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Mesmo que a empresa pudesse monitorar todos os posts — quase um bilhão a cada dois dias — por acaso é obrigação do Twitter decifrar o que é verdadeiro e o que não é? Ninguém espera que as livrarias e bibliotecas verifiquem cada palavra impressa nos livros expostos em suas seções de não-ficção.

O Twitter poderia oferecer ferramentas melhores para que as pessoas identificassem as invencionices. Alexis Madrigal, por exemplo, usou o mecanismo de busca de imagens do Google para descobrir a origem das fotos, recorrendo a algoritmos para facilitar o processo de verificação. “A única maneira de fazer frente a essas inverdades é reagir com os mesmos instrumentos de que elas fazem uso”, diz.

O Twitter também poderia dar uma mão às pessoas que compartilham acidentalmente informações falsas, oferecendo-lhes a possibilidade de editar as mensagens ou marcá-las como incorretas. Atualmente, avisar aos demais usuários que uma mensagem anterior continha um erro é como fazer propaganda de restaurante e então voltar algumas horas depois, quando as mesas já estão todas ocupadas por outros fregueses, para dizer que não era isso que devia ser dito. Uma estratégia, no mínimo, ineficaz.

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Como diz Smith, há diversas ocasiões em que é perfeitamente admissível mentir. É o caso, por exemplo, da situação em que a pessoa diz para o chefe sem graça que ele é engraçado ou quando elogia a roupa horrível do marido ou da esposa. “Mas também há muitos exageros e enganações perigosas”, acrescenta. “E isso é algo que todos nós temos a obrigação de tentar prevenir.”

/Tradução de Alexandre Hubner

—-Leia mais:Link no papel – 12/11/2012

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